A Comissão de Utentes de Castanheira/Cachoeiras continua a ser contactada constantemente com as queixas dos utentes do centro de saúde. Há anos que é assim, e segundo Pedro Gago, porta-voz daquele movimento, não há forma de abrandar. Dos 7733 utentes inscritos naquela unidade, 6140 não têm médico de família. Por outro lado, o tratamento das funcionárias do setor administrativo “continua a ser muito desumanizado”, salienta, a que se juntam nesta altura as muitas queixas contra o setor da enfermagem, em que os utentes são obrigados a fazer pensos na farmácia local. No mais recente concurso de colocação de médicos, Castanheira do Ribatejo não foi opção. “Neste momento não temos sequer médicos tarefeiros. Está toda a gente com medo que o doutor Oleh Yaremiy se vá embora, porque é o único a prestar consultas”. Nesta altura, a unidade ficou também sem a diretora clínica.
Desde há mais de um ano que quem não tem médico de família naquela freguesia tem de cumprir o calvário de tentar arranjar consulta de recurso no centro de saúde da Póvoa ou no centro de Saúde de Benavente. A marcação de consultas apenas ocorre na Póvoa a partir das 20h00 e há que aguardar vez, sem possibilidade de agendamento prévio. “Nem sequer simplificam, e temos de ir para lá durante todo o dia, levar almoço, para segurar o lugar na fila. Esperar cá fora em pé muitas vezes. Por isso é preferível ir ao hospital de Vila Franca, espero sentado e ao fim de quatro ou cinco horas sou atendido na pior das hipóteses, faço lá os exames, mas não tenho de estar lá quase até às dez da noite”, dá a conhecer. Neste aspeto salienta ainda que a modalidade de Consulta Aberta no hospital “tem corrido bem”. “As pessoas dizem que são bem atendidas, apenas têm de ir um bocadinho mais cedo, porque só fazem serviço até às dez da noite”, enquanto nas “urgências os tempos de espera são bastante superiores”.
Ultimamente, o porta-voz da comissão de utentes reconhece que têm existido dificuldades no acesso aos cuidados de enfermagem no centro de saúde. “No outro dia fui à farmácia e sai de lá um rapaz com um penso enorme na cabeça, que o centro de saúde não quis fazer”. Mas inclusivamente há casos em que foi a empregada de limpeza do centro de saúde a efetuar pensos. O Valor Local contactou um desses utentes que confirmou, mas que preferiu não prestar declarações com receio de sofrer represálias – “Tenho medo de precisar do centro de saúde e elas ainda se virarem mais contra mim. É daquelas coisas que é a palavra delas contra a minha”, refere desolado. O centro de saúde em causa tem cerca de quatro enfermeiras, o que no seu entender seria o suficiente para prestar aquele tipo de cuidado médico.
Por isso, Pedro Gago investe na necessidade de uma vistoria urgente ao centro de saúde. O trabalho das administrativas tem sido variadas vezes censurado pela população e segundo conta o porta-voz da comissão “há o receio de que o médico se farte delas e se vá embora, porque ele mais do que uma vez avisou que não quer interferências das funcionárias no seu trabalho”. “Sei de um utente que foi lá porque o médico lhe pediu, e elas mandaram-no para casa”, dá conta.
Quanto à atuação do município, Pedro Gago conta que já se reuniu com o presidente da Câmara, Fernando Paulo Ferreira, “mas fica tudo em águas de bacalhau”. De acordo com o município numa dessas reuniões com a comissão “a ARS-LVT esteve numa visita surpresa ao centro de saúde, e foram chamados à atenção o segurança, a antiga diretora e as administrativas”, mas pouco mudou, “exceto num ponto ou noutro”.
Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca não tem interesse no Bata Branca
Quanto ao programa Bata Branca para a freguesia e restante concelho, em que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT) pode protocolar uma parceria com uma IPSS para a vinda de médicos em horário pós laboral para os centros de saúde, Pedro Gago sabe que houve contactos com a Misericórdia de Vila Franca de Xira, contudo foi dito pelo provedor da instituição que o único médio afeto à instituição já dá assistência a 26 mil pessoas.
Pedro Gago refere ainda ao nosso jornal que já se encontrou com o novo diretor do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, Pedro Casado Espanhol, que confirmou o elevado número de queixas que chegaram às suas mãos quanto ao funcionamento da unidade da Castanheira. Prometeu dar conta dos diversos casos e agir em conformidade. Pedro Gago conta que obteve uma “excelente” receção quanto ao que a comissão foi dando a conhecer, esperando agora que possa atuar o quanto antes no terreno “se possível deslocalizando algumas das funcionárias”. “Não estou a ver que possa ser de outra maneira”, evidencia.