O sistema de ciclovias e bicicletas partilhadas do concelho de Benavente continua a ser alvo de críticas por parte da oposição e da própria população. Ao longo dos últimos anos, promessas e investimentos públicos têm sido confrontados com realidades bem diferentes no terreno: ciclovias descontinuadas, ausência de ligação entre freguesias, e bicicletas elétricas que desapareceram das ruas pouco depois de inauguradas.
Sónia Ferreira, vereadora do PSD, não poupou críticas durante uma recente intervenção em reunião do executivo. “Espante-se, porque agora não se vê uma única bicicleta nas ruas”, começou por referir, lembrando que o projeto remonta a 2016 e implicou candidaturas a fundos comunitários. Para a vereadora, a ideia de que se estaria a dar um passo para uma mobilidade urbana integrada foi uma “ilusão”, sublinhando a insuficiência do sistema: “Tudo isto apenas com 28 bicicletas”.
Sónia Ferreira alertou também para a falta de segurança e de utilidade das ciclovias existentes: “As ciclovias não ligam freguesias, ficam ao lado da estrada nacional e são perigosas para as crianças. Em Samora Correia, por exemplo, têm constantes interrupções e não passam pelas escolas. Promover mobilidade assim? Estamos muito longe disso.”
Câmara defende estratégia faseada
Carlos Coutinho, presidente da Câmara Municipal de Benavente, rejeita o pessimismo da oposição e afirma que o projeto tem sido pensado de forma faseada e com base em financiamento disponível. “Fizemos intervenções concretas para ligar os núcleos urbanos de Benavente e Samora Correia. O concurso para completar essa ligação está praticamente pronto e conta com apoio financeiro”, avançou.
Coutinho reforça que as ciclovias são utilizadas por munícipes, principalmente para lazer e desporto informal, e que os troços construídos “são superiores, em termos de utilização, ao que se vê noutros pontos do país”. No entanto, admite que o sistema está longe de estar completo: “Um projeto mais ambicioso, com 20 quilómetros de ciclovia, acabou por não obter apoio europeu no âmbito do Interreg.”
Sobre as bicicletas partilhadas, o autarca explica que a sua aquisição permitiu à autarquia garantir um reforço de meio milhão de euros no quadro comunitário anterior. Foram adquiridas 28 bicicletas e quatro docas por cerca de 90 mil euros. “É claro que o sistema precisa de mais docas, talvez mais 20, para ser funcional”, admite, acrescentando que “há câmaras que já estão a desistir destes projetos”.
Atualmente, o sistema encontra-se em manutenção, mas o presidente da Câmara garante que estará de regresso “em breve” e promete que, com reforço de equipamentos, a mobilidade sustentável poderá finalmente ganhar tração no concelho.
Uma promessa por cumprir?
Enquanto a autarquia tenta recuperar fôlego para relançar o projeto, os críticos mantêm-se firmes nas suas reservas. Para muitos, a falta de continuidade na rede ciclável e a ausência de uma estratégia eficaz de ligação entre freguesias continuam a tornar o sistema pouco atrativo para o dia a dia da população.
Com novos projetos previstos no âmbito da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, como a ligação ciclável à Rota das Lezírias através da Herdade de Camarate e Pancas, a Câmara espera mudar o rumo da mobilidade no concelho.