Fernando Videira, 66 anos, sofre de diversos problemas de saúde. Há dois meses esteve internado no Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), enviado por um clínico do Centro de Saúde da Castanheira, devido a feridas nos pés que não saravam, com a pele a abrir. Para piorar a situação acabou por durante o internamento naquele hospital sofrer uma fratura do colo do fémur esquerdo. No final de julho, teve alta com indicação escrita por parte do clínico do HVFX para que os pensos fossem realizados no domicílio de Fernando Videira devido às suas dificuldades de locomoção. A família foi confrontada pelas enfermeiras do centro de saúde da Castanheira do Ribatejo com a recusa das mesmas em fazer o penso. Na passada segunda feira, dia 4 de setembro, Fernando Videira, voltou ao hospital mas para ser amputado de uma perna. Neste processo, Lurdes Videira, a esposa, culpa as enfermeiras da unidade de saúde da Castanheira que não quiseram tratar o marido. Segundo o que o nosso jornal apurou numa informação escrita enviada pela família às entidades da saúde, numa das vezes, as enfermeiras até terão dito que “não tinham nada a ver com o assunto”, pese embora o relatório clínico do médico do hospital dizer que o penso deveria ser realizado em casa do doente.
Lurdes Videira refere à nossa reportagem que o que lhe valeu foi a colaboração de uma funcionária da farmácia local da Castanheira. Aos poucos também foi aprendendo a fazer o penso, mas acredita que se o marido tivesse sido devidamente seguido pelas enfermeiras do centro de saúde, Fernando Videira não teria de se submeter à amputação da perna. Até porque, segundo a esposa, durante a estadia de cerca de quatro semanas no hospital “as feridas sararam”. “Veio para casa apenas com uma feridinha muito pequena”, ilustra para demonstrar o que considera ser um caso de negligência do centro de saúde. Com a perna partida, teriam mesmo de ser as enfermeiras a deslocarem-se a sua casa. Inicialmente alegaram que Fernando Videira tinha o cartão de cidadão caducado para não intervirem. Após a família ter regularizado o documento, o modo de atuação do centro de saúde não se alterou. Lurdes Videira conta ainda que contactou a Saúde 24 que por sua vez insistiu também na necessidade de as enfermeiras se deslocarem a casa do doente, mas também aqui os esforços foram infrutíferos. “Disseram que a Saúde 24 ali não mandava nada, foi a resposta delas”, confessa Lurdes Videira.
“Nunca percebi a recusa delas. Sendo profissionais e se tivessem vindo cá a casa quando a ferida ainda estava muito pequena tinham conseguido evitar a amputação. Tive de ser eu a fazer o penso ao meu marido, a recorrer à farmácia e quando já não havia muito a fazer a pagar a uma enfermeira. A dada altura as feridas alastraram de uma maneira que nunca julguei que pudesse acontecer. O meu marido começou depois a ter delírios e a perna a gangrenar”, relata.
Segundo Pedro Gago da Comissão de Utentes de Castanheira/Cachoeiras, ao Valor Local, são vários os casos de utentes do centro de saúde aos quais lhes é recusado o penso por parte das enfermeiras. Nestas situações tem sido a farmácia local a colaborar. É nos dito ainda por Pedro Gago que por vezes é uma empregada da limpeza do centro de saúde que ajuda os utentes a fazerem o penso.
Numa resposta enviada ao Valor Local, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT) informa que está em curso “um processo de averiguação que permitirá aferir detalhadamente toda esta dinâmica assente na missão de uma prestação de cuidados de saúde adequados à situação clínica do utente.”
A ARS-LVT vai proceder ainda à investigação que diz respeito ao facto de nos ter sido relatado que a empregada de limpeza do centro de saúde ajuda a fazer os pensos. “Informa-se ainda que a prestação de cuidados a utentes está devidamente regulamentada e é exclusivamente realizada por profissionais de saúde credenciados para o efeito, pelo que, e no que respeita à denúncia da última questão que coloca, está em curso um processo de averiguação à situação relatada.”
Acrescenta a ARS-LVT que o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Estuário do Tejo tem conhecimento do caso relatado porquanto se trata de um utente com equipa de saúde atribuída que tem acompanhado quer os seus cuidadores quer a situação clínica do utente. “O historial clínico do utente é longo e os profissionais de saúde da equipa multidisciplinar que o acompanha realizaram um total de 20 atos de prestação de cuidados de saúde ao utente, no período compreendido entre os meses de fevereiro e agosto do corrente ano.”