O fantasma da reabertura do aterro da Triaza, em Azambuja, voltou a ganhar força. A Secretaria de Estado do Ambiente enviou recentemente nova comunicação à Câmara Municipal, confirmando que prossegue o Plano de Ação TERRA — programa que pretende reorganizar o setor dos resíduos e garantir capacidade de deposição no curto prazo. O Governo afirma que os trabalhos estão em curso e que serão disseminados “em tempo oportuno”, destacando ainda como prioridade a expansão da recolha seletiva e o desvio de biodegradáveis para tratamento adequado.
Ao Valor Local, o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, assume preocupação com a possibilidade de reativação da única célula ainda existente no aterro, embora sublinhe que quer primeiro conhecer as conclusões do documento que está a ser elaborado pelo grupo de trabalho criado pelo Governo. “A reabertura não pode ser encarada como um dado adquirido”, afirma, lembrando que a célula disponível está próxima do limite e que qualquer intenção do Estado terá de ser confrontada com decisões municipais anteriores, que impediram a abertura de novas células.
Também Margarida Lopes, vereadora do PSD, declara ao nosso jornal que a cor política do Governo “não altera a sua posição” sobre o aterro. Diz manter “todas as reservas” quanto ao eventual reativar da célula existente e garante que intervirá junto da tutela “sempre que necessário”. Paralelamente, a vereadora do Chega, Ana Sofia Pires, mostrou total indisponibilidade para se pronunciar sobre o tema e pediu ao Valor Local que não a voltasse a contactar a este respeito, sem avançar qualquer explicação.
A pressão sobre Azambuja intensifica-se num momento em que a associação ambientalista ZERO apresentou uma queixa formal à Comissão Europeia, denunciando que Portugal continua a permitir a deposição de resíduos urbanos sem pré-tratamento em vários aterros. Para a ZERO, esta violação clara das regras comunitárias pode levar o país a enfrentar novas coimas avultadas.
Em declarações exclusivas ao Valor Local, nos primeiros meses deste ano, Rui Berkemeier, especialista em resíduos da ZERO, alertava que, mesmo que a Triaza volte a funcionar, não poderá regressar aos “moldes antigos”. “Os maus cheiros que marcaram o passado não poderão repetir-se. As regras estão mais apertadas e a CCDR-LVT tem hoje mecanismos de fiscalização mais rigorosos”, sublinha. O ambientalista lembra que vários aterros semelhantes já foram proibidos de receber matéria orgânica e aconselha diretamente a Câmara de Azambuja: “Mesmo que o município perca o processo judicial e a reabertura seja inevitável, tem hoje todas as condições para impedir a deposição de resíduos orgânicos”.
A ZERO alerta ainda que Portugal continua entre os Estados-membros que mais infringem diretivas ambientais e recorda que, só em 2023, o país pagou perto de 200 milhões de euros em penalizações por falhar metas de reciclagem. A associação propõe ao Governo um plano alternativo assente no reforço do tratamento mecânico e biológico, recolha seletiva porta-a-porta, compostagem e tarifários justos, defendendo que estas medidas podem desviar, num prazo de três anos, cerca de um milhão de toneladas de resíduos dos aterros.
Enquanto o Governo avança com o Plano TERRA e os ambientalistas pressionam Bruxelas, permanece por esclarecer qual será o destino imediato do aterro da Triaza. Para já, a reabertura está longe de ser uma hipótese remota — e o concelho de Azambuja prepara-se para enfrentar, novamente, um dossier que nunca deixou de ser uma ferida aberta.








