Continuamos imersivos nas novas tecnologias, mas a Natureza ainda continua viva. Ela não deve ser a alternativa, mas sim o nosso próprio caminho.
Os espaços verdes são conhecidos por beneficiar a nossa saúde física e mental, arrefecer as cidades, melhorar a qualidade do ar, reduzir a poluição sonora, promover a biodiversidade, entre outros. Muitos de nós utilizamos esporadicamente esses locais para escaparmos aos problemas da vida quotidiana e ao tempo gasto nos ecrãs dos nossos ilustres dispositivos eletrónicos.
No dia 28 de abril deste ano deu-se um apagão geral em Portugal Continental em que podemos sentir na própria pele, de forma forçada, um pouco de desapego pelas tecnologias.
Havia muita gente na rua a passear e a fazer exercício físico até o sol se pôr, desprendendo-se também das preocupações do trabalho e de outras responsabilidades, pelo simples facto de não ser possível (por não haver eletricidade e meios de comunicação disponíveis).
Não obstante, porque acredito ser uma exceção, é notável o quanto as pessoas estão cada vez mais agarradas às tecnologias, em vez de aproveitarem a Natureza, qualquer que seja a geração em questão.
O modelo de sedentarismo que levamos atualmente tem-se vindo a tornar perigoso ao longo de várias gerações, principalmente para as mais novas. Antes tentava-se meter os miúdos em casa para que não passassem demasiado tempo na rua a brincar; atualmente tenta-se meter os miúdos fora de casa para que não passem tanto tempo vagueando pelo mundo digital. Em teoria, é possível que as crianças percam progressivamente o seu medo dos animais e das plantas à medida que o conhecimento em relação à biodiversidade aumenta.
Então e os adultos? Porque têm medo se já possuem o tal conhecimento? Ou é apenas desinteresse? A Natureza não deveria ser um escape à realidade, visto esta ser a nossa própria realidade, a nossa própria essência. É verdade que é cada vez mais difícil observar a Natureza tal como ela é (até parece algo ilusório), não só devido à perda de biodiversidade, mas também devido à falta de investimento pessoal nessa descoberta, à falta do “quero ver”.
E é preciso ver para querer e, por sua vez, para sentir. O impacto que se tem ao ver um determinado animal num documentário ou livro, por exemplo, não é, claramente, o mesmo quando se vê, se toca e se sente o mesmo animal, fisicamente, no seu habitat natural.
A realidade nesse momento é indistintamente outra. Pelos vistos é mais fácil jogar Pokémon GO com os seus inúmeros seres virtuais no telemóvel, em vez de se usar a aplicação iNaturalist para registrar a presença de certas espécies de seres vivos em locais específicos. Em princípio, é mais fácil saber-se o nome comum do pássaro que habita a árvore do meu quintal, porém hoje em dia opta-se por se saber o nome de um dos cerca de 1000 pokémon que “existem”.
A meu ver, o digital e o virtual não nos possibilitam adquirir conhecimento através de todos os nossos sentidos e emoções, portanto, torna-se imprescindível sairmos e deixar “fugir” os mais novos da zona de conforto, aproveitando e cuidando da Natureza que nos rodeia, e que faz falta a todos nós.
Há alternativas mais saudáveis e sustentáveis à nossa porta e, portanto, se a próxima geração está a chegar, mais vale prevenir do que remediar. Hoje, a minha mãe diz-me assim: “Filho, vai lá fora aproveitar o dia”, ao que eu lhe respondo que sim, porque quero.