Aos 24 anos, Gonçalo Cerqueira Simões tornou-se um dos mais jovens, e provavelmente o mais jovem, presidentes de Assembleia Municipal do país. Eleito pelo Partido Socialista, assume agora um cargo que descreve como um desafio exigente, mas também como uma oportunidade para reforçar a proximidade entre o órgão deliberativo e a população. Em entrevista ao programa Hora Extra da Rádio Valor Local, o jovem autarca falou sobre o percurso que o trouxe até aqui, os desafios imediatos da Assembleia Municipal de Azambuja e as prioridades que quer imprimir ao mandato.
A ligação de Gonçalo Cerqueira Simões à vida pública começou no associativismo juvenil e ganhou força com a participação em iniciativas como o orçamento participativo e a criação da AJOCA, associação que dinamizou debates e eventos com forte adesão de jovens. Ainda assim, sublinha que o envolvimento político propriamente dito arrancou em 2021, quando integrou a Assembleia de Freguesia de Azambuja, onde mais tarde assumiu funções na mesa. Esse trajeto, diz, ajudou a preparar o caminho para o convite inesperado para presidir à Assembleia Municipal, gorada que ficou a hipótese de recandidatura de Vera Braz. Este foi por isso um convite que recebeu com surpresa, mas que aceitou por considerar estar preparado para o cargo.
O novo presidente reconhece que os jovens vivem um período de grande desconfiança em relação à política, em especial devido às dificuldades de acesso à habitação, ao trabalho e o próprio custo de vida. Por isso, entende que a aproximação entre instituições e juventude tem de ser prática e constante. Uma das ideias que quer desenvolver passa pela criação da Assembleia Municipal Jovem, com o objetivo de permitir aos estudantes do concelho uma experiência direta com processos de decisão e com o funcionamento das instituições democráticas.
No presente, Gonçalo diz estar focado em garantir que a Assembleia Municipal decorre com transparência, rigor e respeito entre todas as bancadas. Com 28 membros em plenário, provenientes de diferentes partidos e faixas etárias, defende que o diálogo será essencial para assegurar debates construtivos e um funcionamento regular e equilibrado do órgão. A missão, afirma, é fiscalizar o trabalho executivo da Câmara Municipal, mas também criar condições para que as reuniões decorram com serenidade, evitando atropelos e tensões que desvirtuem a função da Assembleia Municipal.
Divulgação de nomes completos, cartões de cidadão e moradas na tomada de posse
Durante a entrevista, Gonçalo Simões foi ainda confrontado com as críticas surgidas após a divulgação pública, na tomada de posse, de nomes completos e números de cartões de cidadão dos eleitos, uma prática que gerou comentários nas redes sociais e punida por lei. Ao Valor Local chegaram queixas formais que foram enviadas à Proteção de Dados, ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, e Ministério Público, uma vez que a cerimónia foi transmitida por um canal de Youtube não oficial, numa transmissão efetuada por um prestador de serviços desconhecedor da lei.
O novo presidente remete o assunto para a necessidade de rever uma legislação criada numa época em que não existiam transmissões online nem a exposição digital que hoje existe, embora reconheça que a Assembleia poderia ter tido atenção a esta questão em tempo útil.
O caso Inês Louro
Na entrevista, abordou também temas marcantes da atualidade democrática, como a desinformação, a liberdade de imprensa e o papel dos jovens na vida europeia. Sobre o processo de tomada de posse, nomeadamente o caso da não investidura de Inês Louro, o presidente sublinha que agiu com base em pareceres jurídicos que recebeu, e garante estar confortável com a decisão tomada.
Questionado sobre o futuro político, Gonçalo Simões é categórico: não tem ambições de integrar a Câmara Municipal ou assumir outros cargos executivos. Com o estágio da Ordem dos Advogados perto de terminar, afirma querer manter o foco na vida profissional e desempenhar o atual mandato com responsabilidade, sem projetar novos passos na política autárquica.
