Maria Jacinta, 65 anos, vive em Virtudes e há cerca de cinco meses convive todos os dias com o cheiro a creolina decorrente da lavagem de pavimentos por parte de um vizinho que tem animais. O líquido das lavagens corre pela via pública e apesar da creolina não ser completamente proibida em Portugal, o seu uso deve ser o mais reservado possível. Não é permitido que a substância seja atirada para a via pública como resultado de lavagens, como é o caso.
No dia da nossa reportagem eram alguns os vizinhos que se encontravam na rua, mas que não quiseram falar por receio de represálias do morador em incumprimento. Maria Jacinta estivera nessa manhã na reunião de Câmara a dar conta do problema. Já antes se queixara à junta de Aveiras de Baixo, mas José Fortunato Martins, presidente da autarquia, não deu seguimento. Quanto à GNR diz que tem de apanhar em flagrante o alegado prevaricador.
Na rua onde vive, na Silva Wallace, nunca presenciou algo deste género. Reformada diz não ter outro sítio onde residir. Não consegue abrir as janelas de casa porque o cheiro que vem da rua é insuportável. Com isso a casa fica ainda mais sujeita à acumulação de humidades, e refere que o colchão da cama, divisão que tem janela para a rua em causa, está completamente molhado. “Ando a lutar como posso. Já falei com a pessoa em causa, sempre com bons modos, e aconselhei a usar lixívia, mas ela respondeu que faz mal aos cães”.
Praticamente todos os dias aquele produto é utilizado e o resultado das lavagens corre a céu aberto para a via pública. Maria Jacinta passou a enxugar a roupa em casa com recurso a um desumidificador, porque estender no exterior está fora de questão. Quando o cheiro é mais intenso nem consegue alimentar-se. “Ontem tive de deitar o meu pequeno-almoço fora”. Por vezes vai passar o dia em casa de amigas. A moradora em Virtudes diz mesmo que há dois meses que não consegue abrir as janelas.

Moradora apresentou queixa por escrito na Câmara mas foi ignorada
Em reunião de Câmara, o presidente da autarquia Silvino Lúcio disse ser desconhecedor da situação, apesar de Maria Jacinta ter formalizado a exposição por escrito, anteriormente, nos serviços do município. A vereadora Ana Coelho em reunião de Câmara informou que vai tentar solucionar o caso e que já deu conta da ocorrência junto dos serviços de Ambiente do município e do Serviço de Proteção da Natureza da GNR.
A saúde de Maria Jacinta também está a deteriorar-se porque o produto afeta-lhe a visão. Quando sai de casa tem de o fazer com máscara. “Como é que eu vou viver dentro da minha casa?”, deixa a interrogação.
“Vivo com uma pequena reforma de 500 euros e com a vida que Deus decidiu dar-me. Nunca pedi nada à Câmara nem peço. Só quero que isto se resolva para que possa voltar a viver como antes”.