Após as eleições americanas, resultando na vitória de Donald Trump, assistimos a movimentos económicos desde a possibilidade da concretização de uma guerra comercial sem precedentes até a um conjunto de decisões empresariais no interior dos Estados Unidos, que causam apreensão.
A introdução de tarifas por parte do Governo americano, como forma de pressão externa e de estímulo interno, é das decisões económicas mais irracionais que alguma vez foi tomada. Num artigo de opinião, o economista Ricardo Reis diz-nos que a imposição de uma tarifa de 10% à China, faz com que os americanos vejam o preço do bem aumentar 9,5% enquanto os chineses receberão menos 0,5%, transferindo o acréscimo do preço de forma integral para os bolsos dos próprios americanos.
Se o objetivo é proteger a economia americana, mas a consequência é empobrecer os americanos, que racionalidade terá a implementação de uma medida desta natureza? A partir do momento em que os dados demonstram que a situação orçamental está a caminhar para o descontrolo, onde as despesas são maiores que as receitas em quase 2 triliões de dólares (equivalente a 30 anos de toda a receita fiscal cobrada em Portugal) e onde a dívida do Estado americano se prevê que atinja os 30 triliões de dólares (100 vezes a dívida portuguesa), aparenta que a fixação de tarifas é na verdade um aumento de impostos sobre os americanos ao invés de uma medida de proteção da economia.
À medida que fomos conhecendo as caras da nova Administração americana e as suas ideias, também fomos presenteados com um conjunto de decisões empresariais, como é exemplo a que foi tomada pela dona do Facebook. A decisão da dona das redes sociais Facebook, Instagram e Whatsapp de retirar a verificação dos factos que são publicados nas suas plataformas, deveria fazer-nos agir enquanto cidadãos responsáveis contra estes gigantes digitais. Na vida, tal como na economia não pode valer tudo por dinheiro, muito menos por um suposto “encantamento” dos donos destes gigantes para com a Administração Trump.
Todos nós sabemos, que o negócio das redes sociais assenta na publicidade paga pelas diversas marcas, de forma a chegar ao máximo de pessoas, e na venda de bases de dados, construídas com as nossas publicações, de forma que as empresas conheçam (para o bem e para o mal) os consumidores. Assim, quanto maior for a interação existente nas plataformas, como o Facebook e o Instagram, mais publicidade e dados vão ser gerados, logo mais dinheiro poderá ser feito. O que nos deve preocupar são estas mesmas interações. Cada um tem a sua opinião, podemos concordar e discordar consoante as nossas convicções, mas não podemos aceitar que a interação pela mentira e ofensa, que já é característica das redes sociais seja reforçada pela ganância de uma empresa e consequente desresponsabilização pelo que se passa nas suas plataformas.
Chegámos ao ponto de olhar para a economia e pensar como esta se deve desenrolar. Não estão a ser criadas empresas grandes de mais, as quais temos dificuldades de escrutinar? Não estamos a deixar que algumas empresas com uma influência desmedida estejam concentradas em meia dúzia de pessoas no mundo? Não deveria ser limitado o acesso às redes sociais, seja através dos locais, seja através das idades de acesso, limitando o seu alcance?
Mesmo na economia, o dinheiro sem princípios vale muito pouco.