A chegada do supermercado espanhol Mercadona e a requalificação da Auchan, antigo Jumbo, estão a operar uma mudança profunda na cidade de Alverca. Às portas de Lisboa, a localidade tem estado debaixo dos holofotes das grandes insígnias comerciais, sendo que neste momento, muitas das outras marcas, já investiram nas suas lojas, antecipando a chegada do gigante espanhol.
Uma das alterações mais visíveis e com maior impacto, será ao nível do transito e das acessibilidades. Alverca já é uma cidade onde moram mais de 40 mil pessoas, mas esse é apenas um número indicativo, dado que a localização do supermercado espanhol, à semelhança do que aconteceu noutros pontos do país, atrairá muitas pessoas de fora, aumentando assim em certa medida o fluxo de trânsito nas estradas locais, já de si sobrecarregadas, como é o caso da Estrada Nacional 10, que há vários anos é uma dor de cabeça para a Câmara Municipal e juntas de freguesia.
Embora persistam críticas ao excesso de superfícies comerciais no concelho de Vila Franca por parte das forças políticas locais, nomeadamente, da CDU, estas têm sido autorizadas pelo ministério da Economia, e as autarquias pouco ou nada podem fazer, sem ser aproveitar o momento para alguma revitalização rodoviária, tentando melhorar acessos.
Em Alverca, a chegada da Mercadona, acaba por funcionar também dessa forma. Em declarações ao Valor Local, o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, sublinha que em curso, estão duas operações. Para além das obras no espaço onde ficará a Mercadona e mais outras três lojas do grupo, decorrem também as obras na Auchan, que como noticiou o Valor Local, incluem a Loja do Cidadão, uma nova área comercial e um complexo de apartamentos para arrendamento.
O presidente da Câmara sublinha que estas operações “são importantes na requalificação da entrada sul da cidade de Alverca”, garantindo que ambas “têm as acessibilidades devidamente estudadas”, devolvendo as críticas à CDU que “sistematicamente levanta dúvidas” sobre o assunto.
Segundo o autarca vai nascer uma rotunda nova de acesso à Mercadona para substituir o atual cruzamento que “é um ponto complicado junto da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense”, e anuncia também “um acesso na rua que vai para as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA)”.
As obras não ficam por aqui, e o autarca sublinha ainda que nesta transformação “vai ser possível criar também acesso pedonal e ciclável, com ligação direta às escolas Gago Coutinho e Pedro Jacques de Magalhães”, que ficam paredes meias uma com a outra, esclarecendo que “passará a haver uma nova via, entre o que é hoje o estacionamento entre escolas junto à estação de Alverca e a rotunda da Auchan (antigo Jumbo).”
Fernando Paulo Ferreira reforça que o assunto já foi explicado várias vezes em reunião de câmara e vinca mais uma vez que “todas estas intervenções não só foram estudadas, como estão ainda por cima em curso”.
Segundo o autarca, a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira está a trabalhar em conjunto com a Infraestruturas de Portugal (IP) para continuar a requalificação da Estrada Nacional 10. Esta obra começará desde a zona da Malvarosa e atravessa “toda a cidade de Alverca, com o objetivo de melhorar as condições de circulação pedonal, ciclável e rodoviária em toda a extensão da cidade”. Aliás na senda do que a Câmara municipal já fez entre o início do concelho na Póvoa de Santa Iria até à zona da Malvarosa”, e que nesta altura tem passeios, ciclovia e é hoje “uma avenida urbana”, refere o autarca que garante que “toda essa filosofia continuará a atravessar a cidade de Alverca”.
Ainda no que toca à zona envolvente à Mercadona, Fernando Paulo Ferreira sublinha que o município “fez um grande investimento na criação de mobilidade para todos”. “Havia ali problemas de acessibilidade em que as pessoas de cadeira de rodas, por exemplo, tinham muita dificuldade em fazer o percurso, desde a estação até ao centro da cidade”. Segundo o autarca, as intervenções levadas a cabo pela Câmara possibilitaram agora outra fluidez naquela zona da cidade.
CDU de Vila Franca preocupada com a falta de planeamento
Nuno Libório, vereador da CDU na Câmara de Vila Franca de Xira, diz estar preocupado com o previsível aumento de trânsito na cidade de Alverca. O autarca acusa o presidente da Câmara de não fornecer informação sobre o projeto, pese embora o próprio presidente reforçar que o fez em reunião de câmara mais do que uma vez.
Certo é que Nuno Libório, acusa o autarca de não responder às questões da CDU “por teimosia” e salienta que “este é um problema crónico” do executivo socialista “que não respeita a oposição que existe no executivo da Câmara Municipal”.
De acordo com o vereador a CDU, aquela força política tem vindo a alertar para os problemas advindos do aumento de trânsito naquela zona da cidade. Em causa está o movimento comercial “que será gerado entre estas duas novas superfícies comerciais no centro da cidade de Alverca, em áreas já de si completamente saturadas”.
