O Centro Operativo e Tecnológico do Arroz (COTARROZ) em Salvaterra de Magos acabou, através de um melhoramento genético das sementes, de alcançar uma nova variedade de arroz carolino, o Caravela. Produtores e outros atores do setor estão entusiasmados e deram a conhecer os resultados na última edição do Festival do Arroz Carolino e das Lezírias Ribatejanas que decorreu em Samora Correia em maio. Pela mão de Lourenço Palha, engenheiro agrónomo responsável na empresa, ficámos a conhecer os campos de ensaio e o processo de seleção, melhoramento e aperfeiçoamento até se chegar ao resultado de todo o processo evolutivo do arroz carolino.
Nos campos de ensaio da propriedade é feito o programa de melhoramento genético do arroz desde 2003. “O que fazemos é agarramos em duas variedades distintas de sementes estrangeiras, cruzamo-las artificialmente, o que dá origem a uma semente com uma base genética completamente diferente”. A partir dessa altura “vamos introduzir essas sementes no campo para percebermos se se adaptam ou não, as que não vingarem são deitadas fora, até darmos origem a uma planta que é completamente portuguesa”. Todo este caminho pode demorar 20 anos. Foi o que aconteceu com o “caravela”, “a primeira e única variedade portuguesa de arroz que existe atualmente”. Para se chegar ao Caravela foram necessários “milhares de cruzamentos”.
“Caravela” começa a ser comercializado no final deste ano
A grande mais-valia do carolino caravela “é que é mais adaptada, não sendo tão sensível aos fungos e às doenças, acabando por ser também muito produtiva”. Industrialmente tem um senão, para já, “o bago é mais sujeito a quebra”, mas em termos de sabor “é muito bom”. O Caravela vai começar a ser comercializado “no final deste ano”, salienta Lourenço Palha. Estará disponível na cadeia de supermercados Continente, através de uma pareceria entre os produtores e a Sonae. Também é objetivo que estes processos de melhoramento genético se possam traduzir no fim de contas, “numa transferência de royalties” por parte de mercados estrangeiros que queiram plantar carolino, sempre sob denominação de origem protegida. Em Portugal produzem-se 180 mil toneladas de arroz por ano. Todos os anos são efetuados no COTARROZ 600 cruzamentos de sementes.
O COTARROZ trabalha para todo o país em instalações do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. Aqui desenvolve-se o trabalho em torno do carolino que sofre cada vez mais a concorrência do arroz basmati, 20 para 17 por cento na quota de mercado, enquanto o arroz agulha é líder. Normalmente o carolino “é muito bem exportado” e é o produto de eleição dos orizicultores portugueses. O basmati apesar de ser a grande moda das cozinhas a nível mundial não conseguiria ser cultivado em Portugal, devido ao facto de possuir denominação de origem protegida ao ter sido patenteado.
O arroz carolino produzido na nossa região seja através da Orivárzea com sede em Salvaterra; seja pela Mundiarroz, Coruche, é maioritariamente consumido em Portugal, enquanto noutras zonas do país segue para exportação para países do Médio Oriente, como “por exemplo o arroz que se cultiva no Mondego”. Mas Portugal e o seu carolino já sofre a concorrência da Califórnia e da Austrália que tentam copiar esta variedade, “que exportam por exemplo para a Jordânia a preços mais baratos”.
O arroz português carolino é dos melhores a nível mundial, até porque segundo as normas europeias há uma série de critérios de segurança alimentar apertados, ao contrário do que acontece com arrozes de outras partes do mundo. Um dos próximos objetivos do COTARROZ é produzir uma variedade de agulha que “seja mais competitiva”, o que não será fácil porque “o arroz agulha importado chega cá muito barato”. “Temos aqui um papel muito importante para o nosso setor e agricultores que é criar variedades com as melhores capacidades e características, mas o agricultor tem de cumprir uma série de critérios à risca no campo”.