Gurpreet Singh é um imigrante indiano que está em Portugal há dez anos. Veio para a Beira Baixa, onde trabalhou num hotel, e depois seguiu rumo a Lisboa. Chegou a trabalhar nas obras, até conseguir juntar algum dinheiro e abrir uma mercearia. Nos últimos anos instalou-se em Azambuja, onde trabalha na logística. É nesta vila ribatejana que pretende continuar a viver. A esposa veio para Portugal nos últimos anos. Ficaram para trás os sonhos de viver da Arte na Índia. A mulher tirou um curso de Economia, mas em Portugal trabalha nas limpezas. O salário que aufere na Sonae é razoável, mas face às rendas praticadas na vila de Azambuja, pouco sobra.
Gurpreet conta que, nos primeiros tempos em Portugal, quase não sentia racismo. Agora, quando vai a Lisboa, principalmente na zona do Parque das Nações, “já são muitos os que olham de lado, principalmente os mais jovens”. Em Azambuja, garante, “isso não acontece”. A explosão demográfica e os quase dois milhões de imigrantes fazem deste um tema de grande complexidade e de muitas camadas.
Hoje, na casa dos 30, Gurpreet Singh orgulha-se de ser um exemplo de integração. Domina muito bem o português, ao ponto de ser um dos principais intermediários entre as chefias da Sonae e os seus compatriotas que ainda não falam a língua. São já muitos os cidadãos provenientes do subcontinente indiano que trabalham nos armazéns da empresa. Em Punjab, a sua terra natal, já em 2016, ano em que veio para Portugal depois de ter passado pela França, as oportunidades de emprego eram escassas.
Gurpreet lamenta que o surgimento de partidos como o Chega tenha trazido ideias mais prejudiciais aos imigrantes. “Por exemplo, eles falam que usufruímos de subsídios, mas até hoje nunca tive nenhum. Se queria ganhar dinheiro, tinha de trabalhar. Foi o que sempre fiz neste país.” E exemplifica: “A maioria dos contratos de emprego são tão curtos, com vínculos de escassos meses, que não dá para ter acesso ao subsídio de desemprego.”
“Dizem que Portugal é dos portugueses, mas claro que é dos portugueses, haveria de ser de quem?”, desabafa ainda. Contudo, compreende a desilusão de muitos portugueses com o estado de coisas, quando vê que alguns dos seus compatriotas ou vizinhos de outros países não fazem por aprender a língua. Outra realidade que entende, mas à qual nunca quis pertencer, é a da sobrelotação das casas. “Torna-se complicado gerir esses cenários, porque são muitos homens numa casa ou num quarto, e isso assusta as pessoas. Não se pode andar a fazer festas aqui e ali com dez ou onze homens, porque assim as pessoas vão fugir e ter medo.”
No seu caso, procurou sempre evitar esses contextos. “O meu objetivo foi sempre o de trazer a minha mulher. Como é que o podia fazer se estivesse a viver com mais homens?”. Acredita que a maioria não traz as esposas quando vem para Portugal porque não sabe que condições vai encontrar.
Quando o questionamos se gostaria de ter nacionalidade portuguesa, suspira e admite que o processo é demorado. “Já fiz o pedido, mas está muito atrasado. Fico indignado quando dão a nacionalidade às pessoas dos vistos Gold, quando também estamos a contribuir para este país. Trabalho aqui, pago os impostos e todas as despesas.”
Gostava de continuar a viver em Portugal mas o sentimento contra a imigração é cada vez mais “chato”
Ainda não conseguiu seguir os seus sonhos em Portugal, como constituir família ou comprar casa. Trabalha quase todos os dias. Na Sonae diz com orgulho que se sente “uma das pessoas de confiança” das chefias. Em Portugal, Gurpreet gostava de continuar a viver, mas confessa que agora o ambiente em torno da imigração “anda um bocado chato”. O reagrupamento familiar considera-o essencial para a integração. Diz-se amante da vila de Sintra e já visitou muitos lugares. Se vai ficar ou não, só o futuro o dirá.
Segundo dados oficiais, Portugal registava em dezembro de 2024 cerca de 1,54 milhões de cidadãos estrangeiros com autorização de residência legal. Os naturais da Índia são uma das comunidades que mais tem crescido no país, sendo já a quarta mais numerosa. Na região da Lezíria do Tejo, o concelho de Azambuja destaca-se por ter perto de oito por cento da sua população composta por imigrantes, sobretudo trabalhadores ligados à logística e à agricultura.








