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Opinião Joaquim Ramos: “Dois temas ambientais”

“No caso da Zubareias o processo foi para a frente e temos hoje um aterro controlado de resíduos inócuos e não perigosos que resultará, no fim do enchimento, num espaço verde reposto e reflorestado num local que dantes era uma lixeira incontrolada a céu aberto. Sem impactes ambientais, que me desculpem os que se queixam de cheiros, moscas e outras malfeitorias”

1.Somos um País de remedeio. Claro que temos um ditado que reza “antes prevenir que remediar”, mas prevenção é um tema que em tempo algum da nossa história se enquadrou na alma lusitana. Quando alguma coisa de mais ou menos previsível acontece sob a forma de tragédia, deitamos as mãos à cabeça, durante três ou quatro dias a Comunicação Social não fala noutra coisa, atiram-se uns bitaites sobre prevenção, as entidades oficiais apressam-se a criar umas comissões para aplicação de medidas preventivas sob o tema, mas na semana seguinte já não se fala no assunto e a dita comissão vai-se arrastando no langor dos gabinetes até que nova tragédia aconteça e o ciclo se repita.

A tragédia da estrada de Borba, lembram-se, aquele troço de estrada que se abateu sobre uma pedreira e arrastou uma ou duas viaturas que nela passavam despreocupadamente, ceifando cinco vidas, foi coisa que já passou aos anais da história e quase que aposto que, quer a nível de opinião pública quer a nível oficial, já ninguém se preocupa muito com essas situações. Eu já faço um voo picado sobre o nosso Concelho nesta matéria, mas antes disso gostava de referir que uma entidade, que não posso agora identificar, enviou um drone que filmou de cima todo o percurso da A1 entre Lisboa e o Porto. É impressionante a quantidade de situações semelhantes à que existiam – e existem- em Borba, Vila Viçosa ou Estremoz que ocorrem ao longo da A1. Quando nós fazemos o percurso de carro naquela autoestrada, muito seguros e atentos às medidas de segurança rodoviária que se impõem, não imaginamos que, por várias vezes, corremos ao lado do precipício duma pedreira abandonada ou ainda em exploração, muitas vezes apenas com uma cortina arbórea a separar-nos dela. As filmagens do drone mostram tudo: as faixas de rodagem da A1 e a cinco ou seis metros um precipício cuja estabilidade ignoramos e duvido que seja totalmente conhecida de quem explora as pedreiras ou das entidades oficiais que as deveriam monitorizar.

Há vários anos foram inventariadas no Concelho de Azambuja duas situações que representavam uma óbvia situação de risco, não decorrentes da exploração de pedreiras, mas de areias, num caso e de argilas, no outro. A Zubareias, à saída de Azambuja, tinha terminado a exploração de areia e deixado no local uma cratera a céu aberto que, embora não apresentando risco de vida para ninguém, constituía um atentado ambiental em termos de solo e de poluição de aquíferos : toda a espécie de resíduos era clandestinamente despejado no areeiro abandonado, as redes protectoras  já tinham desaparecido em grande parte e toda a área estava transformada numa lixeira incontrolável, sem que ninguém se preocupasse com o atentado ambiental que decorria de tal situação. Em Vila Nova da Rainha, a Cerâmica de S. Paulo tinha acabado com a extração de argilas, deixando também outra cratera que, pelo Facto de o terreno ser impermeável, foi acumulando água da chuva até formar uma lagoa com uma profundidade significativa escondida no meio da vegetação e, esta sim, representando um risco de vida para qualquer incauto que por lá passasse. Dir-me-ão que as entidades que exploram este tipo de estruturas têm a obrigação de proceder à sua selagem, isto é, repor a situação anterior com terras vegetais e reflorestarem a área. Desafio algum dos meus leitores a que me digam um local em Portugal onde isto foi feito. Não há nenhum – pelo menos que eu conheça- pela simples razão de que as entidades públicas não dispõem dos meios legais para obrigarem a essa responsabilidade. Portanto, havia duas atitudes face aquelas situações: deixar andar, à boa maneira portuguesa e esperar que nada de mal acontecesse, ou estudar e implementar medidas para reverter a situação.

Na altura, a Câmara a que presidi enveredou e bem, no meu entender ainda de hoje, por tentar resolver a situação criando as condições para a instalação de dois aterros para resíduos não perigosos. A contestação foi tão grande por parte das forças da oposição, que a Cerâmica de São Paulo desistiu da ideia e abandonou o projecto. Creio que ainda hoje se encontra por lá a dita lagoa e por lá se manterá até que um dia venha a ser primeira página do Correio da Manhã – o que espero sinceramente que não aconteça. No caso da Zubareias o processo foi para a frente e temos hoje um aterro controlado de resíduos inócuos e não perigosos que resultará, no fim do enchimento, num espaço verde reposto e reflorestado num local que dantes era uma lixeira incontrolada a céu aberto. Sem impactes ambientais, que me desculpem os que se queixam de cheiros, moscas e outras malfeitorias. Se a exploração do aterro for feita nas condições em que foi licenciada não representa má vizinhança para ninguém. Passo por lá muitas vezes nos meus passeios a pé.

​Nunca fui incomodado por odores agressivos nem perseguido por enxames de moscas. Resolveu-se, sim, um problema ambiental que era grave. Tudo o que se diga em contrário é manipulação política.
​2.Andamos todos naturalmente preocupados com os incêndios da Amazónia. A Comunicação Social faz alarde de fim do mundo, extermínio de civilizações e outros apocalipses decorrentes dos fogos que devastam aquela região. Para tanto escrevem-se as maiores barbaridades e inventam-se factos e argumentos que não correspondem à verdade. Devo desde já dizer que sou dos que consideram que a situação é grave e acho até que uma estrutura como a Amazónia, cuja importância em termos de biodiversidade e regulação do clima é universal, não deveria ser gerida por um País mas sim por uma organização supranacional, como por exemplo a ONU. Mas há coisas que são ditas neste contexto e que não correspondem à verdade. Em primeiro lugar, a Amazónia propriamente dita não arde. É uma zona de tal forma húmida e pantanosa que não há hipótese de o fogo se propagar. O que arde são as zonas adjacentes onde os fazendeiros e outros actores económicos tentam criar as condições para a exploração agrícola e pecuária. Segundo, a Amazónia não é a maior floresta do mundo.

Muito maior que a Amazónia é a Taiga Russa que começa na Europa e atravessa a Ásia toda até ao Pacífico, ocupando todo o norte do País. Terceiro, não é verdade que a Amazónia seja o pulmão do Mundo. Na verdade, produz muito oxigénio mas consome uma parte substancial do que produz. Mais de cinquenta por cento do oxigénio produzido no Mundo tem origem nas algas oceânicas. Resumindo, os fogos da Amazónia são uma calamidade, como o são os que o ano passado devoraram parte da Austrália e da Califórnia. São um desastre ambiental, mas não são apocalípticos como nos querem fazer crer. E se nós, portugueses, em vez de nos excitarmos tanto com estas parangonas da Comunicação Social, lançássemos uma campanha de reflorestação do nosso país? É que, para quem não saiba, Portugal é, em termos relativos, o País do Mundo com maior área ardida…

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