Pode tornar-se tão importante como Vila Nova de São Pedro, Azambuja, ou Ota no concelho de Alenquer
Arruda dos Vinhos pode tornar-se ponto de paragem obrigatório na rota dos povoados históricos do Calcolítico. Um pouco à semelhança do que já acontece em Vila Nova de São Pedro, Azambuja, através do seu Castro, ou mesmo o Castro do Zambujal em Torres Vedras, datados de há cinco mil anos atrás, o equivalente à Idade do Cobre. A Câmara Municipal de Arruda promoveu, no dia 13 de janeiro, uma apresentação pública na coletividade de Arranhó, onde deu a conhecer os resultados das escavações no Forte do Paço e Moinho do Custódio, (este último sítio ainda não tinha sido explorado antes de 2010) com resultados que estão a animar a comunidade científica.
André Texugo, da equipa de arqueólogos composta, entre outros, por Ana Catarina Sousa (ambos do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa) e Jorge Lopes, arqueólogo municipal, refere ao Valor Local que com recurso a tecnologia de ponta, como drones e o LIDAR – “Light detection and raging”, a denominada “luz fantástica” foi possível observar vestígios da ocupação do solo naqueles locais, apesar de vastamente cobertos por carrasco e outra vegetação, que vão ao encontro da existência de estruturas arqueológicas do Calcolítico em ambos os locais descritos; “mas também romanas embora ainda sem certezas absolutas” no Forte do Paço- Obra Militar nº 12 das Linhas de Torres. Estão presentes ainda marcas da passagem das invasões napoleónicas neste local. Em ambos os locais foram detetadas formas de construção que remetem para estruturas muradas calcolíticas.
Os arqueólogos envolvidos estão entusiasmados dado que as descobertas, sobretudo no Moinho do Custódio, abrem novas perspetivas sobre a ocupação de um cabeço de forma organizada e contemporânea dos dois castros de Torres Vedras e Vila Nova de São Pedro, e mais recentemente a Serra de Ota onde foi descoberto, em 2020, um dos maiores muros defensivos do Calcolítico, bem como o sítio da Pedra de Ouro também no concelho de Alenquer. “Trata-se de um novo cluster de sítios ainda muito pouco explorado. A Ota tem uma forte ligação com o Castro de Vila Nova de São Pedro até porque são vizinhos. Já o Forte do Paço e o Moinho do Custódio ficam num enclave e sem a mesma ligação com os demais. Contudo, trata-se de um novo povoado, mas partilham os mesmos costumes, e as mesmas formas de vida dos demais povos da mesma época”. São dados, segundo André Texugo, esperados, mas agora consolidados, e sobretudo porque se intensificou a escavação arqueológica no Moinho do Paço. Já não era descoberto um sítio arqueológico desde os anos 80, dá conta. Um dos objetos que a equipa evidencia prende-se com um anel de coralina que resultou destas escavações datado do período romano na Península Ibérica (218 a 201 a.c)
No âmbito daquilo que é o conhecimento do homem antigo através das várias civilizações que habitaram a Estremadura a preponderância de sítios como Azambuja (Castro de Vila Nova de São Pedro), Torres Vedras (Castro do Zambujal), Oeiras (Povoado pré-histórico de Leceia) e Mafra (Penedo do Lexim) “é de tal forma preponderante que tem ofuscado os demais”, consubstancia André Texugo, adiantando que “há outros locais com uma história das primeiras civilizações sedentárias, e com uma biografia” como é o caso agora em Arranhó. Abre-se agora o leque de outras possíveis evidências de estudo sobre os lugares pré-históricos, para além dos quatro locais assinalados. “Todos estes sítios com cinco mil anos têm histórias e estratégias diversificadas”. As diferentes comunidades daqueles locais também se conectavam entre si e disso mesmo já deu conta o arqueólogo numa reportagem realizada na Serra de Ota pelo nosso jornal em 2020. “Conseguimos saber isso muitas vezes através da expressão artística, na mesma arquitetura, na cerâmica, na forma de ocupação dos sítios. É nítido que partilhavam ideias”.
Carlos Alves, vice-presidente da Câmara, que já renovou o prolongamento das escavações para mais uma campanha realça a importância que este sítio possa vir a desempenhar, adiantando que está a ser desenvolvida sinalética e alguma cartografia com o registo em imagem daquilo que “ainda não estava feito”. “Temos ainda um caminho a percorrer neste estudo e com muito interesse porque a própria população acorreu em número muito significativo e com sentido de dar muita relevância ao que tínhamos para mostrar, porque estas questões também mexem com a autoestima local, dado temos ali um património que urge ser valorizado”.