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Memórias 2016: Porto Alto: Negócios da China – Entre a Decadência e a Renovação

No ano de 2016, o Valor Local levou a cabo uma das mais reportagens mais lidas de sempre, nos armazéns chineses do Porto Alto, para perceber como se articula esta economia no concelho de Benavente. À época e recentemente inaugurado fizemos também uma incursão pelo centro comercial POAO, visto como um grande investimento para aquele município. Não deixe de ler!

Ao passar pelo Porto Alto, concelho de Benavente, praticamente paramos no tempo. Recuamos ao início dos anos 2000, altura em que os cidadãos de nacionalidade chinesa começaram a chegar a Portugal. Ao mesmo tempo que Macau, antiga colónia portuguesa, era devolvida aos chineses, abria-se um capítulo na nossa história que viria a mudar a realidade das compras de muitos portugueses.

No Porto Alto há ainda um bocadinho dessa euforia chinesa. São às dezenas os armazéns que ali se implantaram nos últimos quase 20 anos para abastecer as pequenas e médias lojas que se foram espalhando pelo país, quais pequenos “franchises”. Uma pequena China Town comercial a escassos quilómetros da capital, e pouco abaixo do centro do país.

É a partir do Porto Alto que se desenha esse país de lojas chinesas que se implantaram nas vilas mais pequenas e nas cidades maiores. Famílias e gerações de chineses foram-se instalando num país onde os portugueses andam sempre à procura de produtos mais baratos, sem atenção à qualidade ou ao local onde são fabricados. Para muitos, as lojas chinesas são importantes do ponto de vista social. Alguns produtos são efetivamente mais baratos, mas há também outros cujos preços competem com grandes marcas. E esta é uma tendência que se começou a desenhar nos últimos anos. As lojas chinesas estão mais modernas e arejadas.

No Porto Alto, que alguns consideram a “meca” dos chineses, há um pouco de tudo. Os armazéns amontoam-se em ruas e travessas, ruazinhas e avenidas, e mesmo sem qualquer tipo de publicidade, não se queixam da concorrência mesmo ali ao lado, já que estes edifícios chegam a ser paredes meias uns com os outros e  clientes não falta,, embora em surdina admitam que os tempos já foram melhores. Com a notícia de que o aeroporto podia ser o mais novel vizinho, novos armazéns foram surgindo nesta zona do concelho de Benavente, desde 2009, mas como o Campo de Tiro de Alcochete parece ser agora a nova Ota, e aeroporto nem vê-lo, a sangria dos armazéns foi em parte estancada, e alguns foram progressivamente abandonados, contribuindo ainda mais para a descaracterização da localidade do Porto Alto.

Foi à procura dessa realidade dos armazéns chineses que o Valor Local tentou descobrir esse mundo. Um mundo vedado à maioria das pessoas que adquirem esses produtos nas suas lojas chinesas de bairro. Ao todo visitámos quatro armazéns. Em todos a vigilância é apertada, fazendo os mais honestos compradores corar quando se pergunta apenas quanto custa um referido artigo ou se vendem malas para senhora, por exemplo.

No Porto Alto não é difícil encontrar um armazém que venda a grosso ou por vezes até a retalho. Todos têm inscrições em mandarim nas paredes, ou possuem um amontoado de cartões à porta. Aliás este é mesmo o cartão-de-visita de vários destes espaços. Em alguns dos armazéns ainda subsistem contentores que alegadamente servirão de “quarto de hotel” a muitos empregados, e como já chegou a ser notícia em outros media na região.

Não foi de todo difícil entrar em qualquer uma destas empresas, desde que não nos apresentássemos como jornalistas como chegámos a comprovar em algumas incursões. A nossa reportagem consistia em nos apresentarmos como um casal que pretendia abrir uma loja em Vila Franca e para tal estaria interessado em fazer ali as compras.

No primeiro armazém, dentro de um condomínio de empresas, fomos recebidos por um segurança, que estava mais interessado em degustar o lanche matinal do que no nosso propósito em nos apresentarmos no local. Era só mais um casal de potenciais clientes, no fundo. Com à vontade inusitado, tratou-nos por “tu” e franziu o sobrolho quendo transmitimos a informação de que pretendíamos “abrir uma loja de produtos chineses”, como se ele não fosse cliente ou se aquela comunidade tivesse algo a esconder.  Indicando-nos o caminho, alertou, ao mesmo tempo, para a presença de outros negócios naquele espaço e relutantemente lá nos disse onde estacionar a viatura, mesmo em frente ao armazém.

