A Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) vai avançar com uma nova empresa pública de transporte rodoviário de passageiros. A proposta, aprovada por unanimidade na Assembleia Intermunicipal, visa modernizar o serviço em toda a região, com uma nova frota, bilhética digital, redução tarifária e integração entre municípios. Em Azambuja, no entanto, a decisão está longe de ser pacífica.
O novo modelo substitui a estrutura definida em 2022, que nunca saiu do papel. A mudança resulta da entrada em vigor do programa “+Transportes” e da necessidade de adaptar a estrutura jurídica e financeira às novas condições de financiamento. A CIMLT promete uma frota moderna com idade média inferior a três anos, 16 autocarros elétricos e uma redução dos custos ambientais. A frota atual na região tem, em média, 18,5 anos.
Também os preços dos passes serão ajustados. Prevê-se um passe urbano de 10 euros (para Santarém), um intermunicipal de 20 euros (válido em toda a Lezíria) e um passe para Lisboa a 40 euros, o que, segundo a CIMLT, promove maior competitividade e acessibilidade ao transporte público.
A empresa contará com um investimento inicial de 22 milhões de euros, com financiamento europeu e nacional. Azambuja participará com uma entrada de capital de 272 mil euros — cerca de 10% do total —, proporcional à sua população no contexto da CIMLT.
Divisão política em Azambuja
O vereador Rui Corça (PSD) em declarações ao Valor Local voltou a manifestar-se contra a adesão do município a esta empresa. Sublinha que “esta solução não resolve os problemas estruturais do concelho” e considera que a criação da empresa, a escassos dois meses das eleições autárquicas, “condiciona os futuros executivos municipais”. Para Corça, o modelo de governação — com base no peso populacional — não favorece Azambuja, que tem especificidades diferentes dos restantes concelhos. “A maior parte das ligações rodoviárias de Azambuja não são dentro da Lezíria, mas sim para sul e para Lisboa”, realça.
Corça defende que, em alternativa, Azambuja poderia estudar a criação de um modelo próprio de concessão, como fez o município de Cascais, que não integra a Carris Metropolitana. “A opção por ficar de fora da empresa é possível, desde que o município tenha capacidade técnica e visão para assumir a gestão autónoma dos transportes”, afirma.
Também Inês Louro, vereadora do Chega, em declarações ao nosso jornal, mostra-se crítica em relação ao projeto. Relembra que, quando questionado, o secretário executivo da CIMLT, António Torres, “admitiu que não está prevista uma melhoria significativa das rotas para Azambuja”. A autarca aponta ainda problemas anteriores com a aquisição de autocarros usados e critica o timing da proposta, “feita por executivos que podem já não estar em funções após outubro”.
A autarca defende soluções mais próximas das necessidades locais, como o regresso de transportes internos entre freguesias e uma melhor articulação com os horários ferroviários. “Temos pessoas que se deslocam do norte do concelho para fazer compras no Cartaxo ou em Rio Maior por falta de alternativas dentro do próprio território”, lamenta.
Vereador António José Matos vê vantagens no novo modelo
Já o vereador António José Matos (PS), vice-presidente da Câmara, defende o avanço com a constituição da empresa. Sublinha as vantagens de aderir ao programa “+Transportes”, que permite o acesso a fundos para investimento em bilhética, renovação da frota e modernização dos serviços. “Ao contrário do que se dizia anteriormente, agora vamos ter uma frota nova, com 75% dos veículos a estrear e com uma média inferior a três anos. Isto representa uma mudança radical face ao que tínhamos planeado em 2022”, destacou.
O autarca lembra ainda que o terminal de Santarém, já adquirido, é um ativo estratégico que ficará na esfera pública, independentemente do modelo de gestão que venha a ser seguido. “Mesmo que a exploração do serviço venha a ser feita por privados no futuro, essa infraestrutura continuará a servir o interesse público”.
Matos reforça que, com este modelo, o município garante acesso a financiamento para investimentos até 85% comparticipados, sem impacto significativo no orçamento municipal de 2025, e com efeitos mais relevantes a partir de 2026. “É um projeto que está pensado a longo prazo e que representa uma oportunidade para qualificar um setor que está há muito tempo estagnado”, conclui.
Decisão final segue para Assembleia Municipal
A proposta segue agora para votação na Assembleia Municipal de Azambuja, marcada para 31 de agosto, à semelhança dos restantes concelhos da CIMLT. A aprovação local é condição necessária para que a nova empresa possa ser formalizada e enviada para validação pelo Tribunal de Contas.