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Vila Franca Xira: Centros comerciais a definhar podem ser transformados em casas

É Natal, e se nalguns centros comerciais a efervescência natalina está ao rubro com milhares de pessoas a circular de um lado para o outro atafulhadas de compras, no concelho de Vila Franca de Xira, o comércio que se faz nalguns dos mais antigos shoppings mergulhou na decrepitude total há já muitos anos. Num dos últimos sábados de dezembro, havia lojas fechadas nos centros comerciais de Vialonga, no Scala em Alverca e no Galeria na Póvoa de Santa Iria. Recentemente a Câmara fez aprovar uma medida que visa isentar de Imposto de Transmissões Onerosas (IMT) quem queira adquirir estes espaços comerciais antigos para reconversão comercial ou mesmo transformação em apartamentos. Para a CDU esta medida traz água no bico e no fundo visará “favorecer alguém” na aquisição do encerrado Vila Franca Centro, deu conta o vereador Nuno Libório numa das últimas reuniões do executivo. “Era bom que fôssemos esclarecidos, mas não há interesse nisso por parte da Câmara”, referiu.

Zhao abriu a loja há poucos dias

Contudo é nestes centros comerciais que ainda se vai sentido algum espírito de bairro. Entrámos no Centro Comercial de Vialonga, em plena rua principal, onde a concorrência de supermercados cerca tudo e todos na atividade económica local. É o que nos dizem os comerciantes com quem falamos. Reparamos que surgem novas formas de estar quanto a ter uma porta aberta nestes centros comerciais. Muitos destes novos empresários não estão preocupados se entra mais ou menos gente interessada em comprar. No fundo alugaram uma loja para não estarem em casa todo o dia, e terem uma montra, porque o negócio a sério, referem, faz-se através das vendas online. É o caso de Zhao, uma comerciante asiática, que vende jóias de jade. No dia da nossa reportagem, a loja estava a funcionar há dois dias. Ainda não apareceram clientes na loja física. Diz que conseguiu alugar o estabelecimento por um preço razoável. Está em Portugal há 10 anos, e no centro comercial já conseguiu arranjar amizades – “São todos muito simpáticos”.

Carmen Ferreira espera que o panorama mude

Há muitos anos que Carmen Ferreira está ao balcão a vender ao público, mas faz dois anos que decidiu abrir o seu próprio negócio no Centro Comercial de Vialonga, depois de 16 anos empregada numa ótica. Foi um risco. O centro não traz novos clientes, e acaba por ser o espaço de compras das pessoas mais velhas da freguesia. Com uma loja de vestuário não esconde que a maioria dos clientes corresponde àquela faixa etária. “Só tenho praticamente as velhotas aqui da zona”, resume. O centro comercial “está morto” e nem sempre vale a pena “estar o sábado inteiro dentro da loja porque não compensa”. Diz não se arrepender de ter mudado de vida, até porque o ideal passaria por uma loja no exterior. Dá conta que está à procura de um novo espaço. “Não pretendo sair de Vialonga porque já criei uma afinidade com as clientes”.

Centros comerciais mais antigos atraem comerciantes imigrantes sem grande capacidade financeira

O Centro Comercial de Vialonga tem essencialmente pequenos negócios relacionados com estética, tecnologia, café e pouco mais. Novos imigrantes acabaram por abrir lojas aqui. É um princípio- as rendas são mais baratas do que na rua. Sabemos que as rendas podem não ir além dos 350 euros neste centro comercial. A visibilidade dos negócios é muito limitada, mas o passa palavra dentro das comunidades imigrantes faz daquela fraqueza uma força. Estamos a falar de cidadãos asiáticos ou brasileiros na sua maioria. Neste como noutros centros comerciais mais antigos temos lojas de telemóveis geridas por paquistaneses e outras onde se fazem as unhas das senhoras por cidadãs do Brasil. A beleza é negócio forte nestes centros, e a oferta de tratamentos proposta pelas lojistas brasileiras é muita. O espírito entre os comerciantes no centro comercial é bom entre colegas, e durante a nossa reportagem uns chamaram outros para virem falar para o Valor Local.

Manuel Costa é proprietário do café deste centro comercial há décadas. Reformado, se lhe oferecessem uma verba para a reconversão do centro ou transformação em habitação. era o primeiro na linha da frente para vender – “É preciso é que apareça o xuxu!”, graceja. O negócio está praticamente de rastos, e quanto a clientes “há de tudo um pouco”, mas quanto a centros comerciais em fim de linha em Vialonga este não é o único. “Aqui vamos vivendo, o Natal é como se não existisse para o comércio”.

Manuel Marta refere-se ao inferno dos supermercados

Com montra virada para a rua, Manuel Marta tem uma loja de venda e de arranjo de computadores. Com clientes certos desde o início, tem conseguido manter o negócio, e no seu entender “estas lojinhas e mercadinhos de bairro fazem muita falta”. Ao centro comercial vêm sempre as mesmas pessoas, e se num dia abre uma loja, noutro fecha a do lado. A rotatividade de negócios existentes impera. Poucos são os negócios que vão resistindo através dos anos, como a deste comerciante, que lamenta a falta de investimento da Câmara de Vila Franca ou da Junta de Vialonga, principalmente nesta altura do ano, em que as ruas da freguesia podiam estar iluminadas, mas essa aposta ficou por realizar. Mas principalmente é da opinião que a localidade tem mais supermercados do que o desejável para uma freguesia com 21 mil habitantes. “Já unidades bancárias e caixas de multibanco escasseiam”, declara. “Por exemplo conheço bem a zona de Olivais Sul em Lisboa com 30 mil habitantes onde estão dois supermercados, nós com menos população temos seis”.

Quando abriu o negócio há 20 anos, o centro comercial tinha mais vida, mas o comércio atingia mesmo o seu pleno era no exterior. Hoje nem dentro do centro comercial nem fora. Agora são os supermercados a ditar as regras! “Uma das críticas que tenho a apontar é que esta zona está muito degradada, somos uma espécie de caixote do lixo. Os passeios nem sequer existem nalgumas zonas e estacionamento nem vê-lo”.

Na Póvoa, Centro comercial Galeria é como entrar na máquina do tempo

Numa freguesia que tem recebido alguns dos investimentos imobiliários mais modernos, e com uma densidade populacional das maiores do país, o Centro Comercial Galeria, na Póvoa de Santa Iria, com dois andares, cheira a antigo por todos os lados. Uma tímida decoração natalícia com luzes, que se assemelham às que se compravam na nossa infância, vão dando as boas-vindas aos poucos ou nenhuns clientes que entram. Uma árvore de Natal de alguma dimensão tenta ser o centro da dignidade natalícia do centro comercial, onde mais parece que entrámos numa máquina do tempo e fomos transportados para a década de 80 ou de 90, seja pela arquitetura do espaço, seja pela atmosfera.

Quase que fechamos os olhos e imaginamos lojas antigas como clubes de vídeo, lojas de venda de discos, ou aquelas onde se revelavam fotografias tiradas com máquinas fotográficas das antigas. Estabelecimentos que possivelmente terão assentado arraiais ali numa época qualquer que já não regressa. Hoje todo o primeiro andar tem lojas fechadas, e no rés-do-chão o caso não muda muito de figura. No dia da nossa reportagem, num dos sábados que antecedem o Natal, não havia clientes. No café local, estavam três ou quatro pessoas, mas eram todas da mesma família. O centro comercial mais do que triste entrou numa depressão profunda há anos. A Câmara em 2015 pela mão do então vereador e atual presidente da autarquia, Fernando Paulo Ferreira, dava a conhecer ao Valor Local as obras da regeneração urbana na zona histórica da Póvoa onde se situa este centro comercial. O objetivo passava então por dar um novo “look” àquele núcleo urbano, sendo que a requalificação do Centro Cultural Fernando Augusto, orçada em 800 mil euros, foi um desses passos. Uma requalificação que podia catapultar também as compras na proximidade, mas não foi o que aconteceu.

Isabel Toste diz que em tempos o Galeria era Top

Aqui encontram-se estabelecimentos fechados de par em par. Alguns estão abertos de semana, mas ao sábado não compensa. É o que nos diz Isabel Toste que está à frente do café desde 2023, mas reside na Póvoa há 56 anos. “Este centro comercial há 32 anos era top”, não hesita em considerar esta comerciante que enquanto cliente viveu os anos dourados do Galeria. Existe um mais velho na Póvoa de Santa Iria e outros mais recentes, com mais ou menos vida, mas este é o que se encontra no rol da Câmara como passível de compra e respetiva isenção de IMT. “Nessa altura todas as lojas funcionavam e tínhamos quatro cafés”. De semana apenas quatro lojas estão de portas abertas, cerca de 25 estão fechadas. São muitas mais as que permanecem encerradas. Aqui ninguém quer vender, nem comprar. Quem se aguenta por cá é porque tem clientes fiéis ou porque as rendas são baratas.

Isabel Toste explica que para a degradação do centro contribuiu o facto não ter existido um rejuvenescer de clientes ao longo dos anos, muito deles, mais idosos, já faleceram e assim o centro também começou a entrar no coma progressivamente. Os seus clientes são sobretudo pessoas idosas. A maioria dos comerciantes é proprietária das lojas e possivelmente venderão o seu património de bom grado para possíveis projetos imobiliários de outra monta. O comércio na denominada “Póvoa velha é bastante desprezado”, o que conta “é a Póvoa nova”, diz.

Quanto ao seu negócio a proximidade dos supermercados também acaba por ser feroz – “As pessoas vão aos cafés do Pingo Doce ou do Continente e dizem que o pequeno-almoço é mais barato. Fica difícil conseguir competir com isto”.