“Temos neste momento em Alverca a maior concentração de áreas comerciais de grande dimensão de que há memória inclusivamente na Área Metropolitana de Lisboa, sem que isso seja acompanhado de estudos efetivos bem como de soluções para o trânsito”, refere ao Valor Local o vereador da CDU que considera a situação recorrente, mas “que ainda pode ser resolvida caso a Câmara Municipal imponha alterações dos respetivos contratos de urbanização cujos teores e fundamentos nós desconhecemos em absoluto”.
O vereador lamenta que o município vá apostar na edificação da Loja do Cidadão nas instalações da Auchan, o que considera um erro, tanto nos montantes que vai pagar à empresa através das rendas, quer no que toca à centralidade dos serviços e acusa o município de fazer uma parceria público-privada.
O autarca lamenta inclusive a falta de aposta e estratégia junto do pequeno comércio, embora refira que a CDU nada tem contra as grandes superfícies comerciais, mas sublinha que não existe nenhuma medida em concreto por parte da Câmara para “a regeneração do comércio tradicional do concelho de Vila Franca de Xira está hoje numa situação de sufoco”.
PSD quer o fim das portagens de Alverca
Para o PSD de Vila Franca de Xira, existe uma necessidade urgente em voltar a discutir todas as acessibilidades do concelho, com uma especial atenção para a Estrada Nacional 10 entre a Póvoa de Santa Iria e Alverca do Ribatejo.
Em declarações ao Valor Local, David Pato Ferreira, vereador do PSD na Câmara de Vila Franca, recorda que o partido tem vindo a defender a o impedimento do atravessamento de pesados na Estrada Nacional 10 na zona entre a Póvoa de Santa Iria e o Forte da Casa “por uma questão de qualidade de vida das pessoas que ali vivem”. O vereador que se assume como não sendo contra as novas superfícies comerciais “muito pelo contrário”, reforça que as mesmas trazem qualidade de vida aos moradores da zona, mas a chegada destas só será efetiva com “mais e melhores acessibilidades, que é o que falta na cidade”.
O vereador lembra que o problema não é de agora, mas a chegada deste novo supermercado a juntar à requalificação do espeço do antigo Jumbo, agora “Auchan”, “acarreta mais dores de cabeça aos moradores e aos visitantes, criando constrangimentos com o fluxo de trânsito se nada for feito.”
Ainda assim, David Pato Ferreira diz ter a noção de que este é um problema complexo e que não se resolve “de hoje para amanhã”.
“Não é uma solução fácil. Não podemos dizer que resolvemos já amanhã, ao contrário de outros que acham que quando liderarem a Câmara resolvem tudo em 30 segundos” refere David Pato Ferreira numa alusão direta aos comunistas da CDU.
O autarca salienta que a solução tem de ser de fundo e que pese embora os trabalhos que vão ser feitos agora na chegada do novo supermercado, tudo “passa pela requalificação da Nacional 10”, nomeadamente pela discussão da construção da “variante de Alverca” que segundo o vereador deve voltar ao debate, lembrando que a mesma, a ser construída retiraria muito trânsito, nomeadamente, de pesados entre a Póvoa de Santa Iria e Alverca.
Para o vereador, é importante também ter em atenção o fim das portagens de Alverca. Tal transformaria a A1 numa variante, e seria mais uma ajuda de peso, assim como aconteceu no início dos anos 90 com o fim das antigas portagens de Sacavém.
Mas esta é uma luta transversal aos partidos. A CDU deu o mote mal caíram as portagens de Sacavém, e mais recentemente, o PS e PSD voltaram a trazer o assunto a lume, ainda assim, tudo não tem passado de intenções e não se vislumbra para já uma resolução fácil, junto da BRISA e da IP, neste caso.
Ainda assim o vereador refere que mesmo com bons acessos, o trânsito a esta nova superfície comercial será significativo, com a vinda de pessoas não só do concelho de Vila Franca, como de zonas limítrofes. David Pato Ferreira salienta que o exemplo disso pode ser visto no Retail Park de Santarém que de um momento para o outro, passou a ser uma espécie de local de peregrinação comercial, tendo inclusivamente aumentando o número de viaturas para aquele espaço, desde que a Mercadona assentou arraiais na cidade scalabitana.
Já quanto à loja do Cidadão, o PSD diz-se “totalmente de acordo”. O vereador refere que esta é uma boa solução para as populações que vão encontrar ali os vários serviços, sejam as finanças, a loja do munícipe, ou a Segurança Social. Para David Pato Ferreira, esta obra não deve ser usada para fazer política. “Não vale dizermos uma coisa de manhã e outra à tarde” recordando por exemplo que no programa eleitoral, o PSD já defendia a centralização dos serviços municipais. “A CDU acordou agora para isso, como se viessem defender o Santo Graal. Quando na verdade lá atrás quando essa solução foi votada na Câmara Municipal se abstiveram”, refere o vereador.