Antes do 25 de Abril, “o trabalhador poucos, ou nenhuns direitos tinha”. É o que nos diz Hermínia Abreu, militante do Partido Comunista Português, que através do movimento sindical, iniciou a sua intervenção cívica, política e autárquica no concelho de Azambuja, que se prolonga ativamente há mais de quatro décadas.
Numa época excessivamente conservadora, onde a mulher era vista principalmente como dona de casa e para ter um emprego, tirar a carta de condução, ou mesmo para fazer coisas que nos dias de hoje são absolutamente banais, como é o caso de ir a um café, teria de ter a autorização do marido ou no caso de ser solteira, do pai. Hermínia teve a sorte de nascer numa família com uma visão diferente e assim ainda adolescente, no final dos anos 60, foi trabalhar para Lisboa, na área da restauração e foi aí que se começou a dar conta de como não existiam quaisquer direitos do trabalhador. Segundo a militante do PCP, o trabalhador nem sequer tinha acesso a uma casa de banho própria e estava sujeito à vontade do patrão para manter o seu emprego, “pois não havia contratos”, mas sim “dias de experiência e se o patrão achasse que por qualquer motivo essa pessoa não servia, o vínculo laboral acabava”. No início dos anos 70, diz-nos Hermínia, o governo de Marcelo Caetano autoriza o movimento sindical, mas não eram sindicatos como os de hoje, “eram agências do Estado, que pouco resolviam, e sempre que se recorria ao Tribunal de Trabalho, o patrão sabia quase no imediato da queixa, e na maior parte das vezes, quando acabava o tal período experimental, o funcionário deixava de interessar e perdia o emprego.”
O 25 de Abril apanhou Hermínia com vinte anos e a trabalhar na Ford em Azambuja e foi aí, e através de um movimento sindical já independente e não dependente do Estado, como era antigamente, que a nossa entrevistada começou a sua atividade política, primeiro, em ações do sindicato, e como militante de base, e a partir de 1986, começa uma atividade autárquica em quatro mandatos na Junta de Freguesia de Azambuja e dois na Assembleia Municipal de Azambuja.
Quando questionada porque é que não se veem muitos jovens na atual política local, considera que ao contrário de outros tempos “em que não havia nada e tinha que se lutar para conseguir algo, hoje em dia, os jovens têm tudo com muita facilidade e como tal não se querem chatear”.
Hoje, Hermínia Abreu, já é reformada e ocupa o tempo entre ajudar o filho com os netos, e alguns afazeres no partido, mas acima de tudo, aproveita para descansar, pois afinal de contas, foram 55 anos de vida profissional. Quanto à vida política, são 50 anos a defender a constituição e os menos favorecidos, algo que continuará a fazer enquanto não lhe faltem as forças.