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Há 8 mil anos em Muge os habitantes do Mesolítico receberam bem os “imigrantes” do Neolítico

Nos concheiros de Muge a passagem do Mesolítico, período dos últimos caçadores recoletores, para o Neolítico, do homem produtor dos seus próprios alimentos terá sido efetuada de forma mais pacífica do que em muitas outras partes da Europa. É isto que os enterramentos e os vestígios destas duas civilizações disseram aos arqueólogos da Universidade do Algarve durante os últimos anos de escavações.

Ao Valor Local, Célia Gonçalves, arqueóloga da Universidade do Algarve, dá conta que esta transição para as primeiras comunidades de agricultores com a plantação de cereais e a domesticação de alguns animais como ovelhas, e cabras está patente nos Concheiros de Muge que compreendem o Cabeço da Amoreira, o Cabeço da Arruda e Moita do Sebastião

A descoberta dos concheiros remonta a 1863 quando foi instalada uma fábrica de descasque de arroz, e as máquinas começaram a fazer terraplanagem, tendo sido descobertos 300 enterramentos.  “De lá para cá temos encontrado enterramentos, mas não na mesma dimensão, ou seja, a equipa da Universidade do Algarve, neste momento, desde que começámos os trabalhos, já detetámos sete enterramentos.” 

Nesta altura, a equipa já mandou para análise de ADN, alguns dos cadáveres, para que “brevemente consigamos indicar se essas pessoas que estavam enterradas no mesmo sítio são familiares, não são familiares, e até qual o nível de familiaridade entre elas.” Isto apenas no Cabeço da Amoreira onde se estão a desenrolar os trabalhos, sendo que mesmo aqui a escavação é feita de forma restrita e pontual para que não se esgote em pouco tempo o sítio e que ainda se possa realizar trabalho de campo quando novas técnicas de investigação forem desenvolvidas.

A população do Neolítico dispersou-se pela Europa desde o crescente fértil, territórios hoje da Jordânia, Israel Líbano, entre outros países

Perceber como foram as relações entre os povos mesolítico e neolítico que habitaram o local é uma das tarefas da universidade – “As comunidades neolíticas não são as mesmas que as mesolíticas, são pessoas que vieram de fora e que depois ocuparam o território onde já estavam as comunidades antigas, e há várias teorias, como por exemplo a de que houve uma substituição total, ou a de que não houve uma interação entre as comunidades, mas o que nós vemos e que é muito importante, e defendemos essa teoria, é que existe uma continuidade, ou seja, quando as comunidades neolíticas chegam, contactam com as mesolíticas e depois há uma aculturação, há uma junção das duas, e porquê? Porque nós conseguimos ver isso através, por exemplo, dos enterramentos, ou seja, o local simbólico de enterrar os mortos para o mesolítico continua no neolítico, ou seja, no neolítico eles enterravam os mortos no mesmo sítio que os do mesolítico, e daí pensarmos que existe este contacto.”

 A população do Neolítico dispersou-se pela Europa desde o crescente fértil, territórios hoje da Jordânia, Israel Líbano, entre outros países. Chegaram à zona do Vale do Tejo e de Salvaterra de Magos. Esta transição do Mesolítico para O Neolítico decorre há cerca de seis mil anos antes de Cristo.

“Nós, em Muge, temos evidências de que eles coexistiram pacificamente, ambos no mesmo território”. Há casos em que isto aconteceu na Europa, mas curiosamente em países mais distantes de Portugal, já que em locais onde hoje é a França, por exemplo, há traços de violência entre os dois povos. Não temos muita informação em Portugal quanto a  esta aculturação, porque os “sítios arqueológicos” portugueses daquela altura estão muito destruídos. Os concheiros de Muge são dos poucos sítios preservados neste domínio.

Centro de Interpretação dos Concheiros de Muge será inaugurado em breve

Com a descoberta de 300 enterramentos encontram-se vários traços distintivos e até certo ponto a noção de alguma estratificação social entre aqueles que seriam mais ou menos importantes na comunidade. “Pela primeira vez vimos um enterramento, em que o cadáver estava depositado sobre as areias e a zona do crânio sobre um manto de conchas, como se fosse uma almofada de conchas, ou seja, existe um simbolismo e um ritual associado à deposição dos mortos. Estamos a falar de uma criança que tinha à volta dos 10 anos, mais ou menos.”

Em breve o concelho de Salvaterra de Magos vai inaugurar um Centro Interpretativo dos Concheiros de Muge e neste aspeto a equipa de arqueologia da Universidade do Algarve saúda o papel do município e da Casa Cadaval, até porque os terrenos onde decorrem as escavações são sua propriedade.  Espera-se que em setembro possa ser inaugurado este centro interpretativo na antiga Casa do Povo de Muge.

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