“Os preços dos alimentos continuam a ter aumentos muito acima dos dois dígitos e o problema não deve ter melhorias óbvias tão depressa. É preciso ter noção desta realidade: algo que custava 10 euros e passou a custar 15 euros, dificilmente voltará a custar 10 euros.”
1 – Quanto tempo vai durar a guerra na Ucrânia?
Ponto prévio: de longe, o mais importante e o que mais choca são os milhares de vidas perdidas e de famílias destruídas numa guerra que (quase) ninguém percebe. Mas o conflito na Ucrânia tem também efeitos devastadores globais a nível económico. Ninguém consegue dizer quanto tempo irá durar. E a incerteza é claramente uma das grandes inimigas da Economia. A responsável máxima de uma multinacional presente em Portugal dizia-me um destes dias que a casa-mãe obrigava a fazer planos orçamentais a três anos, mas que, verdadeiramente, ela só estava a considerar as estimativas a um ano e, mesmo assim, com muitas reservas, porque tudo está a mudar muito depressa. Este é apenas um pequeno exemplo. A uma pandemia seguiu-se uma guerra na Europa. Os tempos estão difíceis para previsões.
2 – Vamos evitar uma recessão económica em Portugal?
Todas as previsões feitas até agora dizem que sim. Mas está longe de ser uma certeza. O Governo assume que Portugal vai claramente desacelerar – cresce 6,7% este ano e apenas 1,3% em 2023 – mas afasta um cenário de queda da economia. A OCDE aponta para um crescimento de 1% no próximo ano, o FMI de 0,7% e a agência Moody’s de apenas 0,4%. Não é grande coisa, mas é tudo acima de zero. Mas é também bastante próximo de zero. A estimativa de uma recessão na Alemanha, o motor da Europa e um importantíssimo parceiro comercial português , deixa óbvias e compreensíveis reservas sobre o desempenho da economia portuguesa no próximo ano. A capacidade que o País tiver – e o Governo em particular – para executar os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência irá, em larga medida, ditar o desempenho económico em 2023. Independentemente da ruído do debate político, esta tem de ser uma prioridade nacional. Conseguiremos que seja?
3 – A inflação vai continuar muito alta?
Parece que sim, embora um pouco mais baixa do que este ano. Chamam-lhe imposto escondido, mas face aos valores que tem atingido é um claro exemplo de “gato escondido com o rabo de fora”. A inflação acentuou-se com o início da guerra na Ucrânia, mas os preços começaram a subir muito antes, no verão de 2021, com a abertura das economias após o pico da pandemia. A inflação começou por ser “puxada” pelos valores dos produtos energéticos, mas já vai muito além disso. Os preços dos alimentos continuam a ter aumentos muito acima dos dois dígitos e o problema não deve ter melhorias óbvias tão depressa. É preciso ter noção desta realidade: algo que custava 10 euros e passou a custar 15 euros, dificilmente voltará a custar 10 euros. A subida dos preços tornou-se estrutural e tudo o que se pode esperar é um abrandamento nesses aumentos. Para a larga maioria das famílias, o eventual acréscimo de rendimentos não acompanhou a subida dos preços. Em 2023 não deve ser muito diferente. A perda de poder de compra vai continuar.
4 – Os juros vão continuar a subir?
É provável que sim, embora não muito mais. Tudo dependerá do evoluir da inflação. Subir juros para travar o aumento dos preços é a grande arma do Banco Central Europeu e dos outros bancos centrais. No caso do BCE, a taxa de referência está nos 2% e é provável que suba um pouco mais. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, logo, com assento no BCE, declarou que não deve chegar aos 3%. Ainda assim, nos próximos meses são esperados novos agravamentos nas prestações para quem paga a casa ao banco. Já nos depósitos, os juros até devem subir, mas a remuneração paga pelos bancos deve continuar em valores ridiculamente baixos, próximos de zero. Para quem tem tem poupanças, uma boa decisão para 2023 pode mesmo ser procurar alternativas de investimento mais rentáveis.
Editor de Economia da RTP