Paulo Matias deixa, ao fim de 16 anos, a presidência da União de Freguesias de Alenquer (Santo Estêvão e Triana), após quatro mandatos marcados por aquilo que considera a proximidade com os fregueses.
Em entrevista ao Valor Local, o autarca refere que sempre entendeu o exercício da presidência como estando “ao lado das pessoas, no terreno, resolvendo o que é preciso, muitas vezes sem passar pela sede da junta”. Esta abordagem valeu-lhe, no seu entender, o reconhecimento pela capacidade de resposta a pequenas obras e questões do quotidiano, embora não tenha sido acompanhada por um modelo de comunicação mais institucional. “Nunca fizemos inaugurações, nem cortes de fita. Não é o nosso estilo, e o que importa é resolver e servir, não dar espetáculo”, afirma.
Durante o seu mandato, Paulo Matias acompanhou a fusão das freguesias em 2013, descrevendo o processo como “tranquilo”, apesar da contestação inicial. A integração das duas sedes manteve-se com distribuição funcional dos serviços. “Hoje funciona bem. Quem procura a junta é atendido em qualquer uma das sedes”, garante.
A freguesia conta atualmente com cerca de 20 coletividades, que, segundo Matias, recebem apoio regular e pontual. “Fazemos contratos-programa, ajudamos com manutenções e eventos. O associativismo é essencial para manter a coesão local”, defende.
Mil novos habitantes na freguesia nos últimos seis anos
O autarca aponta ainda para o crescimento populacional da freguesia, com cerca de mil novos habitantes nos últimos seis anos. “Recebemos muitas famílias durante a pandemia. Há mais crianças e jovens. Oferecemos um cabaz às famílias com recém-nascidos. É simbólico, mas marca uma relação de proximidade.”
Nos últimos anos, a presença de cidadãos estrangeiros também aumentou, mas Matias diz não notar “conflitos ou dificuldades relevantes de integração”. Ainda assim, admite “casos pontuais de sobrelotação habitacional”, embora sublinhe que “a junta não tem mecanismos legais para atuar, apenas sinalizamos”.
No capítulo da limpeza urbana e gestão ambiental, o presidente da junta realça a decisão de abandonar o uso de herbicidas. “Assumimos o compromisso com a saúde pública, mas isso obriga a mais trabalho manual e nem sempre conseguimos dar resposta rápida.” Quanto à deposição ilegal de resíduos, considera que “é uma prática que persiste, infelizmente”, e que, quando possível, é denunciada à GNR.
Caminhos vicinais são preocupação
A manutenção de caminhos vicinais, sobretudo em zonas agrícolas, continua a ser uma preocupação constante. “Temos 52 quilómetros de caminhos rurais. Sem verba para alcatroar, fazemos o que conseguimos com os meios da junta”, afirma, admitindo que “os agricultores gostariam de ver mais intervenção”.
A relação com a Câmara Municipal de Alenquer, no âmbito da delegação de competências, é considerada positiva. “Gerimos cerca de 700 mil euros ao abrigo do protocolo, o que nos permite atuar em áreas como educação, espaços verdes e manutenção urbana”, resume.
Em relação à equipa, o autarca nota que “foi sempre difícil contratar pessoal”, e que, através do Instituto de Emprego, recorreram a contratos de inserção. “Nem sempre temos candidatos com motivação ou experiência, mas procuramos formar e integrar.”
O convite de João Nicolau
A escolha de Matias como número dois da lista do PS à Câmara Municipal nas próximas eleições marca uma mudança de ciclo. “Foi um convite da equipa liderada por João Nicolau. Não pedi lugar. Acredito no projeto coletivo, não em ambições pessoais”, esclarece, afastando leituras de promoção política automática. Também não quer adiantar quais os pelouros que gostaria de receber no caso de o PS voltar a vencer as eleições.
Com o fim do ciclo autárquico, o ainda presidente sublinha que o balanço “é positivo, porque estivemos próximos das pessoas e deixamos uma freguesia funcional e com qualidade de vida”.
