Cerca de 20 por cento da população portuguesa sofre de Doença Renal Crónica e em toda a Europa morrem todos os anos 64 mil pessoas devido a doenças do rim. Este foi o mote para assinalarmos o Dia Mundial do Rim, no passado mês de março, com a presença em estúdio na Rádio Valor Local de Catarina Abrantes, médica nefrologista no Hospital de Vila Franca de Xira, que nos trouxe para dar o seu testemunho de como é viver com esta patologia, Joaquim Florindo, 64 anos, residente em Coruche, e utente da especialidade naquela unidade hospitalar (ouça o áudio na imagem abaixo).
Catarina Abrantes não tem dúvidas de que se está perante um grave problema de saúde pública quando pensamos na doença renal crónica, com a possibilidade de dentro de poucas décadas se tornar na primeira causa de mortalidade a nível global, com Portugal a ser atualmente o país com maior prevalência de doença renal crónica terminal, devido ao aumento também “de muitas outras comorbilidades associadas” e “dificuldade de acesso em muitas regiões aos cuidados de saúde primários”. A médica explica que um dos objetivos passa por “combater a referenciação tardia ao serviço de Nefrologia” ou seja antecipar o mais possível a ida ao clínico da especialidade, pois “cerca de 1/3 dos doentes chegam à consulta já numa fase muito avançada da doença”. Na maioria dos casos, a doença renal crónica não causa sintomas.
Joaquim Florindo encontra-se a aguardar por transplante de rim. Apesar das limitações da doença não perde a boa disposição e para si tem sido fundamental o acompanhamento no hospital e a relação que conseguiu estabelecer com os profissionais, que são quase uma família. “É uma equipa espetacular e nada tenho a dizer”. Todas as semanas vai a Vila Franca para cumprir sessões de hemodiálise. Foi através de umas análises de rotina, há três anos, que descobriu que sofria de doença renal crónica. “Nunca me passou pela cabeça ter de fazer diálise”, até porque não tinha sintomas – “Andava bem, e trabalhava normalmente”. A especialista refere que os sintomas podem ir de enjoos, tensão alta, a perda de apetite, mas são na maioria difusos e podem ser indiciadores de outras patologias que não propriamente a doença renal crónica. O grande sinal de alerta, explica, foi quando detetou sangue na urina. Esteve internado, no Curry Cabral, onde encontrou também “uma equipa muito boa”, mas hoje diz levar uma vida normal – “Tenho os meus terrenos e os meus animais, e faço agricultura. À noite quando me vou deitar esforço-me por adormecer e não pensar na doença”. Quanto à alimentação “procuro não cometer muitos excessos,” mas “não sou de levar demasiadamente à risca, porque dias não são dias”.
Joaquim Florindo conta que não quis sobrecarregar a família com o drama da sua doença e não quer que nenhum dos seus familiares lhe doe um rim. Prefere não esperar por um órgão de um dador vivo, mas de um dador cadáver, “porque não quero que outras pessoas venham a sofrer porque há sempre complicações operatórias”. Contudo releva que “a família tem sido importante” em todo este processo. Integra a lista há três anos, sendo que o tempo de espera “oscila entre os quatro e os seis anos”, acrescenta a médica nefrologista. Acrescenta que Portugal “tem um ótimo programa de transplantação renal a nível nacional e reconhecido internacionalmente com mais de 7000 pessoas transplantadas com rins funcionantes”.
Um dos fatores mais preocupantes atualmente é “o cada vez maior número de pessoas jovens com problemas associados de hipertensão, diabetes, obesidade”, e alerta ainda para o abuso crónico de medicamentos como anti-inflamatórios não esteroides que progressivamente podem ter efeitos nefastos no rim. “São muito fáceis de adquirir e muito eficazes, mas são cada vez mais um fator de risco para doença renal crónica. Temos de instruir cada vez mais os doentes no uso deste fármaco”. A saúde renal passa por uma alimentação saudável, uma vida ativa com prática de exercício físico, não aumentar de peso. Já quanto aos doentes de risco “manter a sua saúde vigiada”.