Dentro de poucos anos pode estar concluído o primeiro foguetão made in Arruda dos Vinhos. A empresa Omnidea, dedicada à investigação e produção de componentes no domínio da Indústria Aeroespacial, está há cerca de quatro anos no Polypark em Arruda. Ainda pouco conhecida no concelho, reúne vários talentos neste domínio.
Desde 2000 que Portugal faz parte da Agência Europeia Espacial, e a Omnidea tem instalações não só em Arruda, mas também na Caparica, Açores, Évora, e em outros países europeus como a Alemanha, a Roménia, Inglaterra, ou mesmo noutros continentes- Austrália. Ricardo Penedo, site manager da empresa, faz uma visita guiada ao Valor Local onde dá a conhecer algumas das denominadas jóias da coroa desta empresa que está na vanguarda da engenharia aeroespacial.
A empresa, fundada em 2003, e com uma forte inclinação para projetos de investigação e desenvolvimento focados na propulsão, começou por se dedicar ao fabrico de tanques, depois evoluiu para válvulas, e daí para componentes fluídicos diversos focados em aplicações espaciais. Na entrada das instalações de Arruda ainda se encontram alguns desses objetos como que peças de museu a lembrar as origens de tudo na Omnidea.
Ao longo dos passados 20 anos, a empresa cresceu em número e alcance tecnológico e, hoje, trabalha com os denominados Large Systems Integrators, ou seja, no fabrico de componentes ou subsistemas que vão depois integrar um todo, um sistema completo. “Nós, por exemplo, temos um projeto em que fabricamos componentes para a Thales Alenia Space, que depois os irá montar num sistema que permitirá aos astronautas executarem missões lunares”.
Um dos produtos mais importantes do portfólio da empresa diz respeito ao fabrico de válvulas em aço inox ou titânio com um longo e aturado processo de produção e testagem destinadas aos Integradores de Sistemas, no caso da Thales Alenia Space “para a qual estamos a vender com o objetivo de serem integrados nos satélites de telecomunicações usados nos serviços de internet e televisão por satélite, daquela empresa”. “Estas válvulas funcionam como a torneira da sua casa, com entrada e saída para regular fluídos”, simplifica.
Uma das principais parceiras da Agência Espacial Europeia
Atualmente a empresa com sede em Arruda dos Vinhos é uma das principais parceiras europeias da Agência Espacial Europeia no fabrico de componentes fluídicos, válvulas e outros sistemas de propulsão como motores de foguete e satélites, onde o site manager da Ominidea realça a vitalidade de Portugal neste campo. “A nossa principal vantagem é o conhecimento, o know-how interno e depois a capacidade de produzir dentro dos requisitos, dos prazos necessários”. O processo que envolve cada um destes componentes exige uma série de testes de certificação bastante extenso que pode levar alguns meses. “Tudo o que vai para o espaço é testado durante muito tempo, porque os componentes lá em cima não podem falhar, não se pode chamar o mecânico”. Se este tipo de válvulas servisse para automóveis “possivelmente avariavam menos, mas os veículos eram três ou quatro vezes mais caros”, compara.
Entretanto a, Omnidea está a desenvolver o que poderá ser o primeiro foguetão português. No seguimento de um projeto mobilizador em que a empresa trabalhou conjuntamente com mais 10 entidades – o projeto Viriato – este tinha o objetivo de desenvolver e testar um lançador suborbital e todos os seus componentes que, mais tarde, possibilitassem o lançamento de satélites de território nacional. Findo o projeto Viriato, a Omnidea seguiu com o desenvolvimento dos diversos componentes do lançador estando o motor em testes em Inglaterra e outros componentes a fazerem testes iniciais na Ota. A equipa pretenderá lançar o engenho, daqui a uns anos, no porto espacial de Santa Maria nos Açores, que se espera esteja em pleno nos próximos anos. O amplo apoio nacional, via Agência Espacial Portuguesa ou outros programas de financiamento nacionais assim como a utilização de programas de financiamento público Europeu são fundamentais uma vez que o desenvolvimento destes sistemas é extremamente oneroso – podendo chegar às centenas de milhões no caso de várias empresas estrangeiras do sector – e no caso da Omnidea, com cerca de uma dezena de milhões.
Jovens talentos gostariam de encontrar casa no concelho
Na unidade da Omnidea em Arruda dos Vinhos trabalham atualmente entre 6 e 10 pessoas entre engenheiros e técnicos. A empresa privilegia o dar emprego a pessoas da região como é o caso de Nuno Garcês, 42 anos. Residente em Alenquer e que, anteriormente, trabalhava na área da Manutenção Industrial e Metalomecânica com uma vasta experiência de vários anos. Sempre trabalhou naquele ramo, decidiu enviar um currículo para a Omnidea. O trabalho na Omnidea, relata, é “aliciante” e “todos os dias aprendemos coisas novas”, no entanto, no dia em que se conseguir fazer um lançamento de um foguetão de Portugal “será um dia especial”. “Naquilo que for a minha participação ficarei contente, e será muito bom, algo diferente no nosso país, embora a nossa indústria aeroespacial esteja muito desenvolvida”
Já Luís Santos, 30 anos, é engenheiro mecânico. Reside em Arruda dos Vinhos e nunca pensou que podia encontrar o emprego dos seus sonhos mesmo à porta de casa. “Acabei o curso em julho e vi esta oportunidade através de um anúncio. Tem sido uma oportunidade espetacular que aparece uma vez na vida”. Para já diz-se um apaixonado por aquele tipo de trabalho e da indústria em si, “como toda a atenção ao detalhe de forma muito minuciosa”.
Já Eduardo Guia, 26 anos, vem todos os dias de Pinhal Novo para Arruda dos Vinhos. Entrou na empresa há um ano e meio. É engenheiro mecânico. A indústria da aeronáutica “é muito cativante, as matérias-primas são incomuns, a exigência é enorme e obriga-nos a estar um passo à frente no domínio da engenharia”.
O site manager, Ricardo Penedo, 39 anos, engenheiro aeroespacial, está na Omnidea há 14 anos. “Comecei inicialmente num projeto de balões de muito alta altitude. Entretanto, fui para a empresa na Alemanha para a parte dos componentes e das válvulas para o espaço. Estive lá 6 anos e meio e regressei para liderar este projeto aqui de Arruda”. Vive em Odivelas, e refere que existe falta de habitação em Arruda que permitisse melhor fixar os trabalhadores da Omnidea.
Refere que para Omnidea é importante que a empresa seja conhecida pela comunidade arrudense- “Essa é a nossa ideia, sermos vistos como uma empresa âncora e relevante e que tenhamos mais pessoas que aspirem a vir trabalhar connosco”.