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Ases pelos Ares em Salvaterra de Magos e Santo Estevão

Tudo começou em finais da década de 80, quando Carlos Matias que dava aulas na Escola Básica e Secundária de Salvaterra de Magos, decidiu abraçar um projeto para lançar mão de uma nova modalidade em parceria com o município e assim nasceram os Trampolins em Salvaterra de Magos, primeiro enquadrados no Volley Club de Salvaterra e depois no Clube Desportivo Salvaterrense, e autonomamente desde 1995. Desde os anos 90 que esta modalidade tem sido um viveiro de campões em conjunto com o clube congénere de Santo Estevão, no concelho vizinho de Benavente. Vários ginastas conquistaram títulos europeus e mundiais. Foram desde campeões europeus a mundiais, numa modalidade em crescendo no nosso país. Comum aos dois clubes é o nome de um homem, Carlos Matias, atualmente selecionador nacional que nos revela numa palavra a chave do sucesso- Compromisso e Brio. É isso mesmo que tenta passar aos seus atletas. Em Salvaterra treinam atualmente 83 crianças e jovens, dos 3 aos 28 anos, num pavilhão sucessivamente remodelado pelo município nos últimos anos. As condições para a prática da modalidade e a valia desportiva dos resultados são de nível mundial, e por isso não admira que tantos pais tentem inscrever os filhos ainda muito jovens nesta modalidade.

Em Salvaterra de Magos, há nomes que ficaram no ouvido. Foram notícia na imprensa regional, nacional e constam dos anais da imprensa desportiva internacional por terem conseguido grandes feitos na modalidade. As irmãs Robalo, Andreia e Ana; Sofia Esménio; Ana Gomes, Rafael Holzheimer e claro Amadeu Neves que conquistou a primeira medalha de ouro num campeonato do mundo numa prova mundial, em 1994 e não mais parou, até 2012. Mais recentemente o clube tem entre a sua constelação de estrelas europeias e mundiais, só a título de exemplo, Lucas Santos, Ingrid Maior, Margarida Pinheiro e Madalena Pinheiro. “Uns tantos mais já estão na forja”, dá a conhecer Carlos Matias.

Numa destas tardes, o Valor Local assistiu aos treinos na coletividade. Muitas crianças são treinadas pela equipa técnica formada pelos treinadores Carlos Matias como Hélder Silva, que há muitos anos, igualmente, treina e acompanha ginastas das seleções nacionais, Renata Correia, Inês Caramelo, Natanael Pinheiro, Ingrid Maior, e os monitores Ana Ferreira e Daniel santos. Colaboram também as juízes internacionais Marília Abana e Ingrid Maior.

Numa destas tardes, o Valor Local assistiu aos treinos na coletividade. Muitas crianças são guiadas pelos respetivos treinadores como Hélder Silva ou Inês Afonso. O Clube de Trampolins de Salvaterra recebe muitas vezes equipas de outras partes do país dadas as suas condições, que apenas encontram algum tipo de paralelismo com as de Santo Estevão e com as do Centro de Alto Rendimento de Sangalhos- Anadia. Desde que o pavilhão foi requalificado em 2022 que se tornou ainda mais apetecível para a modalidade. Disso mesmo dá conta a presidente do clube, Michelle Soares, que lembra os tempos em que não havia “grandes condições”, quando “por vezes até chovia cá dentro”. Por ano, o clube chega a investir entre seis a sete mil euros, porque os materiais são de desgaste rápido. Uma lona chega “aos 2 mil e tal euros”. Neste campo, o clube recorre às quotizações dos sócios, eventos, e ao apoio da Câmara de Salvaterra que tem sido uma parceira importante. Desde que as instalações foram alvo de requalificação que a procura da modalidade triplicou no concelho.

