No centro de saúde de Azambuja quem liga para marcar uma consulta “é fortemente aconselhado a agendar o seu ato de saúde para os médicos do Bata Branca”, em detrimento da teleconsulta. O alerta foi deixado pelo vereador do PSD, Rui Corça, na última reunião de Câmara. O Valor Local deu conta em várias reportagens levadas a cabo durante o ano de 2024 do sucesso das teleconsultas a decorrer nos concelhos de Vila Franca, Benavente e Alenquer que com Azambuja e Arruda dos Vinhos integram o mesmo território e a mesma gestão da Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo. Estes concelhos são deficitários em médicos de família e este serviço de comunicação entre utente e médico através de um ecrã tem sido uma das formas que a ULS tem levado a cabo para fazer face a esta deficiência.
No início da implantação do programa, este foi logo do agrado da população de Azambuja, pelo que pudemos testemunhar, que a juntar às consultas do programa Bata Branca, realizadas em horário pós-laboral no centro de saúde de Azambuja e noutras extensões de saúde do concelho, tinha à sua disposição mais um serviço. Contudo e segundo o que apurámos a teleconsulta está hoje confinada a apenas um dia por semana, porque não motivou procura. Uma utente confidenciou ao Valor Local que ao marcar consulta, nos últimos meses do ano passado, nunca lhe foi referido pela unidade de saúde de Azambuja que podia ter acesso à teleconsulta, pelo que teve de esperar dois meses até ser consultada no Bata Branca que apesar de contar com vários clínicos de serviço, acabam por não chegar para as encomendas. “Nunca me falaram da teleconsulta, até podia ter aceitado, no fundo só precisava que me passassem exames e escusava de estar tanto tempo à espera”.
Vereador deu conta do alegado modus operandi
Rui Corça explicou o estado de coisas: “Neste momento, e pelo que sei as duas modalidades estariam disponíveis. As consultas do Bata Branca realizam-se em horário pós-laboral o que leva a que a grande maioria das pessoas prefira o modelo das teleconsultas, por aquilo que me é dado a perceber em conversa com vários munícipes que expressaram o seu desagrado. O que se passa é que as pessoas ligam para o centro de saúde para marcarem uma teleconsulta e são fortemente encaminhadas para o Bata Branca por parte dos funcionários que fazem este atendimento. As pessoas nem sempre têm a melhor argumentação e acabam por ceder. Nada disto é muito regular”.
Recorde-se que este projeto do Bata Branca gerido pela Cerci Flor da Vida está implantado desde 2023 face à falta de médicos de família no concelho, uma situação que afeta 90 por cento da população. Proporcionou ao longo do ano passado 11 524 consultas médicas realizadas. A Câmara Municipal de Azambuja totalizou um investimento de 59 mil 897,50 euros do seu orçamento para um programa que podia ter sido gerido, de outra forma, e não ter afetado neste grau os cofres da autarquia.
Quer o presidente da Câmara de Azambuja, quer Ana Coelho, vereadora da Saúde, afirmaram-se desconhecedores da situação. A autarca afirmou que não se pode privilegiar uma modalidade à outra e que dará conta desta problemática à ULS. Este é um tema que estará em cima da mesa na Grande Entrevista que o Valor Local vai efetuar em fevereiro com Carlos Andrade Costa, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo.
