Os responsáveis políticos do concelho de Azambuja estão admirados com o aparecimento de maus cheiros resultantes do funcionamento do aterro de resíduos não perigosos gerido pelo consórcio Suma, do qual faz parte, entre outros, a Mota-Engil, alegando que vão tentar, em reunião a acontecer nos próximos dias, fazer com que a empresa minimize o problema. O munícipe António Pires que vive paredes meias com a estrutura e que tem sido voz ativa neste tema, voltou a queixar-se em reunião de Câmara. O presidente da autarquia, Luís de Sousa, confirmou que de facto os maus cheiros começaram a aparecer nos últimos meses, apesar de não poder comprovar isso mesmo por ter ficado sem olfato devido a um acidente. Mas outros autarcas e intervenientes já puderam constatar o cenário descrito com as moscas e os maus cheiros, e confessaram a sua surpresa, apesar de em 2015 e numa entrevista exclusiva do Valor Local a um dos principais especialistas em resíduos do pais, Rui Berkemeier, na altura da associação Quercus e atualmente na associação Zero, este ter alertado que os maus cheiros acabariam por ser uma realidade bem presente.
Isto explica-se porque os materiais ao serem enterrados libertam gases e criam efeito estufa. “Muito dificilmente se consegue controlar ao máximo o que entra”, refere novamente o especialista, dois anos e meio passados do nosso primeiro contacto quando a vinda de um aterro para Azambuja começou a tornar-se algo cada vez mais real. “Por mais que a empresa até tente tapar os lixos nos primeiros dias, é tecnicamente impossível que não cheirem mal devido ao tal efeito estufa”. Para o ambientalista, há ainda a ter em linha de conta as águas residuais cuja contaminação ainda é mais difícil de controlar nestes aterros de resíduos banais do que nos aterros de resíduos perigosos, “tendo em conta que os materiais vêm muito mais misturados”. Exemplo disso é o que já acontece “no Eco-Parque da Chamusca com resultados péssimos a nível das análises à água”.
Em reunião de Câmara, o presidente da autarquia deu a conhecer que o aterro é visitado regularmente por alguns funcionários municipais que têm trazido dados positivos sobre o que ali é feito, mas o ambientalista alerta que quem tem de facto credenciais e conhecimentos é a CCDR.
Rui Berkemeier afirmou-se surpreso, em 2015, com a implantação de uma solução destas no concelho, tendo em conta principalmente a proximidade em relação a aglomerados populacionais. A lei diz que devem estar a dois quilómetros e no caso de Azambuja o aterro está a 300 metros. Para o ambientalista “é incrível como a Mota-Engil opte por uma solução destas de fim de linha e completamente ultrapassada quando o que se passa atualmente é o abandono destes aterros por parte das empresas”. Em 2015, o ambientalista mostrava-se ainda incomodado com a autorização de um aterro deste tipo pelas entidades governamentais.
Tribunal questiona a Câmara sobre o aterro mas presidente da Câmara recusa dar explicações à oposição
Na última reunião do executivo e a propósito deste tema, e tendo em conta que o tribunal está a diligenciar junto da autarquia uma série de questões quanto a esta infraestrutura, presume-se após uma queixa, os vereadores do PSD, Maria João Canilho e Rui Corça, pediram explicações que foram negadas por Luís de Sousa, que preferiu refugiar-se no “segredo de justiça”. Fez referência apenas ao facto de se relacionar com a recuperação paisagística da envolvente que segundo algumas vozes poderá estar comprometida se a empresa conseguir o alargamento da sua atividade no local. David Mendes, da CDU, exortou a população a manifestar-se porque “se não for assim, e se se continuar com esta atitude de não se querer saber de nada não vamos a lado nenhum”.
Recorde-se que a empresa que gere o aterro de Azambuja tem sede em Lisboa. Trata-se da Triaza e está indisponível para prestar esclarecimentos numa entrevista que se deseja presencial ao nosso jornal, sobre as suas responsabilidades, e sobre o seu trabalho em Azambuja.