A Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo entra num novo ciclo com a nomeação de Nuno Cardoso como presidente do conselho de administração para um mandato de três anos. O gestor, que regressa ao universo do Hospital de Vila Franca de Xira depois de ter integrado a administração entre 2018 e 2021, é originário do Grupo José de Mello Saúde, proprietário dos hospitais CUF. O Governo entregou-lhe a liderança da ULS numa fase de transição decisiva, marcada pela preparação da futura parceria público-privada anunciada para o hospital. A mudança está a ser acompanhada com atenção máxima pelos municípios, sobretudo Vila Franca de Xira, que concentra a maior pressão assistencial da região.
Municípios exigem respostas imediatas à nova administração”
O presidente da Câmara de Vila Franca, Fernando Paulo Ferreira, considera que a administração cessante deu uma resposta insuficiente e deixa um conjunto de problemas graves por resolver. “O que preocupa os autarcas é uma coisa muito simples: o serviço prestado às populações”, afirma. O autarca sublinha que a ULS serve cinco concelhos e cerca de 250 mil pessoas, e destaca como prioridades absolutas o restabelecimento do funcionamento contínuo das urgências pediátricas e obstétricas e a salvaguarda da maternidade. “A urgência pediátrica e obstétrica tem de funcionar 24 horas, como sempre funcionou, e é preciso garantir que a maternidade do Hospital de Vila Franca de Xira não encerra”, defende.
Lembra ainda que cerca de metade do concelho permanece sem médico de família, situação que considera “inadmissível”, e espera que a nova administração enfrente de imediato estas falhas estruturais. Sublinha que, apesar de o novo conselho de administração ter carácter transitório até ao final do ano, isso não pode comprometer a qualidade do serviço: “O hospital tem de servir melhor 250 mil pessoas. É isso que esperamos desta administração.” Aguarda também nova reunião com a Ministra da Saúde, compromisso assumido pelo Governo na última reunião com os cinco municípios.
Nos restantes concelhos abrangidos pela ULS Estuário do Tejo, as posições são igualmente firmes. Em Arruda dos Vinhos, o presidente da autarquia Carlos Alves apela a uma estratégia mais integrada entre cuidados primários e hospitalares. “Precisamos de respostas concretas, mais especialidades de proximidade e meios complementares de diagnóstico descentralizados”, afirma. Defende ainda uma relação mais próxima entre ULS e autarquias, com comunicação transparente e representação direta.
Em Benavente, a presidente da Câmara Sónia Ferreira insiste que o regresso à parceria público-privada é a única forma de recuperar níveis de serviço adequados. “O hospital precisa de uma nova liderança e de um novo modelo. A PPP é a única forma de garantir respostas eficazes às populações do concelho de Benavente”, afirma. Entende que a administração agora nomeada deve preparar esse processo.
Em Azambuja, o presidente da Câmara Silvino Lúcio destaca um problema que, segundo afirma, nunca foi resolvido: a inexistência da figura do representante dos municípios junto da ULS. “A lei prevê um interlocutor designado pelos municípios, mas isso nunca existiu”, refere. Espera que a nova administração “mude de atitude” e melhore as condições de saúde no concelho, sobretudo no acesso aos cuidados primários. “Precisamos de uma administração que traga luz ao fundo do túnel”, afirma.
Falta de médicos de família continua a marcar o território
Em Alenquer, o presidente da autarquia, João Nicolau coloca a ausência de médicos de família como primeira prioridade. “Temos milhares de pessoas sem médico atribuído. Esta é uma responsabilidade da ULS e do Estado central”, sublinha. Defende uma relação “próxima, cordial e eficaz” com a nova administração, embora reconheça que a implementação da PPP poderá não ser imediata. O autarca lembra que o município tem investido nas instalações de Olhalvo e Abrigada, no esforço de atrair profissionais.
Com a nomeação de Nuno Cardoso, um gestor com experiência no setor privado da saúde e conhecimento prévio do Hospital de Vila Franca, os municípios esperam finalmente ver respostas a problemas que se arrastam há meses. As próximas semanas serão determinantes para perceber se a nova administração conseguirá estabilizar as urgências, reforçar os cuidados primários e recuperar a confiança das populações.