Carlos Matias é um dos paladinos da modalidade em Portugal

Carlos Matias dá a conhecer que a partir de dada altura deixou de comunicar todos os resultados dos atletas, para não dispersar os possíveis interessados na modalidade – “Temos ginastas campeões da Europa e do Mundo e vir alguém a começar do zero podia achar-se um nabo ao pé dos ginastas, então passámos a dar a conhecer esses resultados uma ou duas vezes por ano, porque o mais importante é mostrar que isto é uma fonte de felicidade e de formação”, relata.

Atualmente a seleção da China é a mais titulada a nível mundial e uma feroz competidora, mas “nós fazemos um milagre, um segredo que os portugueses escondem, mas que no fundo não é segredo nenhum”, brinca. Carlos Matias coloca as coisas nestes termos tendo em conta que internacionalmente há atletas de outros países que podem treinar todo o dia, e não apenas duas horas diárias como os portugueses. “Se tivermos 10 ginastas talentosos, cinco deles vão estar na seleção nacional”. Depois de uma carreira recheada de sucessos, muitos atletas tornam-se treinadores e isso acontece não apenas em Salvaterra, mas também em Santo Estevão, embora nem sempre seja fácil “encontrar treinadores” para o clube.

Em 2022, o pavilhão apareceu de carac lavada e com o nome do professor Carlos Matias

Sempre em busca da renovação nas gerações de atletas, há quem comece na modalidade em tenra idade, logo aos três anos. Muitas crianças abaixo dos 12 anos treinavam no dia da nossa reportagem, compenetradas nos seus saltos e apoiadas pelos treinadores iniciam-se nesta dança de saltos e mais tarde quando dominarem o trampolim e os movimentos, cambalhotas e piruetas pelos ares. Os praticantes mais velhos chegam a saltar vários metros até dar vertigens a quem observa. São uma espécie de ases pelos ares onde o teto do pavilhão é o limite. “Quem quer vir para cá tem de experimentar durante pelo menos 15 dias, depois vai ser pedido um compromisso. Isto não pode funcionar como uma inscrição banal num ginásio em que se desiste logo a seguir”. “Os pais devem organizar-se em termos logísticos para se assegurar que há uma continuidade do atleta na modalidade”. Chegam também alguns adolescentes para começar a praticar, “mas vão sentir mais dificuldades, porque a nossa metodologia de formação implica saltar alguns degraus e não vários de uma vez para se chegar ao topo”.

Carlos Matias é um crente na capacidade dos seus atletas seja pela disciplina empregue no trabalho junto dos mesmos quer pela motivação que estes vão encontrando todos os dias na disciplina – “Os resultados vão acabar por surgir porque aqueles que se comprometem, e conseguem intenção e disciplina, vão acabar por ter bons resultados”.

Ao contrário do que acontece no futebol, aqui os pais não interferem com as dinâmicas do treino. “Isto é ginástica e nem toda a gente percebe de ginástica. Por vezes temos de explicar que têm de confiar em nós, porque sabemos muito bem o que estamos a fazer. A maior parte dos pais, verdadeiramente, gosta tanto de nós como os ginastas. Nós temos brio naquilo que fazemos, e por isso os pais podem assistir aos treinos durante o tempo todo. Trabalhamos para não cometer gaffes”.

A residir em Salvaterra de Magos desde que foi colocado a dar aulas nos anos 80 na Escola Básica e Secundária, considera que fez a escolha certa – “Decidi que faria o contrário de outros professores e colocaria a casa ao pé da escola e não a escola mais perto de casa. Fui muito feliz com esta decisão”. Salvaterra tem uma grande vantagem para si, dado que é ao mesmo tempo “simultaneamente perto e longe de Lisboa”. Não esconde que com perto de 40 anos a viver e a trabalhar no concelho, já teve convites para a política local, mas nunca aceitou – “Tenho um projeto que ainda não está terminado. Penso que sou uma pessoa feliz porque descobri muito cedo que para sentir sucesso basta concentrar-me no sucesso dos outros. Portanto há muito tempo que estou no topo da carreira, digamos”.

