Arruda dos Vinhos conta desde outubro com um projeto pioneiro que consiste no único laboratório para a saúde e função dos solos no país a funcionar no recém-criado Arruda Lab. Helena Vazão é coordenadora do gabinete de Biologia Molecular e Genética neste Centro de Inovação Agroindustrial e elucida que até aqui os solos a analisar eram enviados para fora do país, ao contrário do que sucede atualmente com a inauguração desta valência. O trabalho dos investigadores no Arruda Lab permite fornecer informação integrada aos agricultores sobre como conseguir o máximo proveito através da análise dos solos e da sua microbiologia, grosso modo.
Consoante o tipo de cultura em relação à qual se estiver em presença, seja milho, vinho, trigo “fazemos a análise para sabermos se é um solo rico ou não, que tipo de microrganismos estão presentes, de que forma podemos ajudar para que os terrenos sejam mais resistentes a pragas”, dá conta a investigadora. É fornecida informação ao agricultor que explica como deve tratar os seus terrenos, se é importante fomentar a cultura de bactérias, por exemplo, de modo a nutrir as culturas. Esta informação era dada antes de forma pouco sistematizada e aleatória. O que este grupo de investigadores faz pela primeira vez em Portugal é analisar os solos e dar a receita correta, para através dela o agricultor satisfazer as suas necessidades em termos de cultivo, quando antes a informação era dada sem que conseguisse dali tirar ilações sobre como prosseguir. “O que queremos é entregar o resultado de forma que o agricultor saiba o que fazer a seguir”.
Helena Vazão entende que a agricultura em Portugal está a passar por uma fase regenerativa, ainda que não a biológica. “Os solos foram muito arados durante anos, sofreram com excessiva carga química e se os testarmos no ponto zero praticamente não têm matéria orgânica, estão sem microbioma, sem bactérias e fungos em que os terrenos estão praticamente sem vida”. Por isso a agricultura tenta reinventar-se “com mudança das práticas agrícolas e monitorização da saúde dos solos”.
O edifício onde se situa o Arruda Lab já foi em tempos posto da GNR, tendo sido requalificado pelo município num investimento de 750 mil euros. Os equipamentos do laboratório, pioneiro no país, e para o qual já existem alguns clientes, foram pagos pelo “Food for Sustainability” sendo esta a entidade que gere o laboratório de saúde e função dos solos. Com Helena Vazão trabalham neste momento em Arruda as técnicas de laboratório Salma Rahme e Rita Costa. Helena Vazão mudou-se de armas e bagagens de Cantanhede para Arruda dos Vinhos, onde vive agora. Uma experiência de que está a gostar.
Carlos Alves, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos, faz até ao momento um balanço positivo do funcionamento do Arruda Lab e do seu laboratório de análise de solos, sendo que em breve terá a companhia do Gabinete de Apoio às Empresas a trabalhar numa outra ala do edifício, na consolidação do espaço como um hub (local onde as empresas podem fortalecer contactos). Carlos Alves deseja que no fundo possam ser acolhidas no edifício novas empresas, startups com tónica na inovação, “tendo já existido contactos nesse sentido”
Para o presidente da Câmara é importante para o projeto e para o concelho o agricultor ter aqui acesso “a um serviço descodificador para aquilo que é o seu trabalho na agricultura, através da assessoria que o laboratório presta”. Apesar de o projeto ainda não ter nenhum agricultor de Arruda na sua carteira de clientes, sendo aquele um serviço pago, Carlos Alves não descarta que já suscitou interesse de alguns, o tipo de análise que é providenciada pelo “Food 4 Sustainability”, o laboratório em causa.
Quinta de Ciência Viva na Murzinheira
O próprio projeto também se liga à futura incubadora de base rural a instalar em terrenos da Quinta da Murzinheira em Arranhó com o objetivo de ali se praticar uma “agricultura de inovação” em estreito contacto com o conhecimento científico produzido nos laboratórios do Arruda Lab. São três parcelas de terreno que podem ser adquiridas através de candidatura.
O município pretende apostar na instalação de uma quinta de ciência viva no local, como de resto já acontece noutras zonas do país. Paralelamente e na mesma quinta poderá ser criada uma comunidade energética através do uso de renováveis com painéis fotovoltaicos, algo que a Câmara ainda se encontra a estudar.
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