São cerca de 14 as associações em todo o país que prestam apoio aos familiares da pessoa com doença mental. Um número ainda muito reduzido. O nosso jornal falou com Joaquina Castelão, presidente da Familiarmente- Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental.
A responsável que explica que muito há ainda por fazer neste campo. O decreto-lei 113/2021 está cheio de “boas intenções”, mas a implementação daquilo que salvaguarda “teima em sair do papel”. A Familiarmente foi constituída em 2015 e representa as famílias e os doentes “na defesa dos seus direitos”, que passam pela implementação de cuidados de saúde mental de proximidade logo na comunidade, e por processos de reabilitação psicossocial, através de programas de ocupação social dos doentes, por exemplo.
As associações existentes no país possuem a componente de grupos de ajuda mútua, algo que é importante para os familiares, até porque na sociedade em geral esbarram no “estigma”. “Raramente partilham isso com os amigos ou com a restante família”. Cada grupo “imprime a sua dinâmica, mas é tudo feito por familiares e com familiares, pode ter lugar um técnico de serviço social ou terapeuta ocupacional, mas de forma informal, porque aquilo que as famílias precisam é que seja colocada em prática toda a reforma da saúde mental aprovada em 2021 com medidas de apoio formal com equipas de saúde mental multidisciplinares”. Nestas associações trabalha-se uma das principais questões na área da saúde mental, a necessidade da toma dos fármacos, em que os familiares são sensibilizados ao máximo para a sua importância e não os desvalorizar quando porventura os doentes apresentem sintomas de melhora.
O Governo prometeu a criação de 10 equipas comunitárias de saúde mental por ano (cinco para infância e adolescência e cinco para adultos), mas não está a “ser cumprido o orçamentado”. Passa pela sinalização de cada doente em que este é acompanhado por uma equipa que é constituída por médico, psicólogo, enfermeiro de saúde mental, assistente social, terapeuta ocupacional, eventualmente nutricionista, mas estes profissionais também acompanham os familiares. “Temos bons resultados em algumas regiões do país, mas infelizmente o Governo não está a cumprir, porque nesta altura já devíamos ter no terreno 30 equipas em cada uma das cinco regiões em Portugal (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e “mais outras 40 no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Contudo quando chegámos a novembro do ano passado ainda não havia autorização das Finanças para contratação dos profissionais”. Nesta altura apenas existem cerca de 40 equipas no total “mas temos necessidade de muitas mais, porque o Governo deveria instituir uma equipa comunitária de saúde mental para adultos para cada 50 a 100 mil habitantes”. Na nossa região, no Hospital de Santarém já existem estas equipas.