O seu filho não come? Come sempre os mesmos alimentos? Não aceita alimentos novos? É “esquisito” a comer? Só come se for distraído, por exemplo com o telemóvel ou tablet? Engasga-se com frequência a beber ou a comer? A hora da refeição é uma batalha? Se se identifica com estas questões, está na hora de pedir ajuda. A hora da refeição deve ser tranquila e prazerosa, tanto para as crianças como para os pais. Sim, isso é possível. Procure ajuda de um profissional especializado. O Terapeuta da Fala pode ajudar-vos!
No dia 6 de março, assinala-se o Dia Nacional do Terapeuta da Fala, o profissional responsável pela prevenção, avaliação e intervenção na área da Comunicação, Linguagem, Fala, Voz, Motricidade Orofacial e Alimentação. Sim, leu bem, o Terapeuta da Fala é especializado em funções orais, nomeadamente, sucção, mastigação, deglutição e respiração.
Crianças com seletividade alimentar têm uma alimentação persistentemente restritiva, evitando experiências novas, recusando determinadas consistências, texturas, sabores ou cores. Geralmente preferem alimentos processados, como batatas fritas de pacote e bolachas, porque apresentam sempre as mesmas características. Uma laranja, por exemplo, pode ser mais ou menos doce. O não conseguir prever como será o sabor da laranja pode causar ansiedade e medo e por isso a criança prefere não experimentar.
As dificuldades alimentares têm sido uma preocupação crescente tanto para pais e familiares, como para profissionais. Já em 2019 os hábitos alimentares inadequados estavam entre os 5 fatores de risco que mais determinam a perda de anos de vida saudável e a mortalidade, segundo o Global Burden Disease. O Institute for Health Metrics and Evaluation prevê que em 2030 a percentagem de óbitos por hábitos alimentares inadequados seja de 13,8%, ultrapassando os óbitos por tabagismo que será de 11,1%.
A seletividade alimentar, pode afetar não só a saúde física, mas também o desenvolvimento motor, social e emocional da criança. Uma alimentação pouco variada pode levar a uma carência de nutrientes essenciais para a saúde e crescimento das crianças. Segundo o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável de 2023, a alimentação inadequada é uma das principais causas das doenças crónicas não transmissíveis, tais como a obesidade, doenças oncológicas, doenças cérebro-cardiovasculares e a diabetes mellitus tipo 2.
Pode condicionar também o desenvolvimento das estruturas Orofaciais, assim como as suas funções – Sucção, Fala, Mastigação, Respiração e Deglutição.
Quer acabar com o campo de batalha na hora das refeições? Deixamos 5 dicas para que o seu pequeno dê tréguas
Comam em família. Comer é uma atividade social, um momento de partilha e aprendizagem por imitação. Fortalecem-se laços, estimula-se a interação e ao mesmo tempo ensina-se a criança a comer;
Crie uma rotina para antecipar o momento da refeição, dando segurança à criança e preparando-a para o ato de comer. Pode por exemplo arrumar os brinquedos, pôr a mesa ou lavar as mãos;
Reduza as distrações, como a televisão, tablet ou telemóvel. É importante que a criança se concentre na alimentação, só assim consegue identificar quando é que tem fome ou está saciado.
Deixe o seu filho explorar os alimentos. Conhecer os alimentos através do olhar, toque ou olfato dá-lhe mais segurança. Percebendo a consistência dos alimentos, apertando-os, permite-lhe prever o que deve fazer com aquele alimento dentro da boca, como o deve trincar e que força deve fazer para o mastigar.
Sejam verdadeiros chefs na cozinha, deixe-o participar na preparação das refeições.
A natureza complexa da seletividade alimentar exige um olhar holístico de vários profissionais. Não são raras as vezes em que estas dificuldades estão associadas a doenças, alterações sensoriais, sociais ou emocionais. Neste âmbito, torna-se crucial um trabalho de equipa multidisciplinar entre Terapeutas da Fala, Nutricionistas, Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais e Médicos. Não nos podemos esquecer que as pessoas que fazem parte do dia a dia da criança, têm um papel importante no processo Terapêutico. São elas que estão presentes na hora das refeições e que deve colocar em prática as estratégias elaboradas pelos profissionais.
Com um olhar cuidadoso, intervenção precoce, trabalho em equipa e paciência é possível proporcionar uma maior aceitação alimentar e uma relação saudável com a comida ao longo da vida.
Terapeuta da Fala, Susana Evaristo – Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo