Numa altura em que Portugal se depara com o agravamento da situação de seca hidrológica no país provocada pelas alterações climáticas, importa cada vez mais dar prioridade ao tema da eficiência hídrica nos sistemas de abastecimento de água.
Ao longo dos anos, a rede pública de abastecimento tem sido alargada chegando nos dias de hoje a 97% dos alojamentos do nosso país. No entanto, a facilidade no acesso à água não pode ser um dado adquirido, uma vez que, com o efeito das alterações climáticas, o território português está a percorrer uma trajetória de aquecimento e de redução de precipitação, dois fatores que em conjunto resultam em períodos de secas mais frequentes e de maior duração.
Segundo o último RASARP 2023, suportado em dados de 2022, continuamos a ter entidades gestoras com um nível de perdas acima dos 60%, em detrimento de outras que se encontram no limiar dos 10%, sendo a média nacional dos últimos anos de cerca de 30%. No ano de 2022 foi atingindo o valor mais baixo dos últimos 5 anos com perdas de 27,1%. Para que tenhamos uma ideia mais clara, Portugal perde anualmente mais de 184 Milhões de metros cúbicos de água, sendo que existem 39 entidades com perdas superiores a 50% e 15 entidades onde nem é apurado o valor das perdas.
Continuamos a desperdiçar milhões de litros de água através de roturas nas redes (perdas reais representam 2/3 das perdas totais), tendo o indicador de investimento na reabilitação de condutas apresentado o pior resultado dos últimos anos. Também as perdas aparentes (representam 1/3 das perdas totais), nomeadamente os processos de faturação, devem ser revistos pelas entidades gestoras em baixa por forma a reduzir o valor das perdas totais.
No que diz respeito à entidade gestora Águas da Azambuja, tem sido feito um trabalho notável na redução de perdas de água. Através do investimento na substituição de redes de água, da implementação de tecnologias para uma melhor monitorização do sistema de água, do levantamento cadastral dos sistemas de abastecimento, das campanhas de substituição de contadores e das campanhas de deteção de fugas permanentes é possível ter valores de perdas de água na ordem dos 21%, muito abaixo da média nacional. Mas queremos fazer ainda mais e a curto prazo baixar o valor das perdas de água para valores inferiores a 20%.
A sustentabilidade do setor, apenas poderá ser assegurada se cada entidade gestora assumir a responsabilidade de resolver o problema da eficiência hídrica. O caminho a ser feito é longo e árduo, não sendo exequível em muitas entidades gestoras sem o apoio de outras entidades públicas e privadas, onde especificamente com o apoio de entidades privadas temos tido resultados bastante bons na resolução das perdas de água. Temos de alterar este paradigma do público/privado neste setor para todos em conjunto, resolvermos o problema que se mantém estagnado há décadas.
Não colocando em causa os grandes investimentos a ser realizados como novas barragens ou sistemas de dessalinização, que permitem um aumento global do volume de água a colocar nas redes de abastecimento, a verdade é que enquanto não houver um investimento claro na renovação das redes, o problema irá manter-se, perdendo as entidades gestoras cada vez mais água.
Com o aproximar do Dia Mundial da Água, que se assinala no próximo 22 de março, é inevitável suscitar a reflexão sobre os assuntos abordados neste artigo, destacando de uma forma geral que a valorização da água, o foco, o know how, a informação, a inovação e os recursos disponíveis são denominadores extremamente importantes neste processo geral de melhoria continua para o desenvolvimento sustentável do setor.