Ambulâncias, protocolos e 150 mil euros que saíram da Câmara quando a Central Municipal de Operações de Socorro (CMOS) ainda nem funcionava. Foi este o rastilho para a tarde quente em Azambuja que juntou André Ventura, líder do Chega, Inês Louro, candidata do partido à Câmara, e António José Matos, presidente dos Bombeiros Voluntários e número dois à Câmara pelo PS.
Ventura não perdeu tempo, prometendo mais meios, para os bombeiros portugueses, mas deixando no ar a dúvida sobre quem paga a conta. Inês Louro acusou a autarquia de “dar prioridade a Tonys Carreiras e Nininhos Vaz Maia” enquanto falha no essencial: equipas permanentes e viaturas de socorro. Para o Chega, a Câmara “pagou sem contrapartida” durante um ano inteiro.
Matos, que acumula a chefia dos bombeiros com a candidatura socialista, devolveu: “A Câmara tem suportado quase tudo. Não somos ressarcidos de nada e procurámos soluções. PS e PSD votaram contra no Parlamento.” Reconheceu, porém, que houve pagamentos antes da CMOS arrancar, garantindo que a reposição da legalidade não deixará de salvaguardar os voluntários.
Os factos confirmam zonas cinzentas: entre 2021 e 2022 foram transferidos cerca de 150 mil euros para as corporações de Azambuja e Alcoentre antes da estrutura estar operacional. Só depois passou a vigorar o apoio anual de 53 mil euros. A Câmara aprovou ainda 250 mil euros (a pagar em 15 anos) para um novo veículo de desencarceramento e cerca de 30 mil euros para uma ambulância. Montantes que não chegam para calar críticas.
O PS argumenta que “não havia garantias bancárias” que permitissem certas aquisições e sublinha que os bombeiros não podem ser prejudicados. Ventura contrapõe que “as gerações futuras é que vão pagar a fatura” e que “ninguém explica porque se pagou quando nada funcionava”.
Com a campanha a aquecer, o debate tornou-se quase uma chamada de emergência: quem responde primeiro? Inês Louro promete “cumprir a lei e exigir contrapartidas reais”; Matos diz que “o essencial é garantir socorro e transparência”. No meio, a ambulância — metáfora perfeita — continua “à espera de parque”: há veículos prometidos, mas falta espaço orçamental e consenso político.
No fim, não ficou claro se alguém vai devolver dinheiro ou apenas capitalizar indignação. O certo é que a questão das equipas permanentes dos bombeiros, longe de ser técnica, tornou-se combustível eleitoral. Em Azambuja, a sirene não é só dos carros de socorro: é a própria política a pedir resposta urgente. No fim ficou a tirada monumental de Ventura para Matos – “Se o senhor é candidato à Câmara não deveria estar aqui a receber-me” e lá partiu a comitiva rumo a outras paragens menos agrestes.