Todos os dias cerca de 25 a 30 pessoas imigrantes solicitam atestados de residência na Junta de Freguesia de Carregado-Cadafais. A freguesia, nesta altura, já terá cerca de 24 mil habitantes. Os últimos censos indicavam 14 mil. No ano passado também à nossa reportagem, o presidente da junta, José Martins (PS), falava em 22 mil. A vila está literalmente a rebentar pelas costuras e a sobrelotação de apartamentos é indesmentível. Isso ficou bem patente numa das últimas eleições com dezenas de cartas a serem enviadas para a mesma morada, tendo em conta a mudança dos locais de voto.
A vila tornou-se, em poucos anos, numa espécie de placa giratória de quem entra e sai. Há muita gente que chega e alguma que vai abandonando a vila. Há sempre quem tenha um parente, um conhecido, ou alguém que fala a mesma língua que lhe arranja um canto para ficar. José Martins, presidente da junta de freguesia, diz que se está perante um enorme desafio, que por sua vez influencia e afeta outros setores como a educação e a saúde, e que piorará quando os imigrantes do subcontinente indiano começarem a trazer as famílias.
“Temos muitas crianças nas escolas que tiveram de ir para os estabelecimentos de ensino na vila de Alenquer, porque aqui já não se consegue arranjar vaga”, explica, dando a conhecer que só o facto de operarem na freguesia sete supermercados “é demonstrativo deste salto populacional”, bem como a vinda a breve trecho de um hospital privado para o Campera. José Martins está preocupado com a ausência de infraestruturas que a seu tempo a Câmara devia ter tido em linha de conta como espaços verdes, e escolas. Também a falta de médicos no centro de saúde piora o estado de coisas.
Imigrantes não aumentaram criminalidade mas demonstram “postura muito invasiva” com as mulheres
Contudo o autarca não associa a presença de mais imigração a insegurança propriamente dita, mas conta que há relatos de mulheres perseguidas na rua por imigrantes do Indostão. “Têm uma abordagem muito invasiva com o género feminino. Não é que exista toque, mas a linguagem gestual é problemática nesse sentido”. Não há conhecimento de queixas nas autoridades, mas o assunto é falado. O autarca denuncia ainda que por vezes os imigrantes têm facilidade de acesso a subsídios, o que não acontece com os portugueses.
Durante o seu mandato, José Martins refere que conseguiu algumas conquistas, desde logo colocar funcionários como efetivos, quando antes a maioria estava a recibo verde. A freguesia, diz, também tem feito o possível nas questões da higiene urbana, mas as recolhas do lixo pela empresa Ecoambiente com a qual a Câmara tem um contrato, deveriam ser efetuadas mais vezes. No seu segundo mandato, não esconde que o combate à Covid-19 a par da imigração foi outra batalha, mas que considera ganha, “porque auxiliámos muitas pessoas das aldeias com medicamentos através dos escuteiros, porque os fregueses não podiam sair de casa devido à pandemia”.
“Câmara de Alenquer não dá um tostão para as festas”
José Martins mostra-se muito desagradado com várias entidades, nomeadamente, a Infraestruturas de Portugal que teima em não resolver questões como a necessidade de semaforização no Casal Pinheiro, as obras na Nacional 3, a rotunda no cruzamento da localidade. A Câmara também não escapa impune – “O município não dá um tostão para as festas do Carregado, aliás houve um vereador (Rui Costa) que nem umas barraquinhas nos quis emprestar. Agora, o município paga eventos em Alenquer, na Merceana, e aqui não. O argumento é sempre o mesmo: não há orçamento”.
A relação com Pedro Folgado já viu melhores dias. Já com João Nicolau, o candidato socialista à Câmara, diz acreditar no mesmo, mas espera para ver depois das eleições. “Nota-se pelo menos que tem um cuidado diferente do presidente e de alguns vereadores”.