A Escola Pública tem funcionado em Portugal, desde sempre, como o melhor instrumento para formar os jovens sobretudo os que são oriundos de famílias com menores rendimentos. Recordo-me sempre das histórias que os meus pais contavam dos meninos descalços a caminho da escola primária em plena década de 40 do século XX. E isto não era em Trás-os-Montes ou nas Beiras, era por aqui, pelo norte rural do distrito de Lisboa Eram tempos muito difíceis, em plena 2ª Grande Guerra, com enormes carências a todos os níveis. Ainda assim a frequência da escola e a formação básica adquirida permitiu a muitos sonhar e criar condições para terem uma vida melhor que muitos seus progenitores, tendo ou não seguido para a frequência da Universidade.

Já no Portugal democrático e com a generalização da escolaridade obrigatória, cada vez mais alargada, a Escola Pública continuou a desempenhar o seu papel de elevador social e a permitir que milhares de jovens conseguissem ter melhores condições que os seus pais e consequentemente dar aos seus filhos melhores condições de vida do que eles próprio tinham beneficiado. Tem sido sempre assim ao longo dos anos com sucessivas gerações de jovens cada vez mais preparados e aptos para os desafios destes tempos tao desafiantes e exigentes. A Escola Pública tem sido reconhecidamente o maior promotor do desenvolvimento e o mais democrático instrumento para a sua promoção.

Vem esta conversa a propósito da recente abertura do novo ano letivo 2023/24 que começa muito mal com perto de 100 000 alunos sem terem todos os professores colocados e com o recomeço das greves dos professores. Depois de 2 anos letivos (20 e 21) com as aprendizagens muito condicionadas e prejudicadas pela pandemia, sempre com maiores perdas para os miúdos com menores recursos, com menos acesso a meios digitais e informáticos, com o último ano completamente sobrecarregado pelas greves dos diferentes sindicatos de professores e com este início de ano letivo a que estamos a assistir julgo que estamos a criar um caldo de cultura que compromete as aprendizagens de muitos milhares de miúdos que frequentam a Escola Pública.

Entretanto aqueles pais que têm essa possibilidade já matricularam os filhos no ensino privado ficando cada vez mais a Escola Pública para os miúdos mais pobres e filhos de pais de menores recursos. E a situação parece eternizar-se sem fim a vista e sem que o governo apresente qualquer resposta para este problema que pode comprometer irremediavelmente as aspirações e os sonhos de milhares de miúdos que frequentam estas escolas. É preciso que o governo faça o que tem de fazer e coloque ordem na casa sob pena do motor do elevador social gripar de vez, comprometendo as aspirações de toda uma geração !!

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