O Livre entra na corrida autárquica em Vila Franca de Xira com listas à Câmara, Assembleia Municipal e à União de Freguesias Póvoa-Forte. Após a ausência de há quatro anos, o partido diz chegar “mais organizado” e com objetivos prudentes: “Queremos dar-nos a conhecer e obter representação. Na Câmara será difícil, mas a Assembleia Municipal é um foco central”, afirma o cabeça-de-lista, Daniel Ferreira de apenas 21 anos. A estratégia assume “crescimento gradual e trabalho de proximidade”: “Que saibam que têm no Livre um partido de confiança, onde podem falar e partilhar problemas.”
No dossiê identitário do concelho, o candidato recusa que a oposição às touradas o isole eleitoralmente. “A maior tradição de Vila Franca é ser uma terra livre”, sustenta, garantindo respeito por quem vive do setor: “Não desprezamos a tauromaquia, mas somos contra os maus-tratos animais. Não se acaba nada de um dia para o outro; explicamos a nossa postura e procuramos soluções.”
Terrenos da Armada “não podem servir apenas as classes mais altas”
A habitação surge como prioridade com um alvo quantificado: “Defendemos 10% de habitação pública no concelho.” Além da reabilitação do parque municipal, o Livre promete o programa “3C — Casa, Conforto e Clima”, para melhorar eficiência energética e conforto dos fogos antigos. Sobre o terreno da Armada, o partido quer ambição e critério: “Podíamos ter um polo do ensino superior, habitação intergeracional ou respostas para a terceira idade. Se houver privados, é preciso garantir tipologias e preços acessíveis — não podemos construir só para as classes mais altas.” Exemplo invocado: “No Vila Rio, 10% para parque público teria feito diferença.”
Na limpeza urbana, o diagnóstico é direto: “Há acumulação de lixo e pragas; a desinfeção falha e a recolha de monos não está clara.” O partido pede mais fiscalização a entulho e restos de obra, valorização das equipas de recolha e continuidade dos ecopontos móveis “com maior cobertura temporal”. Educação e sensibilização ambiental são palavras de ordem: “Produzimos lixo a mais. Precisamos de compostagem municipal e mensagens simples que toda a gente entenda.”
A saúde motiva reservas ao regresso da PPP no Hospital de Vila Franca: “Não há garantias de melhoria. O essencial é reforço de profissionais e meios.” Para fixar médicos nos cuidados primários, o Livre considera insuficientes os subsídios mensais: “Quatrocentos euros não resolvem. Defendemos casas de função a preço controlado e um pacote de condições.” Sobre USF modelo C, a resposta é pragmática: “A saúde deve primar pelo público; a complementaridade só com escrutínio e igualdade de acesso.”
Candidato defende creches públicas e parcerias com associações culturais
Na educação, o partido lista escolas a necessitar de intervenção (Álvaro Guerra/Aristides de Sousa Mendes, Alves Redol, Romeu Gil) e reclama investimento em creches públicas e parcerias com associações culturais: “A Câmara tem de ser exigente com o Governo. Regionalização não é só passar responsabilidades — é passar orçamento.”
Mais transparência sobre os valores gastos em eventos
A política de eventos enfrenta crítica de método, não de princípio: “Há prioridades. Precisamos de transparência total nos gastos — logística, segurança, artistas. O dinheiro é dos contribuintes.” Sobre a Frente Ribeirinha e a prometida praia fluvial, o candidato pede cautela com acessos, inundações e atividade piscatória: “Não se governa para quatro anos.” O cais fluvial suscita dúvidas de viabilidade: “Sem garantias de caudais e capacidade de carga, arrisca ser promessa que não tira camiões da estrada.”
No capítulo da mobilidade, o Livre exige novos nós de acesso à A1 em Alverca e Póvoa, coordenação de horários entre Carris Metropolitana e CP, e requalificação das ciclovias: “Ciclovias seguras, separadas e mantidas. Mais do que novas, é arrumar as que existem.” Sobre a quadruplicação da Linha do Norte, defende participação cidadã: “Vamos promover assembleias deliberativas com especialistas e população.”
Economicamente, o partido quer diversificar além da logística, olhando para tecnologia e indústria limpa: “Há oportunidades em hidrogénio e inovação, mas os data centers levantam questões de sustentabilidade.” A eventual Polícia Municipal é ponderada: “Pode fazer sentido na fiscalização, mas só com estudo de impacto orçamental e prioridades claras.”
A imigração é tratada como desafio de integração e habitação, sem alarmismo: “São pessoas que trabalham e contribuem. Sobrelotação exige fiscalização às redes de exploração e soluções dignas, incluindo ensino de português e integração local.”
Por fim, urbanismo e justiça: “Investigar é saudável, mas a melhor vacina é a transparência. Processos, prazos e usos do solo têm de ser públicos e acessíveis.” E um recado político: “Não se governa por sensação. Dados para decidir e respostas às perguntas da oposição. A política faz-se partilhada.”
Entre metas mensuráveis (10% de parque público) e um discurso de escrutínio, o Livre anuncia-se como voz de pressão sobre a Câmara — esteja no executivo ou na oposição. O teste fará-se nas urnas; a bitola, promete o candidato, será a mesma: “Exigência, participação e transparência.”