À porta fomos recebidos por centenas de caixas de cartão desmanchadas. Uns metros à frente questionámos uma funcionária sobre se podíamos entrar e falarmos do nosso propósito. Ela, simpática, num português muito mau e difícil de entender, deu-nos carta branca e disse que poderíamos ver à vontade.

O interior da loja era o oposto do exterior. As malas, mochilas, e outras roupas, estavam dispostas de modo a que o cliente visse e comprasse a mercadoria sem muitas dificuldades. A catalogação estava bem-feita, e por isso identificámos à partida muitos itens que também já encontrámos nas lojas de bairro. Lá dentro, e enquanto a funcionária assistia a uma novela chinesa no telemóvel, estivemos sempre na mira das câmaras de vigilância. O que constrange um normal cliente, mesmo que habituado à presença deste tipo de segurança.

Depois de uma ronda pela loja, dirigimo-nos de novo à funcionária e perguntámos pelas condições. Para tal era preciso apenas o número de identificação fiscal da empresa e o nome da mesma, sem necessidade de documentos extra para confirmar. Todavia a primeira compra teria de ser no mínimo de 100 euros acrescidos de IVA, um valor que parece ter sido concertado entre os vários armazéns.

Acordámos então que voltaríamos a passar na loja, sendo que nos foi garantido que após a primeira encomenda não existiriam valores mínimos em compras futuras. “Até pode comprar no valor de cinco euros”, referiu a funcionária que nos acompanhou até ao carro através das câmaras de vigilância enquanto assistia à novela.

Seguimos o nosso caminho e escolhemos outro espaço. Este, embora visível da estrada principal, é mais recatado. Cá fora não tinha muitas caixas acumuladas, mas um grande parque de estacionamento que convidava a uma deslocação ao armazém. Por ali já estavam algumas viaturas topo de gama que faziam as honras da casa neste espaço. Aliás este é um clássico neste como noutros armazéns. A nossa chegada deu-se em simultâneo com a de outras pessoas, (ao contrário da primeira loja onde fomos os únicos clientes num vasto espaço durante os minutos em que lá estivemos) por sinal de nacionalidade portuguesa que ali se abastecem com alguma regularidade, a julgar pelo grau de confiança entre empregados e clientes.


Aliás este foi o único espaço onde não passámos muito além da entrada, porque dali se via todo o tipo de mercadorias que vendiam. Os produtos, a maioria dentro de caixas, consistiam em brinquedos e artigos para decoração. Ao interpelarmos um funcionário, disse-nos em mau português que as regras aplicadas eram iguais às de outros armazéns. Ou seja 100 euros na primeira compra acrescidos de IVA. Aliás a simpatia deste funcionário foi ao ponto de nos deixar fotografar o papel que indicava as regras. Este é um dos mais antigos armazéns do Porto Alto, e onde o interior parece mais lúgubre, anárquico, desarrumado e pouco convidativo a compras. Ainda entabulámos conversa sobre a concorrência do moderno e  vistoso centro comercial POAO mesmo ali ao pé, mas a comunidade chinesa pauta-se pela discrição e sempre que tentávamos falar de outros espaços, desconversavam, bem diferente do típico empresário português que não perde uma oportunidade para comparar-se ao produto que lhe é concorrencial.

A viagem seguiu e nos dias seguintes visitámos um outro espaço com produtos para senhora. Malas, cintos e sapatos. Um espaço que contrastou com os restantes pelas prateleiras modernas e funcionais com tudo devidamente acomodado e etiquetado. Mas as regras também aqui eram ditadas por uma primeira compra de 100 euros. O espaço bem tratado e bem catalogado, destacava-se por possuir os produtos bem ao alcance do cliente.

De realçar, que nestes espaços visitados pelo Valor Local, apenas numa ocasião nos cruzámos com clientes, ou com pessoas que estariam eventualmente ali para comprar alguma coisa, e todos nos disseram que não vendiam diretamente ao público.

