Miguel Alexandre e Marlita Alcobia são o exemplo típico de quem não troca por nada uma vinda a Azambuja pela Feira de Maio.
Ele é natural de Azambuja, ela de Salvaterra de Magos. Desde que a vida lhes permite, que o casal e os dois filhos são presença assídua na denominada “Feira mais Castiça do Ribatejo” e este ano, voltarão a picar “o ponto”, não fosse Miguel Alexandre, um azambujense que vibra e vive a feira.
Aliás, este casal, não é o único que aproveita as férias para “viver a feira” trocando-a, muitas vezes por uma ida à praia. São vários os exemplos deste “apego” às tradições ribatejanas, não só em Azambuja, como também, por exemplo em Vila Franca de Xira, onde o jornalista da TVI, José Manuel Santos, confidenciou à Rádio Valor Local, fazer o mesmo, numa entrevista, em 2021.
Mas Miguel e Marlita têm um percurso com altos e baixos. A vida apresentou-os na noite de Lisboa, era Miguel Dj e Marlita cabeleireira. O futuro já estava traçado e a ida para Londres acabou por ser uma decisão a dois na procura de melhores condições de vida.
Já lá vão 15 anos, desde que o casal decidiu embarcar na aventura por “Terras de Sua Majestade”, uma aventura que continua, e que nem sequer ainda vai a meio.
Numa conversa com o Valor Local, Miguel Alexandre, fala do processo de chegar a Londres e até das más noticias que recebeu ao aterrar na capital de Inglaterra. O prometido emprego “já era de outra pessoa”, lamenta, e refere mesmo que foi numa conversa com um desconhecido, que conseguiu encontrar um alojamento provisório, onde, com a esposa grávida, à época, passaram algumas noites.
O local não era o mais indicado, pois tinha ratos. “Tivemos de tirar todas as roupas das malas e fazer uma cama improvisada” e assim estiveram alguns dias, enquanto procuravam emprego, depois de uma promessa falhada.
Miguel e Marlita não se resignaram. O percurso foi longo, mas foi a tenacidade destes emigrantes portugueses que os levou a conseguir superar os seus obstáculos, enquanto nascia a primeira filha.
Enquanto isto, Miguel trabalhou a lavar pratos. “Cheguei a casa, muitas vezes com as mãos em sangue” lamenta, até ao ponto de ter dois empregos e poucas horas de descanso, ou quase nenhumas. Marlita, por sua vez, encontrou emprego num salão de cabeleireiro. Tinha sido esse o percurso nos últimos anos. Por seu lado, Miguel tornou-se empregado e posteriormente, proprietário de uma empresa de limpezas. Entretanto nascia o segundo filho.
A vida não seria ainda um mar de rosas para o casal. A patroa de Marlita decidiu vender o estabelecimento, e depois de alguma discussão, partiram para a aquisição do espaço. Pouco tempo depois, também Miguel tirou o curso de cabeleireiro, e em poucos anos, alargaram a rede de salões em Londres, conhecida por ter uma população extremamente exigente.
Mesmo durante a entrevista, Miguel e Marlita não deixaram de receber várias marcações. “São pessoas que nos procuram. Fazem questão que sejamos nós a atender”, refere Miguel Alexandre, que sublinha a personalização do negócio.
Depois de alguns imprevistos, a vida destes dois ribatejanos nas “Terras de Sua Majestade” tem finalmente entrado nos carris. O casal refere que tal se deve à “ética de trabalho” e ao facto de ambos se dedicarem de corpo e alma ao negócio que tem vindo a ser expandido.
Ainda recentemente, o casal abriu uma padaria em Londres com todo o tipo de iguarias que se possa imaginar. “Podemos comparar a uma Padaria Portuguesa”, sublinha Miguel, que destaca que para já não está previsto um regresso a Azambuja.
O regresso faz-se na Feira de Maio. Aliás o emigrante fez questão de comprar uma casa na rua principal para ver os toiros com a família, “mas os miúdos gostaram tanto de assistir nas tronqueiras, que temos a casa alugada”, sublinha Miguel, que aponta esta compra como a sua “única excentricidade”, mas também pelo “amor” à terra que o viu nascer e cujo legado quer dar a conhecer à sua família.