O presidente da Associação Sindical de Chefias do Corpo da Guarda Prisional, Hermínio Barradas, em declarações ao Valor Local teme que os mais prejudicados com o caso da fuga dos cinco reclusos de Vale de Judeus sejam os guarda prisionais, convertidos “numa espécie de bode expiatório” do escândalo que está a abalar o país, e compara mesmo ao caso Sócrates em que o motorista “é que levou com as culpas”. As palavras de Rita Júdice, ministra da Justiça, não caíram bem entre a associação, e lembra que logo após a tomada de posse, a governante foi informada “que algo de muito negativo” podia acontecer no setor, dada a falta de meios e de apoios do Governo. “Não nos revemos no discurso de que houve desleixo, facilitismo e falha de comando”, refere. “Se calhar tem de rever as palavras para não entrarmos num discurso que não interessa a ninguém”.
Na sua opinião o caso de Vale de Judeus deveria fazer cair também outras áreas do ministério da Justiça, nomeadamente, incluir ainda a demissão do diretor geral das prisões. No caso desta cadeia no concelho de Azambuja lembra que o passado está repleto de decisões mal tomadas que levaram aos dias de hoje – “Decidiram em 2015 retirar as torres de vigia, e até hoje não foram repostas”. Por outro lado “o Estado imbuído de uma cegueira ideológica não quer aumentar o número de chefes de guardas prisionais”. O corpo da direção geral deveria contemplar 526, quando apenas dispõe de 260 com uma média de idades de 57 anos. Vale de Judeus tinha 15, e agora conta apenas com cinco.
Principais responsáveis de Vale de Judeus não se encontravam na cadeia
O responsável fala numa série de condicionantes em Vale de Judeus, que precipitaram o quadro geral. Primeiramente, ainda não foi nomeado um novo diretor “mas a ministra já o devia ter feito”; o adjunto “está ausente não sei se de férias, se de baixa”; “o comissário está de baixa há mais de um ano”; e “o chefe principal de férias no estrangeiro”. Em conclusão “os guardas prisionais estão sem saber a quem hão de ligar, porque não conhecem os protocolos, como o da reação a fugas que é mais confidencial (acessível apenas aos chefes de guardas prisionais) porque não tiveram formação”. No passado sábado estavam 33 guardas de serviço e dois com função de chefia. A casa estaria ao deus dará, ou quando muito “ninguém sabia muito bem quem fazia o quê” por estes dias nesta cadeia em Alcoentre. Esta é uma situação que se repercute noutros estabelecimentos prisionais do país.
Por outro lado, o facto de as cadeias portuguesas estarem a receber nas últimas décadas presos estrangeiros dos mais procurados nos seus países como é o caso de Rodolf José Lohrmann, “El Ruso”, 59 anos, condenado a 18 anos e 10 meses pelos crimes de associação criminosa, furto, roubo, falsas declarações e branqueamento de capitais; e um dos mais procurados na Argentina, tendo estado na origem do desaparecimento do filho de um antigo ministro deveria fazer redobrar os cuidados no sistema prisional português. Hermínio Barradas duvida que seja possível com o Código de Penas atual e o com o edificado atual.
O dirigente fala numa carreira pouco atrativa, desprestigiante a nível social, com ordenados baixos e imprevisibilidade de horários, e inexistência de progressão na carreira.
