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Carregado: “Enteados” do passe a 40 euros arriscam a vida na Nacional 1

Todos os dias, centenas de mulheres, homens, e crianças entram ou saem nas paragens de autocarro que ficam na fronteira entre os concelhos de Vila Franca de Xira e Alenquer. São na sua grande maioria cidadãos que residem na freguesia do Carregado. Depois da denominada zona de Entre Pontes, onde ficam as instalações do “Salsa”, têm de pagar mais 30 euros no passe mensal para um trajeto que não vai além de dois quilómetros, por isso escolhem ir a pé. São os proscritos do passe a 40 euros, que só vai até aos limites da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Tudo o que fica depois é nas margens da coroa, se assim se pode dizer. De dia ou de noite, têm de circular na berma sempre com medo de que algum condutor menos cauteloso os possa atropelar. O trânsito nesta zona é infernal, com muitos camiões a todas as horas. Há mães com carrinhos de bebé a contornar esta via e a optarem por um circuito alternativo, mais longo, mas menos perigoso. Aqui vive-se o retrato da exclusão social. Aqui apanhar o autocarro é um desporto radical. É assim que se sentem os moradores do concelho de Alenquer, os enteados do Navegante.

Daniel Paca é um dos que faz esse trajeto. Encontrámo-lo a andar a bom passo rumo à paragem de autocarros, que para cúmulo de todos os que cumprem a via-sacra em causa, foi deslocalizada para depois da rotunda construída recentemente, fazendo aumentar o perigo para quem ali circula. Não percebe os porquês da situação. Apenas foi informado que “o passe metropolitano não pode ser usado até ao Carregado, caso contrário somos multados”. São 60 euros de multa, e praticamente todos os dias os fiscais de uma empresa contratada pela Boa Viagem entram nos autocarros para perceber quem é que está a usar o passe para além dos limites da lei. Chegam a ser 4 profissionais para essa tarefa só na fronteira entre os dois concelhos.

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Daniel Paca faz este caminho com muita frequência

Daniel já se apercebeu que essa fiscalização “é bastante intensa”. Por vezes circula de noite, o que “é bastante complicado, porque isto acaba por ser isolado e perigoso”. Por ele passam por vezes mães com carrinhos de bebés “e os camiões nem sequer abrandam”. Especialmente na denominada zona de Entre Muros mesmo à entrada do Carregado a margem que dá para caminhar é bastante exígua.

Nuno Dias, morador no Carregado, junta-se à nossa reportagem e acrescenta que “há mães com carrinhos que fazem uma inflexão pela estrada da EDP”. Para este morador, também dirigente associativo, “as coisas ainda não mudaram porque não houve nenhum acidente, ou seja ainda não foi derramado sangue nesta estrada, peço desculpa de falar assim”.

Por outro lado, o cerco aos que arriscam e pretendem ir de autocarro fora do passe a 40 euros é apertado pois “chegam a estar aqui fora três revisores, mais um chefe dentro do carro”. “Posso dizer que às vezes são 10 horas da noite e ainda aqui estão para fiscalizar as pessoas”. Marisa Lopes, também utilizadora dos autocarros e residente no Carregado, acrescenta: “A multa é sempre certa porque todos os dias há quem arrisque”. Nuno Dias é taxativo: “A Câmara de Alenquer tem de nos ajudar e pagar esta diferença no passe, exatamente como a Câmara de Azambuja vai fazer para quem apanha o comboio nas Virtudes”. O assunto já foi abordado com o município, mas espera que “em breve estejamos juntos para falar desta questão”.

Marisa Lopes constata entre a comunidade do Carregado que este é um problema de muitos. No seu caso e como tem veículo próprio acaba por cumprir estes percursos de automóvel e poupar os 30 euros por mês. Antes do Navegante, criado no âmbito do Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART), pelo Governo de Costa, ir do Carregado/Alenquer para Lisboa, custava 82 euros no passe mensal, agora seriam 70, mas a população não compreende pagar mais 30 euros para cumprir um trajeto tão pequeno, de Entre Pontes para o Carregado.

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Rodolfo e João Carmo pedem encarecidamente uma solução

“Tudo isto é muito triste e à noite é aterrorizante”

“É realmente triste o que nos acontece ao ter de vir a pé este caminho porque não temos passe Navegante até ao Carregado”, é assim que descrevem o estado de coisas, João e Rodolfo Carmo, também abordados pela nossa reportagem. Iam para Vila Franca de Xira. Mas João Carmo acaba por fazer o mesmo quando vai trabalhar para o Campo Grande em Lisboa durante a semana. Quando perguntamos aos dois sobre sustos na estrada. Acabam por rir, tal é a quantidade de vezes que isso acontece- “Várias vezes”, respondem em uníssono. Já estiveram à beira do atropelamento e não raras ocasiões acabaram por ser surpreendidos por animais que passam na zona. “Estou a falar de cobras, por exemplo”. A zona é confluente com o campo e não é de admirar que tais situações ocorram.

À noite o medo faz apressar os passos de quem utiliza o trajeto desde Entre Pontes ao Carregado, e os dois não têm dúvidas: “É aterrorizante porque dá a sensação que os carros nem nos veem”. Por isso utilizam a lanterna do telemóvel para serem vistos. Para estes cidadãos, se a Câmara financiasse o remanescente “seria o mínimo”. “Por favor, agradecíamos imenso”, repetem. Nestes trajetos demoram cerca de um quarto de hora entre as duas localizações. Para irem apanhar o autocarro para os empregos, é sempre tempo que se perde. Apesar de nunca terem presenciado assaltos, consideram que o local é propício a isso.

A partir de um café existente em Entre Pontes, Paulo Carreira funcionário tem visão privilegiada sobre os acontecimentos e concorda que não há condições de circulação naquela via, sobretudo desde que deslocaram a paragem de autocarros.

Câmara de Alenquer promete medidas para breve

O Valor Local contactou o presidente da União de Freguesias de Carregado-Cadafais, José Martins, que diz estar consciente do perigo que os fregueses correm todos os dias ao caminharem a pé pela Nacional 1. A zona de Entre Muros é a mais complicada, e constantemente é abordada esta matéria junto da IP, mas segundo o autarca não existe muita vontade por parte da Infraestruturas de Portugal, em adquirir aqueles terrenos e alargar a via. Já o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, garante ao Valor Local que em setembro deste ano haverá novidades, pois pretenderá debater a questão com o operador. “O que se passa é muito desagradável e temos de mitigar esse problema, sobretudo desde que a paragem foi mudada de sítio”. O autarca assume ao Valor Local que está disposto a financiar o valor remanescente do passe aos residentes no Carregado, na mesma medida daquilo que vai ser levado a cabo por Azambuja.

 

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