Paulo Núncio, candidato do CDS-PP à Câmara de Vila Franca de Xira, garante que entra na corrida “com listas próprias” e com a ambição de “pegar os problemas com coragem”, como repetiu várias vezes na entrevista à Rádio Valor Local. Antigo deputado municipal, hoje deputado da AD, diz conhecer “bem o concelho” e assume conforto na rutura com o PSD: “Sinto-me muito confortável em ir em listas próprias do CDS, porque permite defender princípios e bandeiras que muitas vezes são diferentes das do PSD.” Sobre a aproximação local entre PSD e Iniciativa Liberal, sustenta que “as pessoas desconfiam dessa coligação porque temem que a ação social fique para trás”.
A matriz social-cristã é o cartão-de-visita. “O CDS representa a direita social. Num concelho com graves carências, apoiar IPSS que cuidam de idosos, crianças, famílias em dificuldade e pessoas com deficiência é prioritário.” Núncio promete reforço do apoio municipal ao terceiro setor e recorda que a Carta Municipal da Habitação “foi proposta pelo CDS e aprovada por unanimidade, mas ficou na gaveta por responsabilidade exclusiva do executivo PS”.
(Ouça a entrevista na íntegra a Paulo Núncio, candidato do CDS-PP)
Na habitação, alinha com medidas nacionais — “isenção de IMT para jovens e garantia de financiamento a 100%” — e atira à Câmara: “Detém cerca de nove centenas de imóveis, muitos devolutos e degradados. Podiam ser recuperados para rendas acessíveis e nada foi feito.” Quanto ao terreno da antiga Escola da Marinha, considera a compra “muitíssimo excessiva” e propõe “alienar uma parte para amortizar o investimento”, reservando o restante para “funções sociais, áreas verdes, desporto” e até “uma escola superior de Enfermagem”, para responder à falta de profissionais de saúde.
Fim da PPP foi “cegueira ideológica”
A saúde é apresentada como prioridade política e municipal. “Há 47 mil utentes sem médico de família. A Câmara pode e deve ceder casas de função a médicos e professores para os atrair”, defende, assumindo que os incentivos devem ser “competitivos” na Área Metropolitana de Lisboa. Sobre o hospital, saúda o regresso da gestão em PPP: “Quando foi PPP, o hospital prestava serviços de muita qualidade. O fim foi cegueira ideológica. O regresso é uma ótima notícia para os vilafranquenses.”
Na mobilidade e urbanismo, mostra reservas ao projeto Vila Rio, na Póvoa de Santa Iria: “Levanta dúvidas em acessibilidades — só há uma ponte de acesso — e quanto ao risco de cheias. Se não houve planeamento, será um escândalo.” Pede contrapartidas claras na quadruplicação da Linha do Norte, “em particular para Alhandra”, e acusa o município de falta de pressão junto da Infraestruturas de Portugal nos nós dos Caniços e do Sobralinho: “Resultados muito insuficientes.”
A higiene urbana é apresentada como “problema número um”. “O concelho está mais sujo do que alguma vez esteve. Falta de contentores, recolhas que demoram mais de uma semana, pragas de baratas e ratos. É inaceitável.” Propõe uma auditoria funcional aos serviços e recolha “sete dias por semana”, articulada com uma futura Polícia Municipal “também com funções de fiscalização”.
No plano fiscal, promete baixar impostos. “Queremos devolver 5% do IRS cobrado pela Câmara: 300 euros/ano por família que paga IRS, cerca de 30 mil agregados. Só o saldo anual de 21 milhões de euros paga a medida.” Defende eliminar a derrama para “atrair investimento e empregos de valor acrescentado”, apostando em empresas tecnológicas e no cluster aeronáutico “em torno da OGMA”. Aos críticos que veem populismo, responde: “Fizemos as contas. Menos impostos nos cofres da Câmara, mais dinheiro nos bolsos das famílias.”
Dossiê do Vila Franca Centro tem de ser mais transparente
Quanto a eventos, reafirma o apoio à tauromaquia: “O CDS sempre esteve e estará ao lado da festa brava.” Sobre gastos municipais, pede avaliação “caso a caso” e transparência. No dossiê Vila Franca Centro, considera precipitado o município tornar-se gestor do espaço, mas exige abrir “de imediato” o estacionamento: “É um escândalo manter dezenas de lugares fechados quando há tanta carência.”
Na educação, quer “plano integrado de recuperação do parque escolar”, reforço de vagas no pré-escolar e “casas de função” para professores. Sobre a transferência de competências, concorda que foi “mal conduzida pelo PS” e promete “retificação com mais recursos do Orçamento do Estado e pela Lei das Finanças Locais”, incluindo “maior participação dos municípios no IVA cobrado no concelho”.
Imigração ilegal tem de ser combatida
A imigração é lida por Núncio com divisão entre integração e controlo: “Quem cumpre as regras é bem-vindo; a imigração ilegal tem de ser combatida.” Pede “maior rigor” na emissão de certificados de residência pelas juntas, para travar sobrelotação e riscos de saúde pública.
Politicamente, rejeita a ideia de um CDS eclipsado: “O CDS está no Governo da República, na Madeira, nos Açores e nas câmaras de Lisboa e Porto. Somos a direita social com sentido de Estado.” E deixa a promessa-síntese para 12 de outubro: “Uma Câmara mais eficiente, menos gastadora e mais próxima — com impostos mais baixos, serviços a funcionar e prioridades claras em saúde, habitação e limpeza.”