Há artistas que entram em palco e parece que ligam um interruptor. Com João Baião não é bem assim. O palco é mais casa do que cenário, mais coração do que rotina. Em Vila Franca de Xira, esta sexta e sábado, o público vai receber não apenas um espetáculo. Vai receber um momento de oxigénio, no sentido literal da palavra, como o próprio garante. Baião de Oxigénio é um convite para respirar fundo num tempo em que, como diz o ator, “o mundo anda conturbado” e é preciso recordar o simples prazer de rir e esquecer o cinzento das rotinas.
Nesta nova criação da B Produções, Baião abre a porta ao público para um espaço muito seu: o das ideias que surgem todos os dias, em conversas internas que explodem em imaginação. Confessa que este é talvez o espetáculo mais pessoal que já levou a palco. Não apenas porque parte de inspirações íntimas, mas porque assume as próprias dúvidas, fragilidades e inquietações de artista. É um Baião menos impenetrável, mais humano, que mostra que até os grandes performers também carregam perguntas. E que podem partilhá-las com leveza e humor.
O espetáculo, que já percorreu o país em mais de 60 apresentações, mistura teatro, dança, música e momentos que arrancam gargalhadas, mas também um silêncio emocionado quando a plateia se deixa tocar. O ator evita revelar demasiado, para não estragar o efeito surpresa, mas descreve-o como o mais completo das últimas produções. Diz-se orgulhoso da equipa que o acompanha, dos figurinos, dos bailarinos e da energia que se renova em cada cidade. E faz questão de sentir cada público como se fosse o primeiro.
Quando fala do Ateneu Artístico Vilafranquense, o entusiasmo é imediato. Diz que é uma sala extraordinária, daquelas que ficam na memória. E espera casa cheia para duas noites em que promete dar tudo e mais um pouco. No fim de cada sessão, gosta de ficar com o público. Fotografias, abraços, palavras rápidas. É um ritual que repete religiosamente e que o ajuda a perceber o impacto real do espetáculo em quem saiu de casa para o ver.
Sobre a energia inesgotável que todos lhe reconhecem, diz não ter explicação. É como é. Admite que às vezes estranha a si próprio. Gravações até às duas da manhã, chamadas matinais na televisão, ensaios, viagens, palcos diferentes todos os fins de semana. Mas nunca se sente cansado. Talvez porque gosta verdadeiramente do que faz. Talvez porque, como confessa, os seus animais são o seu verdadeiro power bank. Ou talvez porque quem vive com paixão não se esgota, apenas transborda.
No fim, João Baião deixa o convite direto: que Vila Franca apareça, que se renda, que se divirta. “Não se vão arrepender.” Não é promessa vã. É apenas a voz de alguém que ainda acredita no encanto do teatro, na magia do encontro e no privilégio de fazer parte da vida das pessoas, mesmo que apenas por uma noite
