João Nicolau, candidato do PS à Câmara de Alenquer, defende que o ciclo socialista no concelho “não está esgotado” e que a renovação se faz “mandato a mandato, pessoa a pessoa”. Numa entrevista ao Valor Local, o atual deputado da Assembleia Municipal colocou a fasquia na “proximidade” e nas áreas que considera pilares: educação, saúde, ambiente e mobilidade. Sem notas para o desempenho do ainda presidente Pedro Folgado, Nicolau admite, porém, que “cada equipa imprime a sua dinâmica” e que a marca “Alma do Vinho” “colocou Alenquer no mapa”. “Agora é preciso colocar as pessoas de Alenquer no mapa”, vinca, num piscar de olho à qualidade de vida.
No urbanismo, admite falhas e promete uma “via verde de licenciamento para habitação”. Reconhece processos “complexos e demorados” e fala em reforço de meios “humanos e materiais”. “Há vagas por preencher, é difícil recrutar engenheiros civis e arquitetos, e faltam condições de trabalho.” Questionado sobre queixas de munícipes quanto ao atendimento, assume o problema: “O cidadão é o nosso patrão e cliente. Temos de resolver.” Sem calendário nem metas de prazos, a proposta fica no plano das intenções.
Habitação: ““Hoje, dois trabalhadores não conseguem comprar ou arrendar em Alenquer. O município tem de intervir.”
A habitação é outro eixo. O acordo com o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) para alojar 21 agregados soa-lhe “escasso”. Quer desbloquear operações de loteamento, acelerar licenças e “usar terrenos municipais para cooperativas” ou promover habitação acessível diretamente pela autarquia. Não apresenta números sobre quantas famílias carecem de resposta social, preferindo recentrar no custo da casa para a classe média: “Hoje, dois trabalhadores não conseguem comprar ou arrendar em Alenquer. O município tem de intervir.” Fica por esclarecer quantas casas, onde e com que financiamento.
(Ouça a entrevista na íntegra ao candidato do PS à Câmara de Alenquer, João Nicolau)
Sobre imigração, rejeita alarmismos. “Vejo muita imigração integrada a tentar fazer a sua vida.” Sobre atestados de residência, lembra que a competência é das freguesias, “com base em testemunhas e denúncia às autoridades quando necessário”, garantindo que existe articulação entre a Junta do Carregado e as forças policiais. Acusa a oposição de “desconhecer competências” e afasta a ideia de que a Junta seja polícia administrativa.
Água vai voltar a ser pública e gerida de forma mais eficiente
Na água e saneamento, retoma a bandeira da remunicipalização pós-2033. Garante existir “memorando de entendimento” com a concessionária e um “estudo aprofundado” para baixar tarifas e atacar perdas de rede, embora este ainda não tenha sido apresentado conforme chegou a ser anunciado. “Alenquer paga mais 200 euros/ano por 10 m³ face a Vila Franca. Não é justo.” Sem divulgar valores de investimento nem troços prioritários, promete começar pelas zonas com rede mais antiga e com mais ruturas, além de reabilitar estações elevatórias e de bombagem. Admite a eficiência da empresa privada, mas sublinha: “Uma taxa interna de retorno de 13% é margem que, numa empresa municipal, pode virar investimento.”
No aterro da ProResi na Ota, distingue-o de outras infraestruturas polémicas na região. “É uma instalação certificada; não é uma fábrica de bolachas e tem impactos, mas há mitigação.” Aponta a captação e queima de biogás nas células encerradas como medida para reduzir odores e assegura inspeções regulares. Quanto ao horizonte de 2035, é taxativo: “Fecha quando esgotar a capacidade, seja 2035 ou 2100”, posição que, sendo transparente, não responde à fadiga das populações com o tráfego pesado e episódios de maus cheiros.
Candidato quer operar a mudança em novas formas de mobilidade
Na mobilidade, promete um “programa contínuo” de requalificação da rede municipal, mais passeios e ligações ciclopedonais. Sobre a ciclovia Carregado-Tejo, admite que “a obra ainda não arrancou”, embora exista financiamento e empréstimo aprovado para a 1.ª fase. Quer “uma nova circular no Carregado” para aliviar o centro, assumindo que isso exige projeto técnico e cooperação com a Infraestruturas de Portugal: “As relações fazem-se com trabalho e projetos em cima da mesa.”
No caso Santos e Vale, diz ter-se sentido “enganado” pelo estudo de tráfego que “não correspondeu à realidade”. Não perde tempo com retrospetivas: “Interessa resolver.” O traçado previsto poderá integrar uma futura variante. Sobre eventual comparticipação da empresa, promete “avaliar com o proprietário”. A tensão entre expansão industrial e qualidade de vida reaparece no PDM: Nicolau afirma que todo o processo tem passado por comissões com representação partidária plural e que “zonas habitacionais devem ser protegidas”, reservando “grandes unidades” para fora das localidades. Não define distâncias mínimas nem alternativas concretas, insistindo que o eixo Alenquer-Carregado é “preferencial” para atividade económica. Para o interior do concelho, advoga “pequenas bolsas” para serviços e ofícios.
Nicolau diz que é tempo de olhar para a Chemina como um local de serviços da Câmara. Sonho do Hotel pode estar morto
O dossiê Chemina, quartel-general de promessas falhadas do PS, muda de destino no seu plano: “A ideia de hotel morreu. O edifício deve servir os munícipes.” Propõe concentrar serviços públicos, criar um polo de apoio à atividade económica, cowork e até um novo auditório, reconhecendo tratar-se de investimento “para além de quatro anos” e dependente de projeto e financiamento.
Na saúde, pede continuidade e afinação: dois novos centros de saúde (Olhalvo e, em obra, Abrigada) são, para si, passos certos. Lembra que a USF de Alenquer “tem o quadro completo” e defende multiplicar o modelo: “As USF são atrativas para médicos; cabe ao município criar condições e promover a sua constituição.” Não fecha a porta a incentivos municipais, mas prefere falar em infraestruturas, organização e prevenção da doença.
Entre promessas de método e foco no essencial, a entrevista deixa claros os nós a desatar: prazos no urbanismo, metas quantificadas para habitação, calendário e valores para o investimento na rede de água, e um plano de mobilidade que saia do papel. Nicolau reclama crédito pelas marcas do ciclo PS e oferece-se como o rosto da “renovação pela continuidade” — com ambição declarada.