A citação é do Papa Francisco: “Quando sonhas abres as portas e as janelas”. A mensagem foi transmitida na Jornada Mundial da Juventude perante mais de um milhão e meio de pessoas. E aplica-se a todos. 

Foi perante milhares de jovens que o Papa transmitiu mensagens duras e claras sobre o mundo em que vivemos. E, de forma mais intensa ou menos explicita, os vários assuntos que preocupam a sociedade atual foram abordados por Francisco.

Numa Jornada dedicada aos jovens, o Papa esteve atento também à inclusão, às periferias, à exclusão das mulheres.

E no nosso país a maioria dos católicos são mulheres. Tal como alerta Marcel Gauchet, um dos mais proeminentes pensadores franceses da atualidade, “se continuar a ignorar a incontornabilidade do papel da mulher na Igreja e na sociedade, a Igreja Mater e Magistra tenderá a tornar-se num resto, uma mera questão de liturgia ou fé, destinada à invisibilidade do espaço privado”.

E, foi nesse sentido, que Francisco pediu maior reconhecimento e promoção da dignidade batismal das mulheres e maior participação na governação, na tomada de decisões, na missão e nos ministérios a todos os níveis da Igreja.

Com esse desígnio não deve ser colocada de parte a necessidade da realização de uma Jornada Mundial da Mulher, um reforço da evangelização do mundo feminino. A Igreja sem o seu núcleo duro dificilmente sobrevive.

O Papa Francisco diz-nos também que “não devemos ter medo de nos sentir inquietos. E até cita José Saramago com uma mensagem de ambição, sonhos, perseverança. Uma referência ao Nobel da Literatura que não foi apenas um dos maiores autores portugueses, repetidamente distinguido internacionalmente, mas também aquele cuja obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” foi vetada pelo governo de Cavaco Silva em 1992, para o Prémio Literário Europeu.

Mas Francisco vai mais longe e deixa o alerta para que “desconfiemos das fórmulas pré-fabricadas, das respostas que nos parecem ao alcance da mão, extraídas da manga como se fossem cartas viciadas de jogar; desconfiemos das propostas que parecem dar tudo sem pedir nada”. E deixou um apelo claro “à luta climática e à integração”, face a “uma extrema-direita xenófoba e negacionista que instrumentaliza a fé”.

Portugal é um país tradicional e maioritariamente católico. A separação entre Igreja e Estado existe, segundo o artº 41º da Constituição da República Portuguesa, para garantir que ninguém é discriminado por causa da sua crença religiosa e não para fingir que o país não é maioritariamente cristão.

Sabemos que dificilmente a igreja pode ser encarada como progressista. Não nos podemos esquecer que é contra o direito de a mulher interromper voluntariamente a gravidez e o casamento entre homossexuais, tal como é contra o divórcio, salvo raras exceções.

Mas é no discurso deste Papa, declaradamente defensor dos mais desprotegidos e com uma visão socialista no que diz respeito à vida económica, que podemos encontrar a mudança. E dar resposta às dúvidas e injustiças que nos assolam.

Muitos jovens olham para a Igreja como incapaz de dar essa resposta. E eles querem respostas concretas aos seus problemas. Respostas para além do espaço virtual, das redes sociais.

A JMJ foi um êxito! Mas não pode ser pretexto triunfalista para deixar de reformar uma instituição que pretende ser de todos e para todos.

Para ser farol dos Cristãos é fundamental aprender a escutar. Seguindo os passos de Francisco é este o caminho para uma Igreja aberta, próxima e casa para todos. Mesmo para todos!

A mobilização de centenas de milhares de jovens e não jovens foi um ato de Fé e de confiança na figura deste Papa – mais do que na instituição – como símbolo de mudança.  Qualquer mudança estrutural leva tempo. No caso de verdades intemporais, as mudanças têm o seu tempo próprio. Em nome do futuro, aguardemos.

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