Aos 36 anos, completados em junho último, a comandante dos Bombeiros de Azambuja é um exemplo de integração na comunidade.
Thays Freixo, mais portuguesa que brasileira, como se define, chegou a Portugal em 2006, não que quisesse, mas por obrigação. Ao Valor Local explica que como menor, não teve outro “remédio”, senão deixar os amigos e o país que a viu nascer, e rumar ao desconhecido com a família à procura de uma vida melhor.
Em Portugal, construiu o seu núcleo de amigos e família. Casou com um português e é mãe de três crianças. Dois meninos com 4 e 9 anos e uma menina com dois anos e meio.
A nova comandante, antes de chegar onde chegou, passou por vários empregos. Cedo foi trabalhar para ganhar a vida e cedo descobriu a sua vocação: “Ajudar os outros”. Engane-se quem pense que tudo foi um “mar de rosas”. Conta Thays Freixo que saiu da sua zona de conforto, para uma outra completamente diferente, onde a cultura é mais “fechada e fria”, ao contrário do Brasil, onde o comportamento da sociedade é mais “caloroso”.
A chegada a Portugal foi complicada. “Os primeiros meses aqui foram difíceis, até que decidi que tinha de fazer alguma coisa, ou ia estudar ou trabalhar”, conta Thays, que refere não ser pessoa de ficar quieta a ver passar, como dizemos por cá, “a banda”. Preferiu ir trabalhar porque estudar implicava questões burocráticas quanto a equivalências.
Recorda o primeiro emprego num restaurante no Vila Franca Centro. Estava em Portugal há cinco meses e tinha conseguido aquela que seria a sua primeira âncora financeira. No entanto nada foi fácil para esta imigrante que chegou a trabalhar 12 horas por dia “e sem descanso”. “Comeceu a trabalhar aos 17 anos e quando completei os 18 não quis outra coisa”. “Continuei sempre a trabalhar. Procurei outras áreas, procurei outros trabalhos e tentei fazer algumas formações, alguns cursos, mesmo para tentar evoluir na escola daqui também”.
Mas apesar de conseguir empregos com relativa facilidade, revela que o processo nem sempre foi pacifico. Teve altos e baixos. Do restaurante a uma sapataria, foi um pulinho. Fez reposição de loja “e depois tudo que o realizei a partir daí foi nessa área”.
A chegada aos bombeiros, onde hoje é comandante fez-se quase de forma natural. Em 2013 quis fazer um curso de primeiros socorros, mas não existia vaga na Cruz Vermelha. Tentou os bombeiros na Castanheira do Ribatejo, mas como as turmas estavam fechadas acabou por ingressar no corpo de bombeiros de Azambuja.
Recorda Thays, que os seus primeiros dias foram de recruta com o então comandante Armando Batista. Em Azambuja, fez o curso em horário pós-laboral e daí a fazer vida no socorro, foi apenas uma questão de vocação, como refere aliás, Thays Freixo, salientando que a sua missão é ajudar as pessoas.
Ainda assim, sublinha que a profissão tem os seus desafios. Agradece ao anterior comandante Ricardo Correia que a promoveu à época a adjunta, e sublinha que “hoje, só é bombeiro quem gosta do que faz”. “Não há carreira, não temos valor financeiro, mas o meu gosto vem daí, vem da parte de todos os dias levantar e poder fazer algo diferente, ou tentar ajudar alguém, seja de que forma for”, sublinha Thays Freixo que se declara bem recebida pelo restante corpo de bombeiros na sua nomeação e promoção dentro dos Bombeiros de Azambuja, agradecendo o apoio da direção agora dirigida por António José Matos, depois da saída do anterior comandante Ricardo Correia para o comando dos Bombeiros de Loures.
A imigrante, destaca que nunca ambicionou o lugar de comando. Mas apesar das incertezas quanto ao lugar, Thays disponibilizou-se a continuar o legado deixado por Ricardo Correia que na sua opinião “é um homem que tem que voar muito alto porque ele merece bastante”.
Thays reconhece que o desafio é diferente, mas a responsabilidade é maior. “Hoje em dia um comandante tem que ter uma costela de gestor, uma costela operacional, e uma costela amiga”. Um desafio que promete honrar, com o apoio do corpo de bombeiros e com o foco na comunidade.