O pavilhão de Santo Estevão vai entrar em obras a curto-médio prazo

Santo Estevão: Um desporto que se quer cada vez mais acrobático e espetacular

Bruno Nobre, hoje com 44 anos, é um dos atletas medalhados do Clube de Futebol Estevense na modalidade de trampolins. Atualmente treinador, conta que veio para o clube em 1992, já um pouco tarde nas suas palavras. Na altura tinha 14 anos. Era uma época em que não havia muita oferta a nível desportivo na localidade. Antes praticou andebol. Os trampolins foram um amor à primeira vista. Atualmente é selecionador distrital de trampolins e duplo mini e esteve na última Taça do Mundo como treinador nacional de duplo minitrampolim. É um dos atletas com a carreira mais longa no nosso país, dos 14 aos 37. Foi campeão do mundo em 1999, campeão da Europa por equipas em 2015, entre outros resultados ao mais alto nível.

Como muitos outros atletas do nosso país, manteve uma profissão simultaneamente, nos bombeiros sapadores de Lisboa. “Só mesmo o selecionador nacional é que pode viver dos trampolins”, dá conta para enfatizar o esforço que todos os dias muitos atletas fazem para conseguir conciliar estudos ou trabalho com a prática desportiva. Alguns deles estavam a treinar no dia da nossa reportagem, um dia de semana, já depois das sete da tarde, e de um dia exaustivo de trabalho e em muitos casos a algumas dezenas de quilómetros de Santo Estevão.

Foi com pena que em 2017 disse adeus aos trampolins enquanto atleta, mas já era treinador desde 2000. No primeiro ano em que ficou de fora da seleção tomou a decisão de colocar um ponto final na carreira. “Já era altura, o corpo doía por todos os lados, estava bastante cansado”. Chegou a partir um braço, um dedo do pé e foi operado a duas hérnias inguinais. Foi o preço a pagar pela magia daqueles segundos de imortalidade que esta modalidade consegue dar. A adrenalina em saltar e voar mais alto.

Bruno Nobre traça agora um trajeto como treinador

Ser treinador é igualmente exigente, desde o trabalho com o lado psicológico do atleta até à planificação do treino. Chegar aos  Jogos Olímpicos nesta modalidade como noutras é o topo da carreira. De quatro em quatro anos mudam as regras, e se houve uma altura em que se valorizava o grau técnico das execuções, “nesta fase o grau de dificuldade que cada atleta consegue atingir é o mais importante, quem saltar mais alto e conseguir mais mortais terá uma nota mais elevada”. A ginástica artística concentra a maior parte das atenções a par da natação e do atletismo em cada edição da grande montra mundial que são os Jogos Olímpicos e o fenómeno Simone Biles, a atleta americana, que consegue fazer o salto mais difícil da modalidade- o duplo mortal encarpado colocou ainda mais pressão noutras modalidades congéneres como o trampolim. “Sem dúvida porque ela é capaz de enfrentar desafios cada vez mais difíceis quase ao nível do setor masculino, e tem definido a bitola daquilo que as mulheres conseguem fazer na modalidade dela, com uma evolução no feminino bastante visível e que se estende também aos trampolins”.

Nos trampolins, o máximo que um atleta masculino consegue no ar são quatro mortais e uma pirueta e meia, isto num só elemento. Numa série de 10 saltos consegue-se oito triplos e dois duplos. Apenas um “núcleo muito fechado” consegue chegar aos quatro mortais. Bruno Nobre conseguia-o, “porque é tudo uma questão de prática”. “Durante cinco ou seis anos estamos a treinar triplos para depois chegarmos aos quatro mortais”. “A espetacularidade agora está na moda na competição internacional e este é um elemento importante”. Por dia e para um atleta chegar a este nível é preciso treinar quatro horas por dia, apenas o Diogo Ganchinho, atleta contemporâneo de Bruno Nobre “é que por ser sobredotado talvez não precisasse de treinar tanto”.

