A economia no seu período mais pré-histórico, nasce como um processo de trocas diretas, onde os bens produzidos a mais por uma determinada família eram utilizados como moeda de troca por outros bens gerados em excesso por outra família, satisfazendo assim as necessidades da comunidade. Ao longo dos séculos, a evolução para um processo de trocas indiretas, levou a um certo desvirtuar do papel da economia, passando de uma satisfação generalizada das necessidades do ser humano para um consumo desenfreado de bens e serviços, muito para além das nossas necessidades. Tudo porque, a determinada altura da história, foi introduzido um meio intermediário para a realização de trocas (a moeda), que passou a estar no centro da economia, tal como a conhecemos hoje.
A mudança do pêndulo para o intermediário ao invés do foco no objetivo final da realização das trocas, tornou a sociedade dependente de um conjunto de fatores para manter o seu “nível de vida”. O modelo atual pressupõe que não temos vidas melhores sem um crescimento económico infinito, este que só pode ser mantido com um crescimento da população que consiga manter vivos setores de atividade de produção e consumo intensivos. E para isso, são realizados estímulos como a subida permanente da idade da reforma ou os apoios à natalidade, porque permitem manter a oferta de mão de obra, teoricamente necessária, para não existir diminuição de produção ou reduções de lucro. E aqui nasce a primeira pergunta-chave que nunca soubemos dar resposta, como se concilia a necessidade de um crescimento económico infinito com recursos naturais finitos?
Esta evolução tornou-nos mais individualistas e gananciosos, onde o ter mais dinheiro se sobrepõe a tudo e a todos. Na sociedade atual, os mercados financeiros são dos maiores exemplos do empolamento deste nosso lado. Uma empresa que tenha lucro, mesmo que seja menor que o do ano anterior ou, ainda mais extraordinário como, se for abaixo das “expectativas”, geram receios e planos de despedimentos em massa, só para agradar a alguém que sem rosto, nunca contribuiu para o bem da sociedade, pelo contrário.
Ora, se o nosso modelo atual está assente em pressupostos que tudo indicam que não terão continuidade a longo prazo, a população tenderá para um equilíbrio até começar a decrescer, o que fará com que um conjunto de setores comecem a ter dificuldade em restaurar a sua mão de obra de forma a manter a produção, com o consequente ajustamento que poderemos imaginar que virá a ocorrer na economia. Aqui nasce a segunda pergunta-chave, não podemos definir este modelo como um grande esquema de Ponzi? Charles Ponzi, italiano nascido em 1882, que oferecia retornos elevados pelo investimento que as pessoas realizavam. Com o único problema de que se não existisse a entrada de novos clientes a investirem, não haveria a possibilidade de pagar os investimentos e os retornos prometidos aos investidores mais antigos.
Extrapolando para a atualidade, quanto mais tempo mantivermos as pessoas ativas, todo o modelo se prolonga no tempo, até não ser possível evitar a sua ruína. Se o atual modelo não criar condições para manter este nível de crescimento, que tende para o infinito, e a reduzida esperança de tornar os recursos naturais infinitos, apesar da velha frase de Lavoisier “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, é muito pouco provável que se mantenha tal como está, mesmo que demore algumas gerações até a mudança acontecer. No final de tudo, nós enquanto sociedade é que determinaremos que economia queremos.
