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A Papelaria da Glória onde a proprietária já conhece os clientes pelos passos

Longe daquilo que foi retratado na série da Netflix sobre a Raret e a Glória do Ribatejo, a pequena papelaria de Elvira Monteiro tem sido um local estimado e acarinhado pela população. Lá os mais velhos encontram muitas vezes uma palavra de conforto e as respostas para muitas das situações do dia a dia.

A Papelaria de Elvira Monteiro é também o único posto de correios, e talvez por isso, por ela passam cartas, passam encomendas, boas e más notícias, não só das missivas que recebe ou tem de ler aos mais velhos. Claro que aqui não falta a venda de jornais, nomeadamente, o Valor Local.

Com um sorriso contagiante, Elvira Monteiro recebeu a reportagem do Valor Local de braços abertos. É ela que há 24 anos lida com os clientes que antes dela, já conheciam aquele lugar, para onde foi trabalhar, e mais tarde tornou-se proprietária.

Mas o que muda mesmo é a relação que tem com os clientes. Embora a Glória do Ribatejo tenha outros estabelecimentos, a papelaria de Elvira Monteiro é, talvez, o local onde as pessoas mais se sentem à vontade. Elvira conta-nos que até já conhece os clientes pelos passos na aproximação à loja

“Gosto de ouvir as pessoas e ajudo. Tenho também posto de correios. Não é só papelaria. As pessoas vêm colocar os registos, auxilio a preencher os talõezinhos, as cartas, e muitas vezes sou eu que coloco as moradas. Enquanto faço este serviço vou falando com os clientes, claro”.

Com a época de regresso às aulas já em pleno, Elvira Monteiro não tem mãos a medir. São os vouchers para os livros, sempre pagos com atraso por parte do Estado, e o restante material escolar, e claro as encomendas. Ainda assim, a proprietária sorri. E sorri, porque esta é a sua maneira de estar, fazendo com que no dia a dia dos seus clientes não se percam nos problemas.

Esta é a altura em que mais fatura, refere Elvira Monteiro. O regresso às aulas e o Natal são para esta papelaria os dois períodos de maior compensação financeira e revela que na Glória e no Granho, uma localidade próxima, existem muitas crianças e a sua, é talvez a única papelaria neste raio.

Elvira Monteiro faz um atendimento à moda antiga. Sabe o nome de todos os clientes, dos mais velhos e dos mais novos. Todos passam pelo seu estabelecimento, não só porque é único, mas porque Elvira Monteiro os conquista com um sorriso. E não foi preciso muito tempo para verificarmos a eficácia do seu sorriso. Elvira Monteiro acompanha já gerações de clientes, e prova que o seu atendimento e a sua papelaria dão resposta às necessidades dos fregueses.

Foi o que constatámos com Jessica Reis, uma jovem que já compra neste estabelecimento os seus livros para a escola há muito tempo. Agora, já na faculdade, não deixa de passar pela papelaria da dona Elvira. “Sou cliente habitual”, refere Jessica que recorda os tempos em que ainda frequentava os estabelecimentos escolares do concelho: “A minha mãe vinha aqui comprar os meus livros da escola. Agora estou na universidade, já não preciso, mas venho à papelaria imprimir muitas fotocópias. Ainda agora vim entregar uma encomenda”, sublinha Jessica que aponta este estabelecimento como muito importante para “não termos de nos dirigir a outras localidades”.

Mas nem só de encomendas vive a papelaria da Elvira Monteiro. Este é um local com vida própria que já habitou os clientes aos seus serviços. Evita que estes tenham de se deslocar a outros locais e presta mesmo um “verdadeiro serviço público” nesta aldeia.

Que o diga Jacinta Caneira, funcionária do Crédito Agrícola local, e que tem nesta papelaria o posto de correios ideal.

Com frequência entrega as cartas na papelaria da Dona Elvira e para si este é “também um serviço importante aqui na terra”. “Exatamente, porque se não fosse ela, tínhamos de nos deslocar a Marinhas”, que fica a vários quilómetros de distância.

E é também a parte dos CTT que “chama” muita gente à papelaria. Elvira Monteiro lê as cartas dos clientes que não sabem ou não conseguem ler. Escreve as cartas aos clientes e até ajuda  nos contratos da TV Cabo, e porque a população da Gloria é um pouco idosa, Elvira Monteiro ajuda a escrever ou ler e-mails a quem necessita, um serviço que diz fazer por gosto ao mesmo tempo que dá dois dedos de conversa com os clientes, algo que se tornou frequente ao ponto de a brincar dizer: “Se calhar era boa ideia montar um consultório de Psicologia”.

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