Atualmente treina vários atletas de alta competição que estão na seleção – Francisco José, Inês Correia, João Costa que foram campeões do mundo por idades.

É com Francisco José que falamos a seguir. Uma das principais estrela da companhia neste clube. Tudo começou quando tinha cinco anos. Foi também amor à primeira vista e treina todos os dias à exceção do fim de semana, normalmente duas horas por dia, enquanto concilia com as aulas no 12º ano. Tem 17 anos. Francisco José já ganhou um campeonato do mundo por idades em 2022; o campeonato do mundo em juniores em 2023, e mais recentemente a Taça do Mundo. Na sua opinião Carlos Matias tem um dom ao conseguir “fabricar” tantas fornadas de campeões ao longo dos anos. “Só pode ser magia dele de certeza”.

O futuro deste atleta já está mais ou menos traçado, pois diz esperar competir até 2032, no mínimo, e quem sabe ir aos Jogos Olímpicos. A modalidade que antes estava voltada para o perfecionismo e elegância hoje vai ao encontro da dificuldade e da espetacularidade. “Sinceramente é algo que não me agrada muito”. Apesar de conseguir dar 4 saltos mortais no ar, evita fazê-lo muitas vezes, apenas em algumas ocasiões. “Tenho medo porque é um salto muito perigoso”. O atleta lança o debate – “Até que ponto as instâncias internacionais da modalidade vão deixar ir a modalidade sem pensar no bem-estar do atleta para se assistir a movimentos impressionantes”. Muitas vezes o atleta pode ficar entre a vida e a morte num salto mal dado. A pressão nesta modalidade como noutras joga-se a todo o momento, em poucos segundos está em causa toda uma preparação de anos.

Inês Correia tem 14 anos e veio para os trampolins de Santo Estevão em 2022. Estava noutro clube, mas fez esta escolha devido ao professor Carlos Matias. Desde os seis que pratica a modalidade e a atração por estar no ar naqueles breves segundos é uma sensação que não mais quis perder. Inês Correia foi campeã do mundo em duplo mini e vice-campeã em Tumbling, modalidade em pista onde se pratica uma série de saltos acrobáticos.

Carlos Matias veio para os trampolins de Santo Estevão depois de Salvaterra. Foi aqui que veio encontrar um dos maiores expoentes da modalidade neste clube, Diogo Ganchinho que foi aos Jogos Olímpicos de Londres e hoje é selecionador nacional da equipa da Suíça, Nuno Merino outra estrela local dos trampolins é treinador dos Estados Unidos.

Carlos Matias é também um homem orgulhoso dos seus atletas de Santo Estevão, mas para que a modalidade continue a evoluir é necessário que o pavilhão sofra obras e uma delas passa por subir o teto, porque os atletas conseguem saltar cada vez mais alto. O projeto deverá recorrer aos fundos estruturais e comportará ainda adaptações térmicas, a construção de uma sala adjacente, bancadas e uma zona para os juízes que hoje não existe nas melhores condições. A ideia é que passe a ser centro de treinos nacional de trampolins. O custo não deverá ser muito inferior a um milhão de euros.

Sofia Fernandes e o Gonçalo um dos jovens praticantes em Santo Estevão

Sofia Fernandes é mãe do Gonçalo com sete anos. Veio viver para a localidade e considera que os trampolins são um elo agregador entre as pessoas da freguesia e isso é positivo. “Vai fazer um ano que o Gonçalo está cá e ele gosta muito do ambiente”. “De facto este é um fenómeno local aqui em Santo Estevão, temos vindo a descobrir isso mesmo”. Para já o Gonçalo já manifestou que um dia gostava de ser atleta mesmo à seria da modalidade.

É na perseguição de um sonho que o Gonçalo se encontra ainda em tenra idade, aqueles 20 segundos em que o mundo para, e espetador fica encantado com o que vê num desporto em que a técnica é mais do que o morfotipo, pois nos trampolins temos “atletas mais altos e mais baixos, mais musculados e menos musculados”.

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