Esta cabeleireira é uma das que está disponível para vender a loja se aparecer uma boa proposta

Ao lado, uma cabeleireira faz a conta a umas clientes que estão de saída, para logo a seguir começar a tratar do cabelo de outra. É enquanto lava os cabelos que nos dá a entrevista porque não tem muito tempo para ficar à conversa, vai avisando, embora de forma simpática. Há 30 anos a cuidar dos cabelos das clientes neste espaço, diz que são “as do costume”, que não a abandonam. Ficaram fidelizadas. “É mesmo muito difícil conseguir levar este centro comercial a bom porto”, repete insistentemente vencida pelo desalento. Na altura em que Guida começou, a vivacidade do espaço era outra. No seu caso “vai dando”. A loja é sua e está paga. Muitos outros espaços foram fechando ao longo dos anos. Já perdeu a conta aos que fizeram do local, negócio. Se lhe surgir uma proposta para aquisição do espaço, vende de imediato, não hesita em avançar. Sandra Silva é cliente da cabeleireira há anos. “Está tudo muito parado”. Frequenta o espaço há 26 anos, e só vem ao centro quando precisa de ir à cabeleireira apesar de morar perto. “Também sou cliente do café, mas pouco mais. Tenho pena do estado a que isto chegou.

No Scala os comerciantes não se encontram durante boa parte do tempo e funcionam sobretudo mediante marcação

No Scala em Alverca- “Não estou a ver como é que isto pode dar para habitação”

Na Avenida Infante Dom Pedro, em Alverca, também o Scala é uma sombra do passado. Encontram-se várias lojas para trespasse e outras fechadas com o número de telefone dos responsáveis. Quem ali chegue só tem de ligar e agendar um serviço, normalmente, são centros de estética e não só. Começaram a trabalhar apenas por marcação, porque tempo é dinheiro, e pagar renda, luz e água sem clientes dentro é mais prejuízo. No dia da nossa reportagem a loja de bicicletas de Luís Lopes era das poucas que permanecia aberta depois das 18h00 de sábado. Estabeleceu-se no Scala há dois anos e durante este período, refere, que a maioria dos colegas do centro não se consegue aguentar mais do que dois a três meses.

Luís Lopes diz que o centro está sempre a conhecer novos negócios

O centro comercial tem uma localização central, mas quase que não se dá por ele. Não seduz quem ali passa e os clientes, mais uma vez, são os do antigamente. Neste centro, a quase totalidade das 40 lojas estão ocupadas, praticamente todas de estética, geridas, algumas, também pela comunidade brasileira. As rendas a rondar pouco mais de 200 euros atraem estes comerciantes sem grande capacidade de investimento. Aqui cada lojista tem as suas regras, e preferem abrir quando dá mais jeito. “As pessoas não estão cá sempre!” Clientes a circular pelos espaços são poucos ou nenhuns. No seu caso tinha preferência pela rua, mas a localização no interior do Scala não é negativa para o negócio, pois é pela internet que angaria clientes. “Também não estou aqui a tempo inteiro”. Quanto à possibilidade de o centro servir para habitação diz não ter grande opinião, mas quando isso acontecer logo verá.

Rafaela Costa tem um gabinete de estética no Scala. A renda é compensadora. Paga 250 euros e há sete anos que está no centro comercial. O negócio não lhe corre mal porque as clientes são as de sempre. Durante a nossa abordagem considera muito estranho que algum dia o centro comercial possa vir a ser convertido em habitação. “Como é que vão fazer janelas aqui? Mais-valia que apostassem a sério na modernização disto, até um auditório temos aqui dentro, podiam trazer aqui os miúdos das escolas para assistirem a espetáculos, mas nem a Câmara nem a junta o utilizam”. O ambiente é familiar no centro. “Não sei qual a lógica de se fazerem casas aqui dentro. Parece-me pouco provável até porque estamos já dentro de um prédio. Não tem lógica nenhuma. Teriam de fazer obras muito grandes”, para além de que seria necessário negociar com os vários lojistas proprietários.

Um sábado de dezembro a poucos dias do Natal e zero movimento no Scala

Presidente da Câmara confiante no virtuosismo da medida

Esta medida, recorde-se, foi votada favoravelmente em reunião de Câmara, à exceção da CDU. Fernando Paulo Ferreira, presidente da Câmara, acredita que a sua aprovação pode trazer outra vida aos espaços, através da isenção de IMT temporária de 3 anos e meio com obrigação de apresentação de um projeto de requalificação do espaço. O objetivo passa por aparecerem privados que queiram comprar as lojas e as possam converter em espaços mais modernizados, ou o que é mais provável criar habitação, mudando por completo o seu interior.

Em causa estão os centros comerciais da Mina e Vila Franca Centro em Vila Franca, O Galeria na Póvoa, o Scala em Alverca e o Centro Comercial de Vialonga. Questionámos o autarca sobre possíveis abordagens com os proprietários destes centros comerciais, mas Fernando Paulo Ferreira prefere focar-se apenas naquilo que têm sido as reuniões com os antigos proprietários (85) do Vila Franca Centro , no fundo aquele caso que tem dado mais água pela barba ao município dado que ainda não foi possível chegar a acordo com quem ali tinha loja.

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