O Clube Unesco Memoriamedia abriu portas, no dia 12 de janeiro, em Aldeia Galega da Merceana, com vontade de mostrar as tradições locais e recuperar até as que podem estar esquecidas ou em vias de extinção. Esta é uma das premissas que levou à criação deste clube por parte da associação Memória Imaterial com sede no Pereiro de Palhacana e que há vários anos trabalha com o município de Alenquer na preservação do património e das tradições. Cláudia Luís, vereadora com o pelouro da Cultura, ao Valor Local, considera que este é mais um passo, só a título de exemplo, no trajeto do Pintar e Cantar dos Reis, rumo à possível consagração como património mundial da Unesco.
No edifício da biblioteca local, onde se encontra o clube, estão já duas exposições que podem ser visitadas: “Património Cultural Imaterial de Portugal”, da autoria da Comissão Nacional da UNESCO (para ver até 31 de março); e “O Pintar e Cantar dos Reis de Alenquer”, responsabilidade autoral da Memória Imaterial (patente até 12 de julho). Cláudia Luís explica que este projeto pretende ainda debruçar-se sobre outras tradições do concelho menos conhecidas do que o Pintar e Cantar dos Reis e as Festas do Império do Divino Espírito Santo, ambas com um trabalho desenvolvido há largos anos. A primeira já é Património Nacional Cultural Imaterial, a segunda aguarda a inscrição. A tradição do Círio é uma delas, presente em localidades como Olhalvo, mas também em Vila Chã e Casais Galegos na freguesia da Ventosa, mas também a Bênção dos Campos. “Queremos documentar este trabalho e este clube Unesco vem ajudar-nos nesse trabalho”
No dia da inauguração, José Barbieri, em representação da Memória Imaterial, endereçou aos presentes a vontade de começar a trabalhar. “Quero muito agradecer, primeiramente, o apoio que a Câmara Municipal nos deu em tempo recorde para termos este espaço pronto e habitável. Queríamos agradecer à UNESCO pelo facto de nos ter acolhido nesta família. É uma rede que se pretende muito inclusiva e ligada às populações locais. Queremos aproveitar para criar este centro e usá-lo para um diálogo constante com os praticantes e os detentores ligados ao Património Cultural Imaterial. Eles são aquilo que importa no meio disto tudo. Temos o privilégio de poder trabalhar com grupos de investigação, o que nos dá uma possibilidade alargada de chegar às origens das manifestações”, deu conta o administrador da Memória Imaterial.
Pedro Folgado, autarca do Município de Alenquer, aludiu à disponibilidade do concelho em manter vivas as tradições e revelou que está em estudo candidatar outras tradições a Património Cultural Imaterial nacional, depois desse mesmo feito ter sido alcançado pelo Pintar e Cantar dos Reis em 2021. “Considero muito importante esta identidade de um povo que há muitos anos a vai construindo e muito vai fazendo para que o património não morra. Isso é um trabalho permanente. Sozinhos teria sido mais difícil trilharmos esse caminho e a ajuda da Memoria Imaterial tem sido importante para nós. Agradecemos o vosso envolvimento nestes processos. Em rede, em conjunto, vamos mais longe. Há uma clara vantagem em estabelecer parcerias que podem proporcionar o conhecimento do património existente. Queremos divulgar o que há de bom no concelho de Alenquer”, esclareceu reforçando a existência de um “património riquíssimo de vários âmbitos”.
Já Rita Brasil de Brito, Secretária Executiva da Comissão Nacional da Unesco, deu conta do empenho de Alenquer em passar a contar com o mais recente Clube Unesco Memoriamedia da rede. “Há um trabalho com as comunidades e com as associações e aqui estamos a celebrar um protocolo de um clube que é um gancho da sociedade civil. É o que se pretende com os Clubes Unesco”, constatou a responsável da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. “Isto não é uma chancela só com um nome. Há trabalho revelado já e falo das duas exposições patentes. A ideia é que este tipo de clubes desenvolvam atividades e que as concretizem”, acrescentou. No total há 60 clubes deste tipo no país.
Cláudia Luís reforça ao nosso jornal que espera que este seja um espaço de reflexão, de encontro, de colóquios “em prol do nosso património cultural”. A associação está a delinear um programa para aquele espaço, “porque interessa-nos que o clube tenha vida e envolva a comunidade”.