Vai entrar em funcionamento já no início do ano a Unidade Local de Saúde (ULS) do Estuário do Tejo que vai englobar os municípios abrangidos pelo Hospital de Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente, Alenquer e Vila Franca de Xira. O objetivo desta Unidade Local de Saúde é na sua essência mudar o quadro administrativo dos cuidados de saúde primários com o objetivo de tentar colmatar a falta de médicos de família, que é considerada pelos autarcas como “gritante”, não só na região de Lisboa e Vale do Tejo como noutras partes do território nacional. Se será uma autêntica revolução nos cuidados de saúde primários ou uma mera operação de cosmética pela extinção da já muito contestada Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo só o tempo o dirá
Este é um modelo de gestão que agrega cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares e cuidados continuados, e que no caso do Estuário do Tejo, deverá ser dirigido pelo presidente do Conselho de Administração do Hospital de Vila Franca de Xira, Carlos Andrade Costa, algo que está a ser bem recebido pelos autarcas dos cinco concelhos, segundo apurou o Valor Local.
Fernando Paulo Ferreira, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, encontra-se expectante quanto a esta nova reorganização da saúde na região. Em declarações à Rádio Valor Local, o autarca recorda que a inexistência de médicos de família, que afeta cerca de 70 por cento por cento da população do concelho, “tem trazido muitas dificuldades às pessoas, sobretudo aquelas que se encontram em situação mais vulnerável de doença”. É nesse sentido que o autarca vilafranquense salienta que esta reorganização poderá ser positiva, já que ao nível da estrutura “a gestão passará a ser integrada com o hospital”. “Isso poderá trazer mais recursos ao conjunto da rede de resposta de saúde em todos estes cinco concelhos, nomeadamente, no concelho de Vila Franca de Xira”. “É claro que é preciso que depois a gestão seja muito cuidada, e que se dê uma particular atenção aos cuidados primários de saúde”, sublinhando que de momento já existe “uma pressão grande no hospital porque os centros de saúde não dão resposta às pessoas. Ainda assim, Fernando Paulo Ferreira, sublinha que esta solução não será milagrosa. “Não tenho expetativas que resolva tudo porque a falta de médicos continuará a existir, e passarão alguns anos até ficar completamente resolvida”. Já quanto à liderança de Carlos Costa, em todo este processo, Fernando Paulo Ferreira, refere que o município tem uma boa relação com o administrador hospitalar.
O autarca refere, ainda assim, que esta nova ULS deverá ter “uma gestão bastante rigorosa e eficiente” e salienta que atualmente os canais institucionais entre a Câmara e o hospital “funcionam plenamente”, sendo que “transmitimos permanentemente a preocupação que temos com o funcionamento do próprio hospital e temos dado todo o apoio possível às iniciativas que o aquela unidade também vai tendo em diversas áreas da saúde”.
Para André Rijo, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos, esta pode ser também uma oportunidade para resolver a falta de médicos na região. O autarca, em declarações à Rádio Valor local, sublinha que o próprio município já criou um grupo de trabalho, tendo em vista essa reorganização, e tendo em conta a estratégia municipal de saúde “que é uma obrigatoriedade no âmbito daquilo que é o quadro da descentralização de competências do Estado central para as autarquias locais em matéria de saúde”.
André Rijo sublinha ainda que esse é um grupo que conta com a colaboração da administração do hospital. Sobre a UL, recorda que o Hospital de Vila Franca tem um papel central nesta nova organização e na futura dinâmica “e portanto é nisso que estamos a trabalhar”.
Sobre a nova organização, André Rijo destaca que não sendo especialista na área da saúde, enquanto decisor político consegue “vislumbrar vantagens num modelo em que há uma verticalização do sistema na prestação de cuidados de saúde, integrado no objetivo daquilo que são os objetivos a nível dos cuidados de saúde primários”.
Já Silvino Lúcio, presidente da Câmara Municipal de Azambuja, é mais cauteloso neste processo. O autarca refere ter uma “uma relação muito boa com o administrador do hospital, Carlos Andrade Costa”, mas assegura que este modelo “pode trazer algumas complicações”. Para o presidente da Câmara de Azambuja, a saúde “está um bocadinho espartilhada por diversos setores”. “Por isso, centralizar por vezes é bom porque fica-se com o comando da operação e apenas um só centro de decisão”. Ainda assim e tendo em conta a necessidade de ser um modelo mais flexível, nomeadamente, no que toca à contratação de novos clínicos, Silvino Lúcio salienta que quer esperar para ver.
Já Carlos Coutinho, presidente da Câmara de Benavente, refere que formalmente nada foi comunicado ainda, contudo as expetativas para o que se seguirá são altas, “porque implicam um novo modelo de governação em simultâneo para as unidades de cuidados de saúde primários e o hospital”, mas é da opinião de que o futuro diretor da ULS tem pela frente um trabalho difícil “porque neste território de cinco concelhos há centros de saúde e trabalhar bem e outros menos bem”. “Temos algumas apreensões naturalmente. Não queremos é fazer jus àquele ditado – Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, começa por lembrar que o município fez a sua parte ao abrigo da transferência de competências pois ficou responsável pelos centros de saúde naquilo que são as condições físicas, bem como pelos assistentes operacionais, mas quanto a mais médicos de família permanece tudo na mesma. O Carregado que é a localidade mais populosa do concelho continua sem médicos de família e Pedro Folgado espera que esta reorganização administrativa produza efeitos práticos neste domínio. Na sua opinião Carlos Andrade Costa tem feito um bom trabalho após o fim da PPP no hospital, “e esperamos que possa reproduzir os bons resultados que outras ULS já conseguiram ter noutras zonas do país”.