Em Azambuja, a tradição do Pão por Deus continua a percorrer as ruas, reinventada mas viva. Já não é como antigamente, quando as crianças iam sozinhas, com o saco de pano na mão, bater às portas. Hoje circulam em pequenos grupos, muitas vezes acompanhadas pelos pais ou irmãos mais velhos, ou vizinhos, e muitas vêm mascaradas de Halloween — bruxas, vampiros, esqueletos — misturando duas tradições que passaram a conviver na mesma rua.
Há também rostos e sotaques novos. As crianças de famílias imigrantes, sobretudo brasileiras, aderiram com entusiasmo. Valery, que vive em Azambuja há dois anos, contou que no Brasil não existia nada semelhante, mas que aqui “é engraçado e toda a gente participa”. O irmão mais novo, Gabriel, surpreendeu ao afirmar na entrevista que gosta mais do Pão por Deus do que do Halloween — prova de que a tradição se entranha e passa a ser também deles.
Nem todas as portas se abrem como antes, dizem os mais velhos, mas a maioria ainda responde com guloseimas, bolinhos e sorrisos. O Pão por Deus resiste porque se adapta: hoje tem máscaras, pais a acompanhar, telemóveis a fotografar e até novos residentes em Azambuja a participar. Mas no essencial continua igual — bater à porta, agradecer e sentir que nesta terra as tradições ainda se passam de mão em mão.









Recordo-me há 70 anos, no tempo da fome, na Freguesia de Aveiras de Cima e nos respectivos bairros o pão por deus era efectuado à base da apanha do rabisco, uvas, frutas diversas, hortícolas e no porta à porta onde se aproveitava tudo o que nos dessem, incluindo roupas já que a maioria das crianças andava com roupas rasgadas, mas limpas, e descalças! Dependia do local mas a maioria dos pequenos grupos era composto por familiares, nomeadamente irmãos, já que naquele tempo as famílias eram numerosas! Apesar da pobreza nesse dia éramos felizes, as pessoas com melhores posses eram muito solidárias!