Mas foi no recentemente aberto Centro POAO que tivemos uma longa conversa sobre a atividade e o facto de o centro ainda estar a meio gás. Mas primeiro um segurança totalmente fardado a preto inquiriu-nos sobre a nossa ida ao local, e pediu-nos a identificação. Não foi muito complicado, mas depois de parquearmos o automóvel, fomos acompanhados do lado contrário da rua por outro segurança que ia usando o intercomunicador. O POAO surge numa tentativa de maquilhar e dar uma imagem mais moderna do comércio chinês no Porto Alto, mas poucas são ainda as lojas alugadas ou compradas, embora as obras ainda não estejam terminadas. Fora do âmbito chinês são ainda mais escassas, mas a W52 foi uma das que arriscou. Não se pode dizer que andassem muitos clientes às compras no dia da nossa visita, de tal maneira que numa das lojas alguns chineses iam-se entretendo a conversar sentados em bancos mesmo à entrada. Sinal de que não estariam à espera de fazer negócio.

Numa das lojas, expressiva e sem “papas na língua” a proprietária, lá nos foi dando algumas dicas para a nossa loja, nomeadamente de produtos que considera terem muita saída nesta altura. Roupas para cama, cortinas, pijamas, e mantas faziam parte do leque de produtos que colocou à nossa disposição. Neste caso as condições eram semelhantes à dos restantes: a obrigação de ter um número de contribuinte empresarial e a primeira aquisição no valor de 100 euros mínimo mais iva.

Com uma facilidade de expressão alegre e simpática, mas num português muitas vezes difícil de entender, a responsável pela loja lá nos foi dizendo que tinha muitos clientes portugueses e que preferia trabalhar com estes do que com os compatriotas. Com uma loja no Martim Moniz em Lisboa, referiu ainda que tem clientes de toda a região, e que a loja neste novo e moderno centro de venda a grosso foi mais um passo na empresa.

Com mais uns minutos de conversa, admitiu não querer vender a particulares para não fazer concorrência direta aos seus clientes, mas deixou-nos a porta aberta para fazer algumas compras sem fatura, desde que fizéssemos a primeira compra, e esta sim fosse faturada como manda a lei.

Astuta nas vendas, quase nos convenceu a abrir a tal loja fictícia só para a reportagem. As margens de lucro não são impostas pelo revendedor ao retalho e impera por isso o bom senso. Por exemplo, um edredom comprado por 19 euros nesta loja, poderá ser colocado à venda numa qualquer loja portuguesa a preços superiores a 50 euros, mais do que duplicando a margem de lucro, algo que só é possível tendo em conta a origem asiática destes produtos e a mão-de-obra barata. De referir que o Valor Local contactou a administração do Centro POAO, mais do que uma vez, mas não nos responderam afirmativamente no sentido de obtermos declarações por parte de quem de direito.

Vários agentes imobiliários têm tentado negociar lojas do centro POAO, sendo que ficámos a perceber através de conversa com alguns deles que não tem sido fácil a transação dos espaços comerciais em questão. São cerca de 265 lojas distribuídos por dois andares numa área de 77 mil m2 e uma área bruta locavél de 56 mil m2.  Contudo apenas uma parte do centro se apresenta mais ou menos composta por novos lojistas, na grande maioria chineses, o que acaba também acaba por retrair um pouco os empresários portugueses. O preconceito estará também um pouco na origem deste quadro. Olhando para alguns anúncios na internet ficamos a saber que o arrendamento de uma loja no POAO situa-se atualmente nos 966 euros mensais. Num outro site, percebemos que a venda se situa nos 295 mil euros.

Presidente da Câmara de Benavente vê POAO como importante na qualificação da atividade chinesa

Para o presidente da Câmara de Benavente, a realidade dos armazéns chineses é incontornável no concelho, sendo que o novo investimento do POAO é sobretudo bem vindo porque tem o intuito de requalificar a atividade dos armazéns chineses, muitas vezes apercebida como algo que permanece um pouco na penumbra. “Considerámos o projeto deste novo centro comercial como aliciante para o desenvolvimento económico e para a fixação de pessoas, e até para alguma vitalidade que possa trazer à restauração daquela zona do Porto Alto”. Aquando do anúncio deste novo empreendimento, o antigo presidente da Câmara, António José Ganhão, depositava algum otimismo na obra como podendo ser algo ainda mais significativo, arrojado e moderno para a economia local, mas até à data não são sentidos para já os efeitos práticos disso mesmo.

A obra está de pé embora não totalmente acabada, contudo até à data as vendas de lojas não têm sido animadoras ou excessivamente otimistas, por assim dizer. Neste âmbito, Carlos Coutinho prefere não tecer grandes comentários continuando a salientar a importância do investimento que “pode não significar muito para a população, mas não deixa de ser um novo polo de desenvolvimento para o país”. “Estamos na expetativa para o que se seguirá”, consubstancia. Certo é que a presença de investidores chineses está por toda a parte no concelho, desde a emissora local de rádio, passando até por novas apostas no mercado imobiliário como a Herdade do Pinheiro que agora também faz parte do portfólio do grupo POAO como se pode verificar consultando a página na internet do mesmo. Já quanto a possíveis benesses nos impostos municipais aos investidores chineses  na construção deste centro garante que não as houve- “Simplesmente chegaram aqui e disseram que queriam fazer este investimento, apenas tentámos agilizar no sentido de não colocar entraves burocráticos”.

Já quanto à comunidade chinesa em si, Carlos Coutinho refere que não tem dados quanto ao número de residentes no concelho, mas garante que serão umas centenas. “Mais reservados do que os brasileiros ou os de leste mas que não causam qualquer tipo de problema”, garante. Apesar de não causarem problemas, continua a ser incontornável o facto de abundarem caixas vazias, paletes, e lixo no geral junto aos contentores onde os armazéns se situam. Neste aspeto, a Câmara garante que vai arrancar com uma campanha de sensibilização ambiental que incluirá também esta realidade, e com a possibilidade de as coimas se agravarem.

O anúncio da vinda do aeroporto para o Campo de Tiro de Alcochete no concelho veio espoletar ainda mais o aparecimento de armazéns chineses. Como foi o caso de um Centro de Negócios Luso- Chinês inaugurado em Benavente pelo grupo Imovia, em 2010, com 12 armazéns, 15 escritórios, um auditório e uma cafetaria. Muitos destes espaços não estão a funcionar a cem por cento, face à proliferação de anúncios que facilmente conseguimos identificar após uma mera pesquisa num motor de busca da internet. “Com a crise, o consumo reduziu e em parte a logística foi posta em causa”, alude o autarca.

O Valor Local ouviu também os partidos políticos da oposição. O PS entende no âmbito do caso POAO que “o investimento é bem-vindo pois permite arrecadar receitas e diversificar a economia, contudo tem uma dimensão em número de lojas, que dificilmente serão ocupadas e o sucesso é duvidoso a médio prazo. Tendo em conta que já existe o Centro Norte Sul- Hipergrossista, pensamos que esta concorrência poderá ser lesiva para ambos, pois não temos dimensão para ter dois centros desta natureza.”

Já quanto a possíveis efeitos no comércio dito tradicional, considera que os comerciantes são sempre prejudicados, pois “a Câmara nada tem feito para os ajudar. Não reabilitou as zonas históricas, para tornar as zonas comerciais mais atrativas e visitadas”. Este partido evidencia ainda que a autarquia tem falhado na recolha do lixo de uma forma geral, nos locais onde há armazéns daquele tipo, o que é visível pelos contentores cheios e lixo em redor dos mesmos todas as semanas em diferentes locais.  O Valor Local contactou o PSD mas não obteve resposta às questões colocadas. Também a Associação Comercial e Empresarial de Santarém que integra o concelho Benavente e cujo presidente mantém atividade neste concelho optou  por não falar à nossa reportagem.

Hipergrossista teve que mudar a agulha com a vinda dos chineses

Foi um dos primeiros centros comerciais com venda grossista a implantar-se no Porto Alto ainda antes da chegada dos chineses. O Hipergrossista Centro, Norte e Sul, com 125 lojas, há 21 anos a laborar na localidade, e face à nova realidade teve de se adaptar e redirecionar-se para um novo público-alvo com a aposta por parte dos grossistas em marcas mais caras e com outra qualidade.

“O tipo de cliente foi mudando ao longo dos anos. Perdemos o cliente que faz os mercados e feiras, e que aposta no produto em conta para os armazéns chineses, porque é impossível competir com eles em termo de preços. Mas penso que a nossa adaptação a esta nova aposta no produto português acabou por nos trazer benefícios”, conta António Cardoso, da administração do centro e também ele lojista. Financeiramente “perdeu-se alguma coisa, mas ganhámos outra gama de clientes mais exigente e rigorosa”.

Com o surgimento do POAO, a gerência do centro comercial de capitais chineses fez uma aproximação de cortesia ao hipergrossista Centro, Norte e Sul. “Fomos convidados a conhecer e de certa forma até a trabalhar em conjunto. Estranhámos um bocado a abordagem de início mas conversámos. Não fica mal”, deduz. Como entretanto constatou que a maioria das lojas no POAO é chinesa, António Cardoso não sente o projeto como concorrência.

Essencialmente focado nos itens vestuário e calçado, este centro comercial atende a um conjunto muito mais apertado de exigências comparativamente aos armazéns chineses, desde logo é pedida declaração de IRS ao comerciante que se quer abastecer, NIF, identificação pessoal e comprovativo de que exerce a atividade. “Temos muitos casos de pessoas que já não exercem atividade mas que querem continuar a vir cá comprar mercadoria, porque o preço já se sabe é mais baixo. Depois de uma consulta no Portal das Finanças conseguimos perceber se ainda estão ou não no mercado a retalho. Quando não é o caso não é permitida a entrada no centro comercial”. Esta unidade já pensou em vender ao grande público mas rapidamente desistiu da ideia, “porque imagine o que era um cliente meu que me compra dois mil euros de calças por ano presenciar um cliente da loja dele a comprar na minha”.

Presidente da Liga dos Chineses diz que visto gold já não é o que era

O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, acredita que os chineses do Porto Alto estão bem inseridos na comunidade, e o novo centro comercial POAO vem na sua opinião dar também “uma nova frescura e dinâmica à atividade comercial” dos seus compatriotas “com uma maior limpeza, e segurança” que vem “facilitar a vida aos compradores”. Y Ping Chow considera que este novo centro dá outras condições e que “vem facilitar os negócios”.

Paralelamente a esta realidade dos chineses que fazem do comércio a sua atividade, há toda uma nova geração de imigrantes chineses que entram no país através da obtenção de vistos gold. Numa primeira fase assistiu-se a uma explosão deste tipo de expediente. Tratam-se de empresários chineses que preferem apostar no imobiliário. Contudo alguns escândalos relacionados com corrupção que levou à prisão de altos responsáveis da administração pública e à demissão do antigo ministro Miguel Macedo fizeram abrandar a emissão dos vistos.

De acordo com o presidente da Liga dos Chineses em Portugal, ao nosso jornal, muitos empresários chineses estarão a enfrentar algumas dificuldades e começam a desistir de investir no país. “Cada vez há mais burocracia e o Serviços de Estrangeiros e Fronteiras também não ajuda”. Parece que este período dourado da estadia de grandes investidores chineses já teve melhores dias – “Sentem-se enganados pelo governo português. Fazem investimentos no imobiliário, adquirindo por exemplo propriedades a rondar o meio milhão de euros, mas depois aguardam demasiados meses até obter autorização de residência. Se conseguirem em meio ano têm muita sorte ”, atira Y Ping Chow.

O presidente da Liga dos Chineses desmente qualquer informação que vá no sentido de que estes cidadãos, nomeadamente os que se dedicam ao comércio em lojas, conforme é público usufruam de isenções de impostos nos primeiros cinco anos em Portugal. “Apenas fazem um controle de custos muito apertado”, limita-se a dizer. Atualmente com a valorização da moeda chinesa “os produtos ficaram mais caros, e por outro lado o cliente português está mais exigente e nesse sentido os preços também subiram nas lojas chinesas em Portugal”, constata.

Aproveitando a nossa conversa com este representante da comunidade chinesa, introduzimos o tema das máfias chinesas e do alegado tráfico de órgãos de que se chegou a falar em tempos, e que também teria conhecido episódios no Porto Alto. Y Ping Chow refere que o que se passa entre alguns membros da comunidade são “rivalidades em que alguns chineses roubam outros e essas desavenças têm lugar”. Por isso,  as tríades são um fenómeno inexistente no país, na sua opinião. O Valor Local contactou a GNR local sendo que nos foi dito que na zona do Porto Alto, as únicas ocorrências, nos últimos dois anos, envolvendo a comunidade chinesa referem-se a assaltos às suas residências por cidadãos não obrigatoriamente da mesma comunidade, e que têm implicado também o sequestro desses mesmos chineses nas suas casas. Já quanto a ações de fiscalização do comércio, nomeadamente, contrafação e ou atividade irregular enviámos algumas questões à ASAE mas não obtivemos resposta.

Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
24-10-2016

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