Nuno Henriques, vereador do PSD na Câmara de Alenquer, considera que o mandato de 2021-2025, que já vai na sua segunda metade, peca por falta de credibilidade e transparência. O autarca em entrevista à Rádio Valor Local é da opinião que o executivo socialista faz de tudo para evitar ser transparente. “Pensava que eram capazes de melhor”, aponta. Sem ligações anteriores ao concelho, certo é que o único eleito do PSD no órgão executivo tem dado nas vistas e trazido à colação temas que marcam o debate político no município. Ostracizado pela maior parte da concelhia laranja, acredita que ainda pode ser o candidato à Câmara, embora não coloque de parte a Assembleia Municipal, conforme deixa escapar nesta entrevista.
O caso Santos e Vale é um dos que o vereador da oposição considera que foi mal conduzido desde o início. À nossa pergunta se depois de facultada a informação neste tema como noutros, junto do município, se acaba por descobrir grandes escândalos, não tem dúvidas em referir que é o caso. Alguns deles diz que já enviou para o Ministério Público, mas não quis adiantar quais. Até ao momento é sabido que enviou o que se relaciona com as ausências de Pedro Folgado, presidente da Câmara, das reuniões do executivo, e a forma ilegal como é substituído. Em causa podem estar algumas decisões tomadas no âmbito daquele órgão sempre que o presidente se ausentou a serviço do município, sendo por lei proibida a sua substituição.
O vereador diz que esta é uma Câmara dominada pelo amiguismo, o clientelismo e a cunha, “e quase a corrupção”. Neste aspeto destaca a mudança de nome de várias dezenas de ruas, levada a cabo pela ex-vereadora Dora Pereira. Este “é um dos casos que está no Ministério Público”. Alguns desses novos nomes de ruas dizem respeito a pessoas do PS. “Isto é abuso de poder no mínimo”.
Outro caso salientado por si como grave diz respeito às garantias bancárias para uma urbanização na Merceana, “em que alguém na Câmara as trocou por lotes, até contra a opinião escrita dos serviços, sabendo que o fisco tem prioridade perante os mesmos”. Nessa urbanização “apenas uma ou duas casas estão legais, e o resto está ao abandono”. Depois temos “os ilícitos vários relacionados com os seguros dos bombeiros e outros assuntos que decorrem de há muitos anos”.
Já no caso do polémico dossier da Santos e Vale em que a empresa faz circular os seus camiões pela madrugada fora junto às habitações em Casais Novos, ultrapassado que está o incómodo na zona da Passinha, Nuno Miguel Henriques dá conta que está na hora de a Câmara avançar para a expropriação se não consegue chegar a acordo com o proprietário de uns terrenos adjacentes à empresa, com vista a uma espécie de via alternativa. O valor que esse proprietário pede é de 900 mil euros por meio quilómetro de terreno. O vereador considera que é tempo de fechar este tema, “porque em Cabanas de Chão, não tiveram pejo de avançar para a demolição de uma casa, à revelia dos proprietários e sem que tenham sido notificados. É mau termos voz altiva para quem não tem voz”.
Este mandato fica desde já pontuado por duas baixas de peso no executivo de Folgado. Quanto à saída de Rui Costa, antigo vice-presidente, “é estranha porque era o número dois”. Já a renúncia da vereadora Dora Pereira “que era uma espécie de bode expiatório dos muitos erros que a Câmara cometeu no urbanismo foi completamente fria”. “Venderam aquela equipa nos cartazes, mas uma boa parte dela já não está”. Por outro lado, “não devíamos ter tantos vereadores a tempo inteiro e foi dada essa permissão a Tiago Pedro, o último da lista”, que, entretanto, e com as saídas ascendeu a vice-presidente da Câmara. Já quanto aos substitutos José Honrado e Cláudia Luís que estavam nos gabinetes de apoio à presidência e que subiram a vereadores destaca que “a vereadora Cláudia está a esforçar-se, já o vereador Honrado não sei se é bom ou mau, e o vereador Paulo Franco é daqueles que fala, fala, mas dali não se espreme nada”, sintetiza, assinalando que “apostar na descida da derrama e de outros impostos municipais é uma boa forma de fomentar o empreendedorismo”, numa alusão a um dos pelouros de Franco.
Ainda sobre a gestão autárquica sublinha que tem pedido com insistência as listas dos trabalhadores e as suas funções. Na sua opinião há chefes de divisão a mais e a meritocracia não é fomentada. Mas também entre os próprios vereadores “reina a confusão na gestão dos assuntos que tão depressa vão à vereadora Cláudia, como aos vereadores Paulo Franco e Tiago Pedro”.
O processo da Chemina é outro dos temas que o vereador da oposição vê com desconfiança e afirma mesmo que vai redundar numa grande deceção “porque os nomes dos empresários não aparecem, nós não os conhecemos, e continuam a adiar a apresentação do todo o plano, faltam elementos nas peças”.
Nuno Henriques admite ir nas listas para a Assembleia Municipal
Já é sabido que as relações com uma grande parte da concelhia laranja de Alenquer estão longe de serem as melhores, com Nuno Henriques a questionar a legalidade de alguns processos que tiveram lugar desde as eleições autárquicas no seio daquela estrutura. O vereador fez queixa da concelhia no conselho de jurisdição do PD por ter rasgado pedidos de novos militantes para o concelho de Alenquer, entre outras peripécias. Os argumentos de uma e outra parte foram dados a conhecer em reportagem do Valor Local após uma conferência de imprensa demolidora de Nuno Henriques contra a concelhia. Perante este cenário é praticamente impossível recolher o apoio da estrutura local numa candidatura municipal, com o horizonte das próximas autárquica já ao virar da esquina, em 2025. Nuno Henriques desvaloriza e diz que “são apenas seis pessoas” que estão contra si na concelhia, e dispara novamente contra o candidato independente nas últimas autárquicas, António Franco, que agora faz parte da concelhia, e os seus apoiantes. “São traidores”.
Para já Nuno Henriques vai no lugar de honra, antes dos suplentes, nas listas do PSD para a Assembleia da República pelo distrito de Lisboa nas legislativas de 10 de março. Nuno Miguel Henriques reitera – “Vim para 8 anos para Alenquer. Até pode ser como presidente da Assembleia Municipal de Alenquer”, enfatiza não fazendo “a coisa” por menos.