O cheiro intenso a tomate maduro sente-se ainda antes de o portão se abrir. Há algo de quase nostálgico neste aroma quente e adocicado que se mistura com o som ritmado das máquinas ao longe. É o coração da campanha na Sugal, em Azambuja — e o cenário onde a tradição agrícola se cruza com uma engenharia que já olha para o futuro.
A visita é guiada por João Tavares Correia, diretor de estratégia do grupo, e por Pedro Barata, diretor agrícola. Um conduz o discurso global, o outro o olhar de quem conhece o campo ao milímetro. Juntos, ajudam a perceber como uma empresa nascida no Ribatejo se tornou a segunda maior produtora mundial de tomate industrial.
Nos campos da Azambuja, o vermelho domina o horizonte. As máquinas avançam a um ritmo compassado, substituindo centenas de braços que em tempos colhiam o fruto à mão. “Hoje a apanha é totalmente mecanizada”, explica Pedro Barata, enquanto o barulho metálico de uma colheitadeira ecoa. “Cada metro que percorremos é monitorizado. Sabemos a produtividade de cada parcela e corrigimos o que correu menos bem para o ano seguinte.”

O engenheiro fala com a naturalidade de quem vive no terreno, mas há tecnologia em cada frase. A agricultura já não é feita apenas de instinto: há sensores, balanças e algoritmos que dizem onde a terra precisa de mais água ou nutrientes. “A média nacional anda nas 94 toneladas por hectare, mas temos produtores que chegam às 120 ou 140”, refere. É a demonstração de que a ciência e a experiência podem coexistir — e de que o tomate português tem, hoje, uma qualidade reconhecida internacionalmente.
O solo plano, a drenagem natural e a proximidade do Atlântico criam as condições ideais para a cultura. “A zona de Azambuja e Valada é das melhores do país”, reforça o diretor agrícola. A paisagem, vista de cima das máquinas, parece um mosaico de linhas perfeitamente paralelas. Cada planta foi conduzida para amadurecer de forma homogénea — a colheita faz-se de uma só vez, sem espaço para falhas.
Mas a visita é também uma aula sobre o futuro da agricultura europeia. Entre a legislação apertada e as metas ambientais, há uma batalha diária pela sustentabilidade. “A União Europeia tem vindo a reduzir drasticamente o número de produtos fitofarmacêuticos autorizados”, explica Pedro Barata. “Isso obriga-nos a reinventar o combate às pragas, a usar alternativas biológicas, e a fazer monitorização semanal com armadilhas para sabermos o momento exato em que devemos agir.”
Os sistemas de rega contam uma história semelhante. Se antes a água corria livremente, hoje distribui-se em pequenos pulsos, várias vezes por dia. “É como na alimentação humana — menos quantidade, mas mais vezes”, diz o engenheiro com um sorriso. “A planta tem sempre água e fertilizante disponível, e não há desperdício.”
Este equilíbrio é a essência de uma nova agricultura: precisa, controlada, sustentável. E a Sugal está no centro dessa mudança. João Tavares Correia sublinha a importância de se manter as mesmas exigências em todas as geografias onde a empresa opera — Portugal, Espanha e Chile. “Somos uma empresa global, mas trabalhamos com o mesmo padrão de segurança alimentar e sustentabilidade em todos os países. Queremos um produto de qualidade idêntica em qualquer continente.”

A conversa muda de cenário: da terra para o interior da fábrica. Lá dentro, o ambiente é outro. Um silêncio técnico, pontuado pelo zumbido dos motores e pelo vapor que sobe dos tanques. Cheira intensamente a tomate fresco, e o ar parece mais húmido e denso. No laboratório, o espaço é imaculado, branco e luminoso. É ali que se mede o teor de açúcar, a acidez, a cor. “O tomate é apenas concentrado”, explica João Tavares Correia. “Não lhe acrescentamos nada — só lhe tiramos a água.”
Provamos algumas amostras. A textura é cremosa, o sabor surpreendentemente vivo. O produto português é procurado por marcas como a Heinz, a McDonald’s ou a Unilever, mas também pelos consumidores japoneses, que valorizam a pureza e a frescura. “São muito exigentes e acompanham o processo connosco em tempo real”, diz o responsável.

Provas do produto

A cada etapa percebe-se o que significa uma empresa ser global sem perder o enraizamento local. Na Azambuja, 50 trabalhadores mantêm a fábrica ativa durante todo o ano. Em campanha, o número sobe para 330, muitos deles jovens da região que regressam todos os verões. A Sugal é, também, uma história de comunidade.
O futuro, porém, não é apenas tecnológico. É humano, e depende da forma como se preserva o solo, a água e a confiança dos consumidores. “Estamos a investir 100 milhões de euros até 2030, 49 dos quais em Portugal, para reduzir as emissões de CO₂ e melhorar a eficiência energética”, recorda João Tavares Correia.
Ao sair, o cheiro a tomate ainda paira no ar. O campo já repousa, mas o som distante das máquinas lembra que o ciclo nunca pára. Entre o Ribatejo e o mundo, a Sugal continua a provar que o futuro da agricultura — sustentável, exigente e global — se planta aqui, na terra fértil de Azambuja.








