Olha a mala, olha a mala, olha a malinha de mão Não é tua, nem é minha, é do nosso hidrovião… Ah! Desculpem já está a gravar… posso? Caros internautas e radio ouvintes Estava aqui distraído com a música de Celeste Rodrigues e a pensar ainda nas paródias que a extrema-direita portuguesa arranja para o anedotário nacional quando lá fora as coisas começam a ficar densas e pesadas. Mão amiga que já passou à resistência há muitos anos fez-me chegar esta semana um vídeo com a intervenção de Javier Milei no Fórum Mundial de Davos. Ao ver e ouvir, na íntegra, a intervenção do Presidente da Argentina percebe-se muito bem como o amigo, André Ventura, é oco, desprovido de tudo e não passa de um populista barato que se pode adquirir numa feira popular. Mesmo Trump, Elon Musk, Órban, Meloni, AfD alemã ou Marine Le Pen não têm os índices de perigosidade do pensamento de Milei. Durante 29 minutos Milei teorizou, densificou e proclamou a chegada da nova ordem mundial, olhos nos olhos com vários líderes mundiais. E o que obteve no final? Aplausos de uma plateia encantada com a intervenção e com os milhares de euros e dólares que o teórico da extrema-direita lhes havia colocado no bolso. A mesma tralha oligarca que aplaude Trump e todos os outros. Em Portugal gosta-se ainda muito de discutir a normalização da extrema-direita. Isso já não faz sentido. O que faz sentido é olhar de frente para o verdadeiro problema. Com a intervenção de Milei em Davos, a extrema-direita está normalizada e mais, institucionalizou-se. É, pois, com estas premissas que todo e qualquer democrata deve abordar os novos tempos. Milei anunciou-se como o profeta da verdade, o revolucionário, o progressista e evangelizador. Quando Trump revela diarreia mental, Milei revela pensamento fundamentado. Quando Órban apela aos princípios nacionalista da defesa da Hungria, Milei coloca conceitos de uma frente mundial de extrema-direita que reveja todas as áreas da nossa sociedade. Onde Meloni coloca matreirice, Milei coloca frontalidade. Quando o oligarca Elon Musk manifesta parolice, Milei manifesta conhecimento académico. Mas quem é esta personagem que parece saída de um qualquer programa de Herman José? Um economista liberal libertário, ultradireitista que não lê a cartilha de Steve Bannon. Defende que o dólar seja uma moeda mundial, um Estado mínimo, a eliminação dos Bancos Centrais, a privatização de todos as empresas e sistemas públicos, o porte de arma para todos, fim dos direitos das mulheres que diz já serem muitos, etc, etc. Ou seja, o que conhecemos oprime, desvirtua a vida em sociedade e deixa-nos alienados. Diz ele que também quer fazer o Ocidente grande outra vez… Não, não fique a pensar que o hoje bebi ou comi algo fora da validade. O assunto é mesmo sério. Até sugiro que faça uma pesquisa no Youtube e veja com os seus próprios olhos. Todo e qualquer democrata deve ver, ouvir e refletir. Caro internauta, radio ouvinte e democrata a coisa é mesmo séria, perigosa e ameaçadora. Está tudo diante dos nossos olhos. É tão séria que a esquerda desprovida de uma agenda mundial mobilizadora constituída por respostas objetivas para as pessoas e para as instituições, enreda-se em questiúnculas, em coisinhas, revelando incapacidade em liderar um processo renovador e que detenha por 30 segundos que seja essa avalanche populista e de extrema-direita. E quando algum líder de esquerda assume a dianteira na discussão política de um qualquer tema dito como da extrema-direita o que acontece? Leva pancada dos seus. Foi assim na Alemanha, em Portugal ou no Reino Unido. E a direita democrática que lidera a maior parte dos governos europeus o que faz? Deixa-se seduzir a cada dia que passa pelo discurso dos teóricos da extrema-direita com medo de perder o poder ou, como preferem dizer, com a missão de salvar a Democracia. Pois, pois. Foi mesmo isso que evitou que Meloni coloca-se um enviado da extrema-direita no seio da Comissão Europeia. Mas o mais espantoso é o facto de os liberais portugueses que este fim de semana realizam o seu Conselho Nacional terem adotado Milei como inspiração. Ou estão no local errado, ou desconhecem o que o senhor argentino pensa ou estaremos em presença de mais um episódio do anedotário político dos tempos de hoje. Então agora temos os liberais, sim os mesmos da família política do senhor Macron, do senhor Trudeau do Canadá, do senhor Verhofstadt, líder dos liberais flamengos a inspirarem-se em Milei? Eurodeputado Cotrim de Figueiredo o que diz a isto? É de levar as mãos à cabeça e colocar um ramo de salsa nos ouvidos. Dizem-se inspirados pela audácia e clareza ideológica de Javier Milei que tem um programa de ação enraizado em valores libertários, na defesa intransigente da liberdade individual e no compromisso com uma verdadeira revolução económica e social. Ouviu Dr. Ventura? Eles quase pedem a sua presença. Vá faça esse telefonema ao amigo Milei e seja o convidado secreto do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal. Eu, entretanto, vou preparar um chimichurri para o fim de semana. Um molho típico argentino de salsa, orégãos, cebola, alho, flocos de pimenta, azeite com um toque de limão ou vinagre. Acompanha carnes grelhadas. Um abraço e